Violência marca eleições em Myanmar, acusa a ONU
- 23/12/2025
"As autoridades militares em Myanmar (ex-Birmânia) devem parar de usar violência brutal para forçar as pessoas a votar e parar de prender aqueles que expressam opiniões divergentes", disse o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, em comunicado.
Segundo as Nações Unidas, tanto o regime militar como os grupos armados de oposição ao exército intensificaram a violência, a repressão e a intimidação antes das eleições, que serão realizadas por fases, sem a participação de uma oposição democrática representativa.
A junta militar birmanesa, que tomou o poder num golpe de Estado em fevereiro de 2021, deteve dezenas de pessoas ao abrigo de uma "lei de proteção eleitoral", incluindo três jovens que foram condenados a penas de até 49 anos de prisão por pendurarem cartazes em Rangum a apelar ao boicote das eleições, segundo a ONU.
Os militares ameaçam ainda os deslocados internos com ataques aéreos e confiscam os seus bens caso não regressem aos seus locais de origem para votar.
"Obrigar os deslocados a regressar de forma insegura e involuntária é uma violação dos direitos humanos", declarou Türk.
O Alto Comissário observou que parte da população enfrenta também ameaças de grupos armados opositores à ditadura, que pretende os impedir de votar.
"Estas eleições estão claramente a decorrer num ambiente de violência e repressão (...). Não existem condições para o exercício dos direitos à liberdade de expressão, de associação ou de reunião pacífica que permitam a participação livre e significativa da população", afirmou Türk.
A primeira fase das eleições, que será realizada em 102 dos 330 municípios do país --- incluindo Rangum e Naypyidaw --- está marcada para começar em 28 de dezembro, enquanto as duas fases restantes serão realizadas em 11 e 25 de janeiro.
Os militares justificaram a tomada do poder alegando fraude maciça nas eleições de novembro de 2020, nas quais o partido da Prémio Nobel da Paz birmanesa, Aung San Suu Kyi, venceu por larga margem, com a aprovação de observadores internacionais independentes.
Suu Kyi está presa desde o golpe, e o seu partido, a Liga Nacional pela Democracia, foi declarado ilegal.
O golpe militar terminou com uma década de transição democrática e agravou o conflito que assola Myanmar há décadas, com o surgimento de militantes pró-democracia que, por vezes, unem forças com grupos rebeldes de minorias étnicas.
Leia Também: Junta militar de Myanmar acusa 229 pessoas por perturbar processo eleitoral













