Viúva de Khashoggi "desapontada" com Trump (e quer reunião com príncipe)
- 19/11/2025
A viúva do jornalista Jamal Khashoggi, Hanan Elatr Khashoggi, assumiu ter ficado "desapontada" com as declarações do presidente norte-americano, Donald Trump, que considerou que o dissidente saudita era uma pessoa "extremamente controversa", durante um encontro com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, na terça-feira.
"[O homicídio] destruiu a minha vida. Virou a minha vida de 'pernas para o ar'", disse Elatr Khashoggi, em declarações à CBS News.
Ao descrever o "inferno de sete anos" pelo que tem passado, a viúva apontou que, mesmo que o seu marido fosse "controverso", isso não daria a ninguém o direito de "raptá-lo, torturá-lo, matá-lo e desmembrar o seu corpo".
"Magoou-me muito. Também está a tirar a liberdade dos jornalistas de fazerem o seu trabalho. [...] Qual é a diferença entre os Estados Unidos e qualquer ditadura num país do Médio Oriente?", questionou.
Elatr Khashoggi recordou ainda que, numa entrevista ao programa 60 Minutos, em 2019, bin Salman assumiu responsabilidade pelo assassinato do jornalista enquanto líder da Arábia Saudita.
"Admitiu verbalmente, assumiu a responsabilidade verbalmente, mas não tomou nenhuma medida para mostrar ao mundo que há uma correção. Não recebi um pedido de desculpas oficial como esposa, uma vez que destruíram a minha vida. Levaram o meu amado", salientou.
A viúva mostrou-se também disponível para se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, tendo descrevendo o marido como "um grande homem, um grande profissional e corajoso", de acordo com a Sky News.
Do mesmo modo, Elatr Khashoggi indicou que gostaria de se encontrar com o herdeiro saudita, por forma a "pedir-lhe para recuperar o corpo de Jamal, para que possa enterrá-lo de uma forma digna e adequada", assim como uma compensação financeira.
"Não há justificação para assassinar o meu marido. Embora Jamal fosse um homem bom, transparente e corajoso, muitas pessoas podem não ter concordado com as suas opiniões e desejo de liberdade de imprensa. O príncipe herdeiro disse que lamentava, por isso deveria encontrar-se comigo, pedir desculpas e compensar-me pelo assassinato do meu marido", escreveu a viúva, na rede social X (Twitter).
@potus There is no justification to murder my husband. While Jamal was a good transparent and brave man many people may not have agreed with his opinions and desire for freedom of the press. The Crown Prince said he was sorry so he should meet me, apologize and compensate me for…
— Mrs Hanan Elatr Khashoggiحنان العتر خاشقجى (@hananelatr) November 18, 2025
Recorde-se que esta foi primeira deslocação do príncipe saudita aos Estados Unidos desde 2018, ano em que o jornalista e dissidente saudita Jamal Khashoggi foi torturado e esquartejado no consulado saudita em Istambul.
Na Casa Branca, o príncipe saudita classificou o homicídio do antigo colunista do jornal The Washington Post como "um grande erro", mas ressalvou que as autoridades investigaram o caso minuciosamente e que um crime como este não se repetirá.
"É doloroso, é um grande erro e estamos a fazer tudo o que podemos para garantir que não volta a acontecer", disse, na Sala Oval.
Trump, por sua vez, defendeu bin Salman das acusações da CIA, que concluíram, na altura, que o herdeiro aprovou o assassinato, tendo em conta a sua omnipotência sobre o aparelho de segurança do reino, apesar de ter negado o seu envolvimento desde o início.
"Ele não sabia de nada, e podemos ficar por aqui. Não temos de envergonhar o nosso convidado com estas perguntas", disse, atirando que Khashoggi era uma pessoa "extremamente controversa".
Antes, o chefe de Estado indicou que tanto ele como bin Salman têm muito orgulho mútuo pelo trabalho realizado em matéria de direitos humanos e que estiveram "sempre do mesmo lado em todas as questões".
"Temos um homem muito respeitado na Sala Oval, um amigo de longa data, um grande amigo meu. Temos muito orgulho um no outro quando se trata de direitos humanos e tudo o resto", assegurou.
Saliente, contudo, que várias organizações de defesa dos direitos humanos têm vindo a denunciar a deterioração da situação na Arábia Saudita, dando conta do aumento das execuções e da repressão da liberdade de expressão.
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