"Tecnologia ajuda a perceber porque um paciente é diferente do outro"
- 01/12/2025
Francisco Pereira foi um dos oradores do Responsible AI Forum 2025, que decorreu em Lisboa, no dia 25 de novembro, onde abordou a inteligência artificial (IA) na saúde.
Na depressão, como em outros casos, "a tecnologia pode ajudar as pessoas que fazem investigação em perceber porque é um paciente é diferente do outro, baseado em dados que se recolhem sobre esse paciente como o historial médico, análises clínicas, imagens do cérebro", diz o responsável do departamento Machine Learning Core do National Institute of Mental Health, EUA, que é o maior financiador de investigação em saúde mental do mundo.
"Mas não é que nós tenhamos maneira de usar essa informação para prever que medicamento é que vai ajudar cada pessoa, isso ainda é um objeto de muita investigação. Como temos muitos tipos de dados sobre pacientes há uma esperança que possamos usar isso para ajudar a personalisar o tratamento de cada pessoa", explica Francisco Pereira.
"Aquilo em que ajudamos mais os nossos colegas são coisas como tentar quantificar aspetos do que os pacientes dizem", acrescenta.
Por exemplo, "trabalhamos com colegas" que "querem ajudar pais a comunicar melhor com crianças que estão deprimidas e em tratamento".
Ou seja, "os pais podem queixar-se: Estás muito passivo, não fazes nada. E a criança diz: Vocês não percebem nada do que vai na minha cabeça" e os colegas, adianta, "têm uma sequência de passos terapêuticos que funcionam para ajudar os pais e filhos a comunicar melhor neste contexto, eles querem perceber o que está a acontecer à medida que o tratamento progride".
O objetivo "é ajudar os nossos colegas a perceber melhor que coisas é que têm a ver com o tratamento que está a fazer", acrescenta.
Sobre as ferramentas de IA na saúde, há várias aplicações, mas "muitas nunca foram avaliadas no sentido formal de dizer: isto conta como um tratamento alternativo, funciona melhor", aponta Francisco Pereira.
Sobre o uso de IA, "a minha perspetiva é a perspetiva de um cientista que quer ajudar as pessoas que fazem investigação em saúde", ajudar os cientistas "a perceber melhor porque é que um tratamento funciona".
Aliás, "o nosso laboratório funciona nessa base", sublinha, referindo que muito daquilo que é feito é pegar nos dados que "os cientistas consigam recolher", sejam questionários, ressonâncias magnéticas, seja outra coisa, e "tentar ajudar as pessoas a fazer um modelo melhor daquilo que estão a estudar".
"É muito o objetivo do nosso grupo usar machine learning e inteligência artificial ou outro tipo de modelos probabilísticos, matemáticos, para que os cientistas consigam fazer perguntas que de outra forma não poderiam fazer", refere.
Questionado sobre que objetivo gostaria de alcançar, é perentório: "Conseguirmos ajudar colegas nossos que estudam irritabilidade em crianças a prever que coisas é que vão mais provavelmente" levar a que esta perca o controlo e fique irritada, ou seja, gritar, partir coisas, entre outros, numa alusão ao Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor (TDDH).
"Não é prever em si que o miúdo tem isso, porque o problema é óbvio, é mais ajudar os colegas a estar numa posição de ajudar os pais", porque "temos modelos que podem, baseado em perguntas feitas regularmente via app prever com alguma precisão se há alguma probabilidade maior de o miúdo se descontrolar em breve", explica.
E isso pode ser usado para lembrar os pais das técnicas que aprenderam com os psicólogos para lidar com isso.
Sobre o que gostava atingir no próximo ano em termos de investigação, Francisco Pereira diz que era "ver este ensaio clínico a funcionar", já que ainda estão a desenvolver a intervenção piloto.
"O nosso grupo, Machine Learning Core, faz análise de dados e projetos de aplicação para mais de 40 laboratórios no NIMH. Também fazemos os nossos próprios desenvolvimentos em machine learning e estatísticas para responder a novas perguntas" no instituto e "consultoria e formação para investigadores em todo o NIMH".
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