Sonho de uma vida melhor afasta cabo-verdianos da construção civil
- 15/12/2025
Paulo Santos falava em Lisboa durante a apresentação do Projeto MOVER -- Migração, Oportunidades e Valorização do Emprego em Portugal, uma iniciativa da Organização Internacional das Migrações (OIM) que tem como objetivo reforçar a mobilidade laboral segura, regular e ordenada entre Angola, Cabo Verde e Portugal.
Os trabalhadores cabo-verdianos têm uma longa tradição na imigração laboral em Portugal, sendo neste país que reside uma das maiores diásporas de Cabo Verde.
Esta demanda prossegue e poderá até aumentar, consoante os desígnios do projeto hoje apresentado, que leva em conta a "escassez crítica de mão-de-obra" que Portugal enfrenta em áreas como a hotelaria, a agricultura, a construção e a área de cuidados humanos, como hospitais.
Na construção civil, também em Cabo Verde se sente a falta de trabalhadores, sendo várias as empresas em dificuldades para encontrar mão-de-obra.
"É compreensível, os jovens querem estudar e trabalhar em outras áreas, ir para universidade e fazer um percurso universitário. Não querem por a mão na massa, ser pedreiros ou agricultores", disse Paulo Santos.
E há também os que preferem emigrar, nomeadamente para Portugal, onde os desafios também são muitos, embora menores para os cidadãos lusófonos, pelas ligações antigas e a tradição na área da migração.
Ana Rita Marques, do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) português, exemplificou com a questão dos certificados de competência.
"Mesmo em áreas entendidas como pouco diferenciadas, há várias categorias profissionais. Em eletricista, por exemplo, pode ter uma formação informal, mas é preciso uma certificação formal", disse.
O atraso na emissão dos documentos continua a ser uma barreira e a causar prejuízos, nomeadamente em áreas como a construção civil -- em que as obras obedecem a um calendário que é preciso cumprir -- ou no turismo, com épocas próprias.
O diretor geral do Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional (INEFOP) de Angola adiantou que o reconhecimento das competências dos trabalhadores que optam por trabalhar fora do país é um desafio permanente.
Também a falta de informação atempada leva a que muitos angolanos desconheçam as regras dos países para onde vão trabalhar e a forma como decorre esse processo.
"Mas o maior desafio é o recrutamento ético e a sua inclusão de forma digna em Portugal, bem como dos seus familiares", acrescentou.
O projeto MOVER prevê a abertura de canais regulares de mobilidade laboral, a preparação de migrantes para integração profissional e social, o combate à desinformação e práticas fraudulentas e o envolvimento do setor privado em processos de recrutamento ético.
No decurso da duração do projeto, entre outubro de 2025 e dezembro de 2027, é esperado o apoio de 320 migrantes com entrada regular em Portugal e a informação de 400 sobre oportunidades de emprego.
Presente na cerimónia de apresentação desta iniciativa, o secretário de Estado Adjunto da Presidência e Imigração, Armindo Freitas, disse que "Portugal precisa de imigrantes, de imigração regulada, com regras claras e humanistas".
O Projeto MOVER é desenvolvido em parceria com a Associação Empresarial de Portugal (AEP), a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) e a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).
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