Teatro da Terra estreia última peça de Ibsen no Seixal

  • 02/12/2025

"A perda do amor juvenil ou a perda juventude" foi como o encenador António Simão definiu a peça à agência Lusa à margem de um ensaio do texto, que assinala a sua primeira incursão numa obra "de repertório".

 

Convidado pela companhia dirigida por Maria João Luís e Pedro Domingos para encenar uma peça, António Simão, que desde 1995 integra os Artistas Unidos, escolheu o texto de por dois motivos: por um lado mais pessoal, por lhe fazer "lembrar coisas importantes como a juventude e o amor da juventude", e, por outro lado, pelo "desejo profissional de trabalhar um texto diferente dos que está habituado" a pôr em cena.

"Não é um clássico grego, não é Shakespeare, mas é um pouco depois disso, é um clássico contemporâneo e tenho esse desejo de trabalhar um texto desses", notou, a propósito da peça que ergue agora e que, além das suas características próprias, "tem uma mundividência óbvia e não deve desaparecer, faz parte da história".

Caracterizada por "mudanças bruscas e um certo abandono de uma estrutura mais clássica", "Quando nós, os mortos, despertarmos" constrói-se sob "uma estrutura mais "wagneriana", notou. "Porque apesar de haver um 'leitmotiv', o resto são quadros que se sucedem", argumentou.

A ação da peça escrita pelo escritor norueguês em 1899 joga-se em torno do escultor Arnold Rubek que, após algum tempo expatriado, regressa à Noruega para passar o verão com a sua mulher, Maja, cuja insensibilidade artística o insatisfaz.

Apesar do sucesso alcançado com a obra-prima que o tornou famoso, Rubek sente-se frustrado ao aperceber-se que abdicou do amor e da felicidade traindo a sua arte.

É então que encontra Irene, a mulher que depois de lhe servir de modelo e inspiração para a obra com que a crítica o consagrou se afastara.

Irene acusa Rubek de lhe ter roubado a alma e extorquido a energia, destruindo-lhe os sonhos e a vida ao expor a sua nudez como objeto artístico sem pensar o que representaria para ela.

O reencontro entre Irene e Rubek apresenta-se, contudo, como uma possibilidade para voltarem atrás e emendarem os erros cometidos.

"Quando nós, os mortos, despertarmos" é uma peça pouco representada ainda que o próprio autor a referisse como o "fecho" do ciclo que iniciara com "Casa de bonecas", escrita vinte anos antes e um dos textos mais representados do dramaturgo que foi um precursor do realismo.

"Uma peça nervosa, ansiosa e de fim de vida", com a qual Ibsen "faz uma espécie de síntese [...] no sentido de adivinhar alguma modernidade que viria depois", observou António Simão.

Pouco mais que duas mesas redondas, duas cadeiras e duas estruturas de madeira semelhantes a degraus completam o cenário da peça em que o autor elabora o resumo de uma vida fazendo com que o essencial recaia nos afetos, no espírito e na liberdade da jovem Maja.

"Quando nós, os mortos, despertarmos", tal como a maioria dos textos de Ibsen "exigem atores com alguma tarimba e, sobretudo, mais velhos", razão pela qual também foi buscar o ator e amigo Marcello Urgeghe, com quem nunca trabalhara.

Questionado pela Lusa sobre o porquê de optar por um texto de repertório, António Simão considerou que atualmente quase não se faz teatro de repertório em Portugal, admitindo que às vezes sente falta de ir ver um "Otelo", "Ricardo III", "O Mercador de Veneza, "Édipo rei" ou "Morte de um caixeiro-viajante".

Enquanto na literatura "se vai à biblioteca", na música "a alguns concertos na altura do Natal", atualmente, no teatro tal como na ópera, o que existe "ou são umas versões revisitadas, mais também releituras ou assim umas adaptações, portanto nunca há a oportunidade de ver a peça completa", argumentou.

"Mas isso tudo trabalha-se", defendeu, exemplificado que para se fazer Gil Vicente ou mesmo Shakespeare com alguma regularidade "teria que haver companhias com estruturas que possibilitassem esse tipo de trabalho", porque atores há.

António Simão frisou, todavia, não ter essa "preocupação político-cultural", enfatizando que a escolha deste texto de Ibsen se deveu a ter "ficado fascinado" com a personagem de Irene: "Pelo sofrimento da mulher que perdeu o amor que idealizou, a vida que idealizou e que, também como 'Hedda Gabler', incapaz de conseguir viver em sociedade, incapaz de saber lidar com a vida, ficou ali num limbo, num torpor, numa zona etérea da qual não saiu".

Com tradução de Fátima Saadi e Karl Henrik Schollhammer, "Quando nós, os mortos, despertarmos" é interpretada por Maria João Luís, Erica Rodrigues, Sílvia Figueiredo, Marcello Urgeghe, Rúben Gomes, Rodrigo Saraiva e Filipe Gomes, entre outros.

A cenografia e os figurinos são de Ana Teresa Castelo, o desenho de luz e a direção de produção de Pedro Domingos, e a assistência de encenação de Sílvia Figueiredo.

A peça vai estar em cena no Seixal até 13 de dezembro, exceto dia 11, com sessões de quinta-feira a sábado, às 21:30.

De 18 a 21 de dezembro será representado no Teatro Cinearte, sede de A Barraca, em Lisboa, com récitas de quinta-feira a sábado, às 21:30, e ao domingo, às 17:00.

De 13 a 15 de fevereiro de 2026, a peça terá representações no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, com sessões à sexta-feira e sábado, pelas 21:00, e, ao domingo, às 16:00.

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FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/cultura/2897939/teatro-da-terra-estreia-ultima-peca-de-ibsen-no-seixal#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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