"Prezo o anonimato, que deixou de existir. Quer dizer, não sou o Herman"

  • 28/11/2025

Trouxe-nos, através das redes sociais, personagens cómicas como a enfermeira Lourdes ou a professora Regina, mas foi com a Tia Bli que animou a noite dos Globos de Ouro no passado mês de setembro. Aliás, é com a mesma personagem que traz mais animação ao programa "Três da Manhã", da Renascença, todas as quintas-feiras, com a rubrica "As Pessoas Têm que se Acalmar Imediatamente", que estreou no dia 9 de outubro. E não fica por aqui.

 

Vasco Pereira Coutinho juntou-se ainda à marca Pingo Doce, ao lado de Herman José, para mais um projeto cheio de humor e, mais uma vez, a responsável é a Tia Bli, juntamente com a Super Tia. Ambos os artistas participaram numa série de episódios divulgados nas redes sociais com o intuito de apresentar as novidades da cadeia de supermercados.

Mas o percurso do humorista e ator não foi, de todo, desde logo focado nas artes. Antes de se inscrever na Act, escola de atores, onde acabou o curso no verão do ano passado, Vasco Pereira Coutinho esteve em Roma, num seminário, durante dois anos, com o objetivo de ser padre. No entanto, como contou já em várias entrevistas anteriores, percebeu que não era essa a sua vocação. Acabou depois por se manter em Itália durante algum tempo, onde trabalhou com pessoas com deficiência profunda e com toxicodependentes em recuperação. 

Todo este trajeto foi "essencial para que pudesse crescer como pessoa", como partilhou agora em conversa com o Notícias ao Minuto.

Hoje, e depois de no início do ano se ter estreado na peça "Escolhas", Vasco Pereira Coutinho tem um novo desafio em mãos. O ator interpreta a personagem Quebra-Nozes da peça de teatro "Quebra-Nozes e o Reino do Gelo", que vai estar em cena a partir desta sexta-feira, dia 28 de novembro, no Alegro Alfragide, em Lisboa, até ao dia 11 de janeiro.

Achei que não ia ser um problema, que ia conseguir facilmente aprender a patinar e integrar isso no meu acting e não foi. É difícil, exigiu tempo, quedas e algum esforço

O que nos pode contar sobre este Quebra-Nozes do "Quebra-Nozes e o Reino do Gelo"?

Apesar de ser o protagonista desta peça, tem um papel muito diferente de um protagonista. O protagonista homem salva, vai à frente, protege, combate, etc. E isso é tudo feito pelas minhas coprotagonistas, que são a Clara e a Fada dos Doces. Eu sirvo quase de transportador destas duas miúdas pelos reinos que elas vão encontrar. Quem se chega sempre à frente e quem vai combater é a Clara e a Fada dos Doces.

É uma pergunta curiosa começar por aí porque foi uma descoberta estranha - no sentido em que tive de descobrir o que é um protagonista homem que não está a proteger e que não está a combater. Então, o que é que ele está a fazer, qual é o lugar dele nesta peça. Tem sido muito giro, um processo muito engraçado.

É uma personagem diferente do registo humorístico a que nos tem habituado. Facilmente se adaptou a este estilo infantil sem o lado cómico?

Já fiz muito teatro musical e alguns foram mais dirigidos para um público mais jovem - não diria tão infantil. Mas não é uma novidade. A grande novidade aqui é o gelo. Achei que não ia ser um problema, que ia conseguir facilmente aprender a patinar e integrar isso no meu acting e não foi. É difícil, exigiu tempo, quedas e algum esforço. Quando perdes aquilo que é a coisa mais adquirida em ti (as coisas que fazemos que são básicas como respirar, comer, beber, andar), quando o andar não é uma coisa óbvia, atrapalha-te tudo. 

Foi, então, uma habilidade que teve de aprender? Quanto tempo demorou até conseguir patinar? 

Sim, tive de aprender. Demorou cerca de um mês. Nós começámos a ensaiar há um mês, portanto, foi o tempo dos ensaios.

É uma coisa muito boa receber este amor todo e este carinho. São tudo coisas ótimas, se bem que prezo muito o meu anonimato, que deixou de existir. Quer dizer, calma, não sou o Herman José

Houve alguma peripécia, alguma história que vai ficar para contar dos ensaios?

