ONU: Violência regional afasta cada vez mais Iémen de processo de paz
- 15/09/2025
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, o enviado especial das Nações Unidas para o Iémen, Hans Grundberg, defendeu que a estabilidade no Iémen não pode ser separada da dinâmica mais vasta do Médio Oriente, que alimenta as divisões e atrasa uma paz sustentável.
"Por outras palavras, o Iémen é tanto um espelho como uma lupa da volatilidade da região. Se não for resolvido, o seu conflito perpetuará a tensão muito para além do Iémen", disse.
"O atual ciclo de violência está a afastar ainda mais o Iémen de um processo de paz que traria a paz sustentável e o crescimento económico a longo prazo. Precisamos de voltar a focar-nos no Iémen", apelou Grundberg ao Conselho de Segurança.
Nas últimas semanas, o Ansar Allah - nome oficial dos rebeldes xiitas Huthis - continuou a atacar Israel com drones e mísseis, ataques que resultaram em feridos civis e atingiram um aeroporto civil.
Da mesma forma, em agosto e setembro, registaram-se vários ataques israelitas em Sana, capital do Iémen, e noutras áreas controladas pelos Huthis, que mataram inúmeros civis.
A somar-se à insegurança no país, cerca de 70% das famílias no Iémen não têm alimentos suficientes para satisfazer as suas necessidades diárias -- a taxa mais elevada alguma vez registada, disse na reunião o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher.
Quase metade da população do país sofre atualmente de privação alimentar severa -- um aumento em relação aos 36% registados há apenas um ano.
Uma em cada três famílias sofre de fome moderada a grave, segundo a ONU.
Mantida esta trajetória, a ONU prevê que, antes de fevereiro do próximo ano, mais um milhão de pessoas sejam forçadas a passar fome extrema no país -- juntando-se aos já 17 milhões de iemenitas com muito pouco para comer.
"Isto inclui mais de 40.000 pessoas na fase catastrófica da insegurança alimentar", explicou Fletcher.
A escassez de financiamento e um ambiente operacional cada vez mais difícil estão a impedir as equipas de ajuda humanitária de chegar a todas as pessoas necessitadas e de oferecer toda a gama de intervenções necessárias para salvar vidas e estabelecer as bases para uma mudança sustentável no país.
"Os cortes de financiamento estão a custar vidas", frisou o líder humanitário da ONU, acrescentando, a título de exemplo, que dois milhões de mulheres e raparigas perderam o acesso a serviços de saúde reprodutiva, sendo que uma mulher já morre a cada duas horas durante a gravidez no Iémen, o país mais pobre da Península Arábica.
A tudo isto soma-se a prática de sequestros pelos Huthis, que controla grande parte do país e que deteve recentemente 22 membros de agências da ONU.
Embora um funcionário tenha sido recentemente libertado, há agora mais de 40 funcionários das Nações Unidas detidos, além de um trabalhador que morreu durante a detenção.
"Deter pessoal da ONU não ajuda o povo do Iémen, nem alimenta os famintos, cura os doentes ou protege os deslocados por enchentes ou conflitos", reforçou Fletcher.
"As detenções inaceitáveis, a entrada forçada nas instalações da ONU e a apreensão de bens da ONU -- em violação do Direito Internacional -- põem em perigo a própria capacidade da ONU para promover os esforços de paz e prestar apoio humanitário ao povo iemenita", frisou por sua vez Hans Grundberg.
O representante dos Estados Unidos na reunião de hoje, John Kelley, culpou os Huthis pelos problemas do Iémen e afirmou que os rebeldes xiitas agora "também são traficantes de drogas", após 600 quilogramas de cocaína terem sido apreendidos pelo Governo da República do Iémen.
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