Três sírios condenados na Alemanha por crimes durante a guerra civil
- 11/11/2025
Após um longo julgamento - 86 dias de audiência distribuídos por 14 meses - a divisão criminal do Tribunal de Munique (sudeste) condenou os arguidos, identificados como Basel O., Sohail A. e Amer Tarak A., a penas de prisão de quatro anos e seis meses, sete anos e nove anos e dez meses, respetivamente.
Amer Tarak A., fundador do Liwa Jund al-Rahman (Brigada do Exército dos Misericordiosos), um grupo rebelde armado, inicialmente laico, mas que mais tarde se juntou ao EI para combater o exército regular sírio, recebeu a pena mais pesada.
Na qualidade de chefe desta organização, "ordenou um ataque contra xiitas, que foi filmado por Sohail A.", declarou o tribunal.
Os procuradores alemães, no início do processo em abril de 2024, avançaram que Sohail A. alegadamente trabalhava nos meios de comunicação social do grupo e fazia "vídeos de propaganda", nomeadamente sobre o massacre de Hatlah, que resultou na morte de cerca de 60 habitantes xiitas em 2013.
Os arguidos alegaram que estavam a travar uma luta armada legítima pela liberdade contra o regime sírio de Bashar al-Assad, mas o tribunal explicou que "rejeitou o argumento" devido à inexistência de "direito à resistência armada contra as tropas regulares, para os movimentos de libertação nacional".
Os três arguidos tinham fugido para a Alemanha após a derrota militar do EI.
A Alemanha já processou e julgou autores de crimes contra a humanidade e de crimes de guerra cometidos fora do seu território, incluindo sírios e iraquianos, ao abrigo do princípio jurídico da jurisdição universal.
Na segunda-feira, um grupo curdo na Alemanha apresentou uma queixa contra o Presidente interino sírio, Ahmad al-Sharaa, por crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade também durante a guerra civil.
Al-Sharaa esteve em tempos estreitamente ligado à rede terrorista Al-Qaida e foi líder do grupo islamita sírio Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS, em árabe), que só foi retirado da lista de grupos terroristas dos Estados Unidos em julho.
A Comunidade Curda da Alemanha (KGD) acusou Al-Sharaa de "genocídio e dos mais graves crimes de guerra" numa queixa apresentada na semana passada ao Ministério Público Federal alemão.
Agora o líder sírio tem procurado romper com o passado e apresentar uma imagem mais moderada desde que tomou o poder de Al-Assad, após mais de uma década de uma sangrenta guerra civil.
O grupo curdo alemão contestou o reconhecimento que Al-Sharaa está a receber a nível internacional e, em particular, o convite que lhe foi dirigido pelo chanceler alemão, Friedrich Merz, para visitar a Alemanha e discutir o repatriamento de cidadãos sírios do país.
Na segunda-feira, Al-Sharaa foi recebido pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, naquela que foi a primeira visita de um chefe de Estado sírio à Casa Branca desde que o país conquistou a independência, em 1946.
No âmbito da visita, os Estados Unidos levantaram as sanções contra a Síria durante seis meses, enquanto Damasco firmou o compromisso de aderir à coligação internacional para derrota o EI.
Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão do regime do então líder sírio Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito civil na Síria provocou milhares de mortos e milhões de deslocados e refugiados.
Ao longo dos anos, o conflito ganhou uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos 'jihadistas', e várias frentes de combate.
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