Há quedas que são muito engraçadas. Há ali pessoas que já fazem espetáculos no geral há muito tempo, portanto já há ali uma dinâmica. E a dinâmica é que sempre que alguém cai, começam todos a bater palmas - tipo crianças quando caem e os pais batem palmas e dizem "pronto, não se magoou, está tudo bem, não vale a pena chorar". Houve muitas quedas e rimos muito.

Depois, é um processo muito intenso, muitas horas… Acaba por ser quase um campo de férias, porque é divertido como um campo de férias. Peripécias não houve nada, quer dizer, além das quedas - não posso ver ninguém a cair porque tenho logo um ataque de riso. Houve uma vez em que caí de peito e o barulho dos pulmões a bater no gelo foi de tal maneira que toda a gente se assustou, ninguém bateu palmas. Mas correu tudo bem, está tudo bem.

E em que é que esta peça de teatro pode diferir de outras?

Para lá de ser no gelo, que torna tudo bastante interessante, tem uma novidade muito engraçada que fala de um tema que é muito sensível ao nosso tempo, que é o bullying. Não vou adiantar muito sobre a história, mas há umas pessoas que gozam com uns bonecos de neve porque o nariz deles é diferente. E esta Clara - que é a miúda da terra, que vai para o mundo da fantasia onde está o Quebra-Nozes, a Fada dos Doces e o resto das personagens - é que os vai ensinar a fazer o processo de perceber que ser diferente é uma coisa boa. Pode ser divertido. Ao não ter medo de mostrar, de acreditar, vive-se de uma maneira melhor. É exatamente o que diz a letra. Quando olhamos com simpatia para tudo aquilo que é diferente em nós, o que não gostamos torna-se a nossa maior maravilha. 

Houve um 'boom' de Vasco Pereira Coutinho após ter ficado responsável pela parte humorística dos Globos de Ouro. Como tem reagido a esta visibilidade? 

Foi um 'boom' de visibilidade muito grande, porque aconteceram várias coisas ao mesmo tempo. Além dos Globos Ouro, que foi uma grande catapulta, na semana a seguir estava a lançar o meu primeiro episódio de Pingo Doce com o Herman José, e duas semanas depois estava a começar a minha rubrica na Rádio Renascença. Já estava tudo programado, mas não o fizemos nesse sentido de ser um 'boom'. Ou seja, já tinha dito que sim à Renascença e ao Pingo Doce há não sei quanto tempo. A última coisa que chegou foi os Globos de Ouro, que me perguntaram durante o verão se queria fazer. Respondi obviamente que não porque fiquei cheio de medo, mas depois a minha querida agente lá me explicou que tinha de aceitar, que era irrecusável. Aconteceu tudo na mesma altura, foram coisas ótimas.

Nos Globos de Ouro, aquele texto que escrevi com o Cláudio Almeida ficou ótimo. As coisas com o Herman José ficaram muito bem feitas - não por mérito meu, mas por mérito de todos os envolvidos. Da Renascença já não me vou gabar porque sou eu a fazer e não posso, fica-me mal [risos].

Mas o que tem dado esta visibilidade ao Vasco Pereira Coutinho? 

Tem dado imensas coisas ótimas. As pessoas são muito queridas comigo, vêm sempre dizer que gostam muito da Tia Bli, gostam muito de ver as minhas coisas no Instagram, gostam de mim. É uma coisa muito boa receber este amor todo e este carinho todo... e o trabalho. Através disso também me chega trabalho de marcas que estão interessadas em trabalhar comigo. São coisas ótimas, se bem que prezo muito o meu anonimato, que deixou de existir. Quer dizer, calma, não sou o Herman José, mas existe com menos frequência.

Foi tudo essencial para que pudesse crescer como pessoa. Todo o meu acting está muito enriquecido por uma história de vida

Já falou várias vezes sobre o seu percurso, que passou pelo Seminário, trabalhou com pessoas com deficiência profunda e com toxicodependentes em recuperação… Fez várias coisas antes de chegar aqui. Por que razão chegou mais tarde o clique para apostar verdadeiramente na representação e perceber que era exatamente isto que queria fazer?

Não chegou tarde, chegou quando teve de ser. Eu, pessoalmente, não sinto que esteja a chegar atrasado a lado nenhum.

Sente que precisou de passar por todas as outras vivências anteriores antes de chegar aqui e perceber que é mesmo isto que quer fazer?

