Presidente timorense defende suspensão da Guiné-Bissau da CPLP
- 10/12/2025
"A Guiné-Bissau tem de ser suspensa da CPLP, eles fazem golpes sucessivamente, já são demasiados golpes", afirmou o antigo representante especial das Nações Unidas para a Guiné-Bissau e Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta.
O também prémio Nobel da Paz falava aos jornalistas após a entrega do Prémio de Direitos Humanos Sérgio Vieira de Mello, no Palácio Presidencial, em Díli.
Se a CPLP "fechar os olhos", perderá totalmente a credibilidade, afirmou José Ramos-Horta.
O Presidente timorense defendeu também que os golpistas devem reconhecer os resultados eleitorais e proceder à contagem final, sublinhando que as eleições custaram dinheiro, que o povo confiou no processo e que, depois disso, inventaram um golpe para anular a votação.
Questionado sobre se acredita na capacidade da CPLP para resolver a crise na Guiné-Bissau, Ramos-Horta admitiu que não existe vontade política para enfrentar golpes militares num país desta natureza.
"Sim, recebi informações de que, numa reunião ministerial 'online', os países da CPLP sugeriram que eu fosse à Guiné-Bissau, mas já respondi que não tenho tempo nem condições para ir. A situação na Guiné-Bissau está demasiado grave", sublinhou Ramos-Horta.
"É demais. Não tenho tempo para ir lá. Exijo que a CPLP assuma uma posição com honra e dignidade e não feche os olhos a isto", acrescentou o chefe de Estado timorense.
Ramos-Horta observou ainda que, durante as eleições gerais, tudo decorreu bem e de forma competente, lamentando que algumas pessoas que perderam as eleições tenham inventado um golpe.
"As eleições decorreram bem, o povo votou, e de repente o Presidente [Umaro Sissoco Embaló], sabendo que perdeu as eleições, inventou um golpe. O golpe foi contra ele próprio e fugiu, para depois regressar. Os militares que estão lá são militares dele", afirmou Ramos-Horta.
O chefe de Estado timorense elogiou igualmente a União Africana (UA), que suspendeu de imediato a Guiné-Bissau como Estado-membro devido ao golpe militar.
Um Alto Comando Militar destituiu o Presidente cessante, Umaro Sissoco Embaló, que deixou o país, e suspendeu o processo eleitoral, em que o candidato independente apoiado pelo histórico partido PAIGC, Fernando Dias, reclamou vitória sobre Embaló, que concorreu a um segundo mandato.
O Alto Comando Militar nomeou Presidente de transição o general Horta Inta-A e este deu posse a um governo com 23 ministérios e cinco secretarias de Estado, tutelados por vários nomes ligados ao Presidente deposto.
Os militares suspenderam parcialmente a Constituição e fixaram uma estrutura política com o Presidente da República de Transição, o Alto Comando Militar, o Conselho Nacional de Transição com as funções do parlamento e um governo de transição.
As organizações regionais africanas de que a Guiné-Bissau faz parte suspenderam o país dos respetivos órgãos, nomeadamente a CEDEAO (Comunidade Económica dos Países da África Ocidental) e a União Africana (UA).
Os chefes de Estado e de Governo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) irão analisar a situação na próxima cimeira, nomeadamente a recomendação do Conselho de Ministros de suspender e substituir a Guiné-Bissau na presidência rotativa da organização que ocupa atualmente.
Leia Também: Presidente moçambicano diz que CPLP implica "livre circulação de pessoas"













