Putin endurece discurso sobre Ucrânia e coloca pressão sobre Europa
- 19/12/2025
Vladimir Putin reafirmou hoje aos russos e ao mundo que a Rússia vai atingir os objetivos militares na Ucrânia, apesar dos adversários europeus, ao fazer o balanço do ano pela quarta vez em guerra.
"As nossas tropas avançam em toda a linha de contacto (...), o inimigo recua em todas as direções", congratulou-se Putin no início da conferência de imprensa televisiva de quatro horas e meia, em Moscovo.
Vladimir Vladimirovich Putin, 73 anos, no poder há 25, usa o encontro anual com o povo e os jornalistas para consolidar o poder e falar sobre assuntos internos e globais.
Este ano, a conferência de imprensa decorreu num contexto marcado pelo plano de paz para a Ucrânia apresentado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Apesar dos intensos esforços diplomáticos, que prosseguem no fim de semana, as iniciativas de Washington têm-se deparado com exigências fortemente contraditórias por parte de Moscovo e Kyiv.
A Ucrânia dominou a conferência, o que pode refletir o desejo do Kremlin (presidência) de acalmar a opinião pública após quase quatro anos de guerra.
"Estou certo de que, antes do final deste ano, assistiremos a novos sucessos", afirmou Putin durante o programa, que combina conferência de imprensa e resposta a perguntas da população.
O líder russo reafirmou que estava pronto para um acordo pacífico que abordasse as "causas profundas" do conflito, uma referência às condições impostas por Moscovo para um acordo.
Putin exige o reconhecimento internacional dos territórios ucranianos conquistados desde o início da guerra, mesmo que parcialmente, em particular o Donbass, no leste, que compreende as regiões de Donetsk e Lugansk.
Moscovo também anexou Zaporijia e Kherson em setembro de 2022, depois de ter feito o mesmo à Crimeia, mas já em 2014.
Putin insistiu que a Ucrânia abandone a ideia de aderir à NATO, mas também repreendeu o secretário-geral da organização, Mark Rutte, por ter pedido aos aliados que se preparassem para uma possível guerra com a Rússia.
Trump como amigo pressiona europeus
Argumentou que os Estados Unidos deixaram de considerar a Rússia como um inimigo na nova Estratégia de Segurança Nacional, recentemente divulgada, e ironizou se Rutte sabia ler.
Se há um ano, a Rússia falava no "Ocidente coletivo" como inimigo, o regresso ao poder de Trump mudou o foco para os europeus, com elogios de Putin ao homólogo norte-americano.
"Trump realiza esforços importantes para pôr fim ao conflito", disse Putin, negando a ideia de que tivesse rejeitado o plano norte-americano para terminar a guerra.
"A bola encontra-se totalmente do lado dos nossos adversários ocidentais, principalmente do chefe do regime de Kyiv [Volodymyr Zelensky] e dos seus patrocinadores europeus", afirmou.
Putin voltou a questionar a legitimidade de Zelensky, cujo mandato terminou em 2024, e ofereceu-se para mandar calar as armas se os ucranianos fossem chamados a escolher um presidente.
Mas só "no dia das eleições", não um cessar-fogo definitivo.
Ativos russos congelados? "São para devolver"
Putin falou poucas horas depois de a União Europeia (UE) ter optado pela emissão de dívida para financiar a Ucrânia em 90 mil milhões de euros em 2026 e 2027, em vez de usar os ativos russos congelados.
O chefe do Kremlin advertiu os europeus de que "terão de devolver o que foi roubado" à Rússia.
Considerou que o congelamento dos ativos russos afeta a confiança na Zona Euro, usada por muitos países para guardar reservas de ouro, sobretudo os produtores de petróleo, segundo assinalou.
Putin mostrou-se confiante também na economia russa, abalada pelas sanções ocidentais, antecipando um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1%, um défice orçamental de 1,6%, inflação inferior a 6% e desemprego de 2,2%.
"Tudo isto, em conjunto, dá motivos para falar na estabilidade da economia", afirmou.
Tal como em edições anteriores, respondeu a queixas locais, comprometendo-se a resolver problemas de particulares ou repreendendo responsáveis regionais.
Prometeu discutir com o governo as taxas sobre o comércio após a queixa de um padeiro e recusou qualquer regulação de preços.
E ainda houve tempo para humor
Também comentou a passagem de um cometa perto da Terra, afirmando em tom de brincadeira tratar-se de uma "arma secreta" da Rússia.
Questionado por uma jornalista se estava apaixonado, respondeu "sim", mas sem revelar por quem.
Acrescentou que, para ele, o patriotismo começou com os pais e que acredita "no Senhor, (...) que nunca abandonará a Rússia".
De acordo com o Kremlin, foram submetidas cerca de três milhões de perguntas, filtradas com o auxílio de inteligência artificial.
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