Pureza eleito coordenador do BE. O que mudou (e se disse) na convenção?
- 01/12/2025
Foi um fim de semana de grandes alterações para o Bloco de Esquerda (BE), que elegeu, durante a sua Comissão Nacional, não só o sucessor de Mariana Mortágua, como também 19 novos dirigentes partidários.
A grande vencedora da 14.º convenção dos bloquistas foi a moção A, encabeçada por José Manuel Pureza. Com 62% (na prática 372 votos), foi a mais votada do evento político, elegendo assim o ex-deputado como o novo coordenador do BE.
Com as novas eleições, a Mesa Nacional do partido passa agora a contar com 27 membros (mais seis do que no mandato anterior), com 19 novas presenças e oito permanências.
Mantêm-se no órgão dirigentes conhecidos como Isabel Pires (indicada para secretária da organização do partido), o ex-líder parlamentar Fabian Figueiredo (que deverá assumir o lugar de Mariana Mortágua no parlamento em 2026), a candidata presidencial Catarina Martins, Joana Mortágua e a ex-eurodeputada Marisa Matias.
Entre as nas novas entradas, realçar a do novo coordenador José Manuel Pureza - que não fazia parte deste órgão - mas também a de bloquistas como a ex-eurodeputada Anabela Rodrigues, a antiga parlamentar na Assembleia da República Maria Manuel Rola e o ex-assessor João Curvelo.
Novo coordenador defende a criação de pontes entre a Esquerda
No seu último discurso, já no fim da convenção, no domingo, o novo coordenador do BE defendeu uma "Esquerda de pontes", que saiba dialogar, comprometendo-se a fazer "todos os diálogos necessários para que a Esquerda reganhe iniciativa e força em Portugal".
"Queremos uma Esquerda de pontes, que saiba dialogar, que encontre convergências, que nunca esqueça as prioridades, que olhe para o futuro, de que cada trabalhador e trabalhadora se sinta parte integrante. O que eu digo ao país é isto: aqui está uma Esquerda de confiança, que não desiste de nada na luta pelo salário, pela casa, pelo hospital, pelo clima e pelos direitos que fazem de nós uma comunidade. Somos a vossa força pela igualdade e pela liberdade", advogou José Manuel Pureza.
O bloquista realçou que em dois dias de reunião magna, os militantes do partido que agora coordena analisaram "o caminho dos últimos dois anos", liderados por Mariana Mortágua, "a derrota" que sofreu e o que têm que aprender com ela.
"E, feito este balanço, eu quero dizer algo de essencial: em nome do Bloco, peço desculpa ao nosso povo porque a Esquerda não conseguiu ainda vencer a direita extrema que estrangula o país. Mas garanto-vos que o Bloco de Esquerda vai à luta com toda a sua energia", assegurou.
Apesar da "derrota" de Mortágua, Pureza deixou também uma palavra de agradecimento à sua antecessora - que, aliás, é apoiante do novo coordenador - elogiando até a sua ida a Gaza e classificando-a como um "orgulho".
Mortágua fala em erros que "provavelmente não foram determinantes"
Mariana Mortágua, que agora se afasta da direção do partido depois de dois anos como a sua figura central, deixou também algumas palavras no início da convenção, ainda no sábado.
A ainda coordenadora na altura admitiu erros durante o seu mandato, mas considerou que "muito provavelmente não foram determinantes para uma coisa que é muito maior do que nós" que é "o poderosíssimo avanço da Direita e das suas ideias".
"Se me perguntam se a minha direção e se o meu mandado foi capaz de combater esse avanço da extrema-direita, não, não foi", reconheceu, acrescentando ainda que "o Bloco precisa de uma mudança".
A ex-coordenadora disse ainda, em jeito de despedida: "Esta é a última vez que me dirijo a vós na função de coordenadora deste partido e começo por dizer-vos que ter assumido convosco esta responsabilidade foi o orgulho da minha vida".
Nova direção quer combate ao pacote laboral e à "rampa da política"
Durante os discursos dos novos dirigentes do partido, o de Isabel Pires foi particularmente aplaudido pelos bloquistas. A agora secretária para a organização, apontou como "tarefa imediata" do partido "derrotar o pacote laboral" e pediu "todos à greve geral".
"Derrotar o pacote laboral é a tarefa imediata que sai da convenção. Trabalharemos pela mobilização na rua (...) Tornaremos demasiado caro o preço a pagar pelo roubo do salário. No dia 11 de dezembro vamos parar o país e até lá todos à greve geral", frisou.
Por outro lado, o ex-líder parlamentar Fabian Figueiredo prometeu um combate à "rampa em que a política portuguesa se transformou", considerando que o partido vai "levantar a cabeça", reconhecendo o que fez mal, e "elevar a política em Portugal".
"Nesta convenção reconhecemos o que temos que fazer melhor, o que fizemos mal, mas vamos levantar a cabeça. Sairemos desta convenção para elevar a política em Portugal, para construir a unidade na greve geral, para garantir que em Portugal se debate o que importa, o salário, a casa, a escola, para que a esquerda ganhe a rua, a voz, a consciência e os corações das portuguesas e dos portugueses", afirmou o homem que vai substituir Mariana Mortágua na Assembleia já no próximo mês.
Catarina Martins defendeu utopias
Já a candidata presidencial Catarina Martins, que continua na direção do partido, saiu em defesa das utopias contra "quem ganha com o sistema da máxima exploração" e apelou à Esquerda que saiba ouvir e "juntar forças" contra "a exploração e a indecência".
A candidata às eleições presidenciais de janeiro, que animou o segundo dia de convenção dos bloquistas e foi recebida com uma salva de palmas em pé, criticou quem quer convencer "que se alguém tropeçar ao nosso lado é deixar cair e passar por cima" e afirmou que "o lucro máximo espezinha muitas vidas".
E rematou: "À Esquerda, o nosso poder é saber que é quando damos a mão para proteger da queda quem tropeça ao nosso lado, ou quando estamos a tropeçar e alguém nos deita à mão e segura, nesse instante em que damos as mãos tiramos os olhos do chão e olhamo-nos olhos nos olhos. E aí há esperança, porque há empatia, solidariedade".
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