Foi tudo essencial para que pudesse crescer como pessoa. Todo o meu acting está muito enriquecido por uma história de vida. Terminei o meu curso no verão passado na Act - Escola de Actores e eu era o mais velho. E aos meus amigos, que eram tão talentosos - e que são - faltava-lhes algum conhecimento sobre um lado da vida que eu tinha. Senti uma grande vantagem. Às vezes, pensava "ainda bem que só estou a chegar aqui agora", porque sei o que é que isto quer dizer, chego lá mais facilmente, identifico este sentimento, identifico esta circunstância. Acho que foi tudo no tempo que teve de ser.

Agora, vou confessar uma coisa, já não tenho 20 anos. Às vezes chego ao fim nesta temporada com a peça "Escolhas" no Porto, mais os ensaios do "Quebra-Nozes" durante a semana… Estava ali já no limite de rebentar. 

O seu percurso neste momento está muito direcionado para a comédia. Quer explorar outros estilos dentro da área da representação? Tem essa ambição? 

Tenciono, sim. Tenho essa ambição e gostava de explorar todos os lados da representação porque isso me fascina. Quando tens um trabalho, gostas de explorar todas as áreas do teu trabalho, não gostas de ficar fechada na mesma coisa.

E acha que pode ser difícil abordar outros registos ou acredita que irá surgir naturalmente?

Não sei, acho que pode surgir naturalmente, vamos esperar que sim.

Procuro muitas vezes o silêncio, a oração. Acho que a coisa mais importante da profissão do ator é encontrar-se e encontrar os outros, e encontrar o divino

Sendo uma pessoa religiosa, como é que lida com a questão da liberdade do artista? Há limites? 

Não, não há limites. O artista deve explorar sempre tudo. Deve explorar o seu desconforto para poder tornar real certas coisas que possam tornar a linguagem universal. Ou seja, se souber qual é o desconforto verdadeiro de uma certa circunstância, de um certo sentimento, quando exprimir tu vais perceber o é que estou a dizer. É como quando se canta fado no estrangeiro e as pessoas percebem o que é que está a acontecer. E na comédia também acho que não há limites. Vivemos numa sociedade livre, não é? Temos de poder dizer aquilo que queremos. Eu, pessoalmente, limito-me porque não acho graça a certas coisas e, portanto, não o faço. E acho que todos os artistas fazem isso: limitam-se a eles próprios, fazem aquilo de que gostam mais, a que acham mais graça. Depois, a seleção natural trata do resto.

No seminário tinha, acredito, momentos de silêncio, reflexão. Mantém alguma rotina desse tempo? 

Mantenho! Procuro muitas vezes o silêncio, a oração, procuro esse espaço apesar de não o ter muito. Às vezes tenho de acordar mais cedo para poder ter esse tempo. É um tempo que me ajuda a encontrar. Procuro fazê-lo, porque acho que a coisa mais importante da profissão do ator é encontrar-se e encontrar os outros, e encontrar o divino. E eu encontro isso nesta forma.

Tendo 2025 sido um ano cheio de novidades, que reflexão faz destes últimos 12 meses e como é que vê a entrada em 2026?

Este ano foi uma alegria enorme pela possibilidade de fazer a peça que fiz durante o ano todo com a Força de Produção, a “Escolhas”, foi uma oportunidade incrível. Relembro que acabei o curso no ano passado. Estar já a trabalhar com a Força de Produção, com atores como o José Pedro Vasconcelos, Ana Brito e Cunha, Jessica Athayde, o Hugo Mestre Amaro, mais tarde a Madalena Brandão, com encenadores como o Marco Medeiros… Quer dizer, quem é que sou eu?

O ano começou já muito bem com uma grande aposta, com uma grande oportunidade. E depois, este finalzinho aqui de setembro não estava à espera. Este setembro/outubro com a Tia Bli, com a rádio, com os Globos [de Ouro] e com o Pingo Doce… Não estava à espera. A reflexão é que as coisas boas são sempre inesperadas… A pessoa tem de partir para o próximo ano à espera que elas cheguem. E procurá-las, não é? Mas esperar que elas vão acontecer.

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FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/fama/2896133/prezo-o-anonimato-que-deixou-de-existir-quer-dizer-nao-sou-o-herman#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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