ONG defende que biocombustíveis não são solução para o futuro
- 28/11/2025
A Transport & Environment não quer que o futuro dos automóveis passe por biocombustíveis. No entender da entidade, há desafios associados, risco de fraudes e não apresentam uma verdadeira vantagem na neutralidade carbónica.
Estes combustíveis, vistos como ecológicos, são defendidos como alternativas por alguns fabricantes para abraçar um futuro neutro em carbono e, ao mesmo tempo, salvar os motores de combustão - que poderão ser proibidos na União Europeia a partir de 2035.
Mas, diz a organização não governamental, biocombustíveis originários de culturas alimentares não só representam risco de deflorestação, como também só cortam as emissões de dióxido de carbono em cerca de 60 por cento por comparação com os combustíveