Taça da Liga pode voltar a mudar de formato. Saiba o que está em causa
- 22/12/2025
A final four da Taça da Liga aproxima-se a passos largos com Benfica, Sporting, Sporting de Braga e Vitória SC a lutarem pelo primeiro troféu de 2026. Agendada para os primeiros dias de janeiro, esta competição continua, no entanto, sem convencer plenamente os adeptos, estando em cima da mesa um novo conjunto de alterações.
Em resposta ao Desporto ao Minuto, e após ser confrontada com o número de assistências da presente edição - que está longe de ser um sucesso, mas já lá vamos - a Liga Portugal revela que apresentou, na última Cimeira de Presidentes, no início de dezembro, um relatório pormenorizado aos clubes que pode promover várias mudanças na Taça da Liga.
"Foi apresentado um estudo detalhado que está atualmente a ser analisado em sede de grupos de trabalho, antes de discussão e votação em Assembleia Geral. A ideia passaria, nomeadamente, por voltar a abrir a competição a todas as equipas, oferecendo mais jogos às equipas com menor carga competitiva, sem aumentar o esforço daquelas que participam nas competições europeias, garantindo equilíbrio, competitividade e respeito pelo adepto", explica a Liga Portugal, apontando para a aposta em jogos nas paragens internacionais impostas pelos compromissos das seleções nacionais.
"Uma das possibilidades passa pela utilização das datas internacionais de seleções para fases iniciais, criando espaço para jovens jogadores e atletas menos utilizados, mas qualquer decisão será sempre tomada em conjunto com as Sociedades Desportivas, em Assembleia Geral", afirma o organismo liderado por Reinaldo Teixeira.
O que dizem os números?
Desde 2024/25 que a Taça da Liga ficou reduzida a oito equipas - os melhores seis classificados da I Liga e os dois melhores da II Liga. Ainda assim, a competição continua longe de cativar mais adeptos.
Com Benfica, Sporting, FC Porto e Braga a jogarem em casa os quartos de final, disputados a apenas uma mão, nenhum destes clubes conseguiu registar casa cheia nos respetivos jogos desta temporada.
- Benfica: 50.314 espetadores no Estádio da Luz (73,86% da lotação) ante o Tondela (2-0);
- FC Porto: 33.875 espetadores no Dragão (67,71% da lotação), contra o Vitória SC (1-3);
- Sporting: 23.085 espetadores em Alvalade (44,1% da lotação), frente ao Alverca (5-1);
- Sp. Braga: 6.574 espetadores no Estádio Municipal (23,32% da lotação), com o Santa Clara (5-0).
Convidada a comentar estes números, a Liga Portugal diz que "acompanha de forma permanente os dados oficiais de assistências e trabalha esses indicadores em articulação com todas as Sociedades Desportivas", garantindo que "o foco está sempre na valorização do espetáculo e na defesa do adepto".
Ao mesmo tempo, a Liga também sublinha que "não existe uma causa única que explique valores de assistência mais reduzidos", mas enumera algumas variáveis que acredita ajudarem a explicar o panorama atual.
"Fatores como o horário, o contexto competitivo, a transmissão televisiva, o momento desportivo das equipas e um calendário particularmente exigente têm influência. A Liga Portugal analisa estes dados em conjunto com as Sociedades Desportivas, com especial atenção ao impacto que cada decisão tem na experiência do adepto, procurando encontrar soluções equilibradas que protejam quem vai ao estádio e valorizem o espetáculo ao vivo", reitera.
O que aconteceu na época passada?
Se tivermos em conta aquilo que aconteceu na temporada transata, a primeira após a mudança no formato, é possível verificar que apenas o Benfica conseguiu fazer subir o número de adeptos presentes na Luz, de 48.639 para 50.314.
Por seu turno, o Sporting registou uma queda de cerca de 10 mil adeptos, uma vez que na temporada passada havia tido, diante do Nacional, 32.622 espectadores, descendo, agora, para 23.085.
O Sp. Braga também teve melhor casa em 2024/25, recebendo o rival Vitória SC - fator que causa sempre mais interesse - com 9.663 nas bancadas, ao invés dos 6.574 desta época.
Há, ainda, o caso especial do FC Porto, que teve de ir jogar ao Estádio Municipal de Aveiro, na condição de clube visitado, frente ao Moreirense, com um registo bastante abaixo do habitual: apenas 3.340 espectadores assistiram, in loco, ao encontro.
Tendência não mudou
Vale a pena, ainda, juntar a esta recolha de dados os números relativos a 2023/24, aquando vigorava o modelo antigo da Taça da Liga, que tinha um maior número de equipas em prova e que obrigava aos clubes a disputar uma fase de grupos.
Benfica, FC Porto, Sporting e Sp. Braga fizeram apenas um jogo nas suas respetivas casas, mas o cenário era praticamente o mesmo. As águias com uma casa abaixo dos 49 mil, os dragões com pouco mais de 30 mil e os leões com quase 23 mil. Já os arsenalistas ficaram-se pelos 6.005.
Ou seja, e tal como os números mostram, apesar do formato ter sofrido uma alteração que retira maior densidade competitiva aos clubes, o desejado efeito de atrair mais adeptos aos estádios continua por concretizar.
Adeptos preferem campeonato
Os números de espetadores na Taça da Liga são substancialmente mais preocupantes quando comparados com os do campeonato.
No caso de Benfica e Sporting, os respetivos jogos da Taça da Liga ficaram atrás de todos os sete jogos realizados, em casa, no campeonato.
Por seu lado, o FC Porto-Vitória SC (Taça da Liga) apenas conseguiu superar, em número de espetadores, o FC Porto-Estrela da Amadora (I Liga), que registou 31.247 adeptos.
O Sp. Braga, por sua vez, teve apenas pior registo caseiro contra o Santa Clara, na 15.ª jornada, curiosamente, o mesmo adversário da Taça da Liga.
No entanto, a média de espetadores de todos estes quatro clubes ilustra bem a diferença na adesão dos adeptos aos jogos do campeonato e da Taça da Liga.
| Clube | Jogo Taça da Liga | Pior casa na I Liga | Média espetadores I Liga |
| Benfica | vs Tondela (50.314) | vs Casa Pia (56.428) | 59.593 |
| Sporting | vs Alverca (23.085) | vs Alverca (31.833) | 42.177 |
| FC Porto | vs Vitória SC (33.875) | vs Estrela da Amadora (31.247) | 45.559 |
| Sp. Braga | vs Santa Clara (6.574) | vs Santa Clara (5.369) | 12.406 |
O que explica o desinteresse?
Há vários fatores que podem explicar o facto de a Taça da Liga ser a competição de menor agrado para os adeptos.
Um deles prende-se com o modelo original, que ainda está na mente de muitos. Durante vários anos, esta competição foi vista como demasiado pesada pela carga de jogos extra que trazia a cada clube, nomeadamente quando é preciso competir lá fora para ganhar pontos para o ranking da UEFA.
O novo modelo é indiscutivelmente mais leve - veja-se o caso do FC Porto, que disputa apenas um jogo nesta época -, mas na memória dos adeptos continuará a perdurar o velho formato.
Outro dado que pode ajudar a explicar o desinteresse são os meses do ano em que o troféu é disputado: de final de outubro a janeiro. O frio e a chuva são presenças regulares nesta altura do ano e basta recordar, por exemplo, o dilúvio que se verificou em Lisboa no dia em que o Sporting recebeu o Alverca.
Nota, ainda, para a falta de consequências desportivas para quem vence o troféu. Ao contrário da Taça de Portugal, o vencedor da Taça da Liga não terá qualquer tipo de acesso privilegiado às provas da UEFA.
Resta, ainda, referir que nesta edição da Taça da Liga apenas a final será jogada ao fim de semana. Todos os restantes jogos já foram ou vão ser disputados em dias de semana.
As polémicas do passado e a posição de Villas-Boas
No meio disto tudo não há como fugir às polémicas que foram marcando as edições da Taça da Liga. Da arbitragem a erros na aplicação dos critérios de desempate na hora de apurar as equipas para a fase seguinte, esta competição nascida em 2008 tem sido palco de alguns episódios insólitos.
Logo na segunda edição, que originou um duelo entre Sporting e Benfica na final, a arbitragem de Lucílio Batista foi muito contestada pelos leões e ainda hoje é motivo de debate.
Em dezembro de 2009 surgiu uma outra polémica com André Villas-Boas no centro da ação. O Portimonense foi apurado por ter uma média de idades inferior às de Beira-Mar e Académica, adversários na fase de grupos, depois de todos os jogos terem dado em nulo (0-0). O clube de Coimbra contestou e o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol acabaria por dar razão à equipa orientada por Villas-Boas, obrigando a Liga a retirar o Portimonense e a colocar a Académica na fase seguinte.
Anos depois, e agora na presidência do FC Porto, André Villas-Boas também já terá defendido a extinção da Taça da Liga em plena reunião com o organismo.
Desafiada a responder se deixar cair a Taça da Liga seria uma possibilidade real, a Liga Portugal esclarece que "não atua de forma isolada" e que o futuro da competição "dependerá sempre da decisão coletiva das Sociedades Desportivas".
"O caminho tem sido de estudo, diálogo, auscultação e construção de soluções conjuntas, respeitando a vontade expressa das Sociedades Desportivas e tendo como princípio orientador a defesa do adepto e a valorização do futebol profissional", remata a Liga Portugal.
Leiria é garantia de casa cheia
Com maior ou menor interesse, a verdade é que a bola continua a rolar na Taça da Liga e em janeiro o Benfica entra em campo para defender o título conquistado na época passada, diante do rival Sporting, que até pode reencontrar.
Os leões defrontam o Vitória SC no dia 6 de janeiro, ao passo que Benfica e Sp. Braga medem forças 24 horas depois. A grande final está agendada para dia 10.
Leiria já se tornou a casa habitual da Taça da Liga e pelo sexto ano consecutivo vai ser palco da final four. Com lotação total de 23.888 lugares, todos estes jogos devem rondar os 20 mil espectadores. É nesta fase, a da final four, que a Taça da Liga consegue, de facto, ter casa praticamente cheia.
Mesmo aquando a final de 2022/23, sem a presença dos ditos 'grandes' na derradeira partida, o duelo entre Sp. Braga e Estoril contou com quase 19 mil adeptos nas bancadas do Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa.














