Ventura teria "alguma dificuldade" em receber Lula da Silva em Belém
- 30/11/2025
Em entrevista à agência Lusa no âmbito das eleições presidenciais de 18 de janeiro, André Ventura disse que se sentaria à mesa com Lula da Silva, uma vez que seria uma obrigação diplomática, mas "teria alguma dificuldade" em recebê-lo no Palácio de Belém.
"Se estivesse em causa o Estado português, as empresas portuguesas e as comunidades portuguesas, e se tivesse que o fazer, fá-lo-ia, mantendo esta lógica, que não gosto muito de estar com ladrões. Ele próprio também não deveria muito querer estar comigo", considerou o também líder do Chega.
"Isso é uma coisa, outra é as relações entre Estados, que têm que ser respeitadas, quer as empresas brasileiras que estão em Portugal, quer as empresas portuguesas que estão no Brasil. E nós sabemos distinguir, e acho que saberíamos distinguir isso", acrescentou.
Ventura assegurou que "não deixaria de dizer as coisas, mesmo estando a representar o Estado português", porque "o Presidente da República é o primeiro que tem o dever de defender a nação quando ela é atacada".
Sobre visitas a outros países, o candidato a Presidente da República considerou que o mais alto magistrado da nação "deve vir a todo lado, sem medo, onde houver comunidades portuguesas, porque ele é o representante das comunidades portuguesas e é o representante do país".
André Ventura, que tem apontado críticas a Presidentes como Lula da Silva ou João Lourenço, referiu que os outros países podem bloquear a entrada de um chefe de Estado, mas está "em querer que o chefe de Estado, quer angolano, quer brasileiro, saberia diferenciar a opinião política das relações entre Estados".
O candidato presidencial salientou que "Portugal tem a sua dignidade e não verga, nem baixa a cabeça em nenhum país do mundo" e quem "não quer respeitar essa história, não convide para estar presente".
Ventura deu como exemplo o comentário do anterior Rei de Espanha dirigido a Hugo Chávez numa Cimeira Ibero-Americana, em 2007, quando Juan Carlos lhe perguntou "porque não te calas", na sequência de críticas do então Presidente da Venezuela.
"Sabe porque que é que o fez? Para defender Espanha. Não estou a dizer que é um exemplo, porque eu nem tenho especial simpatia. Mas defendeu o seu país, não se vergou. Ora, eu, como Presidente da República, faria o mesmo", indicou, dando como exemplo as cerimónias do 50.º aniversário da independência de Angola, em Luanda, que contaram com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesta entrevista à agência Lusa, o candidato a Belém referiu que vetaria alguma lei que previsse o pagamento de indemnizações às antigas colónias, porque seria "negar a história mais básica" e "mete em causa a dignidade" do país.
"Se isso acontecesse, significaria também que teríamos que fazer um levantamento de quanto é que eles nos têm que dar pelos hospitais, pelas estradas, pelas barragens, algumas delas as maiores do continente, do investimento que lá fizemos, em recursos humanos, da saúde que gastamos cá com muitos desses países dos PALOP, que vêm cá tratar-se", alegou.
Apoiante de Jair Bolsonaro, durante a campanha para as eleições legislativas de 2024, André Ventura disse que se fosse primeiro-ministro não deixaria Lula da Silva entrar no país, e ameaçou com prisão.
No ano anterior, quando o Presidente brasileiro discursou na Assembleia da República, os deputados do Chega levantaram-se, bateram na mesa em jeito de pateada, e empunharam cartazes onde se liam mensagens como "Chega de corrupção", "Lugar de ladrão é na prisão".
Recentemente, o candidato e líder do Chega criticou também o discurso do Presidente angolano nas comemorações dos 50 anos de independência do país, por João Lourenço ter dito que o colonialismo português, "oprimiu e escravizou durante séculos" o seu povo.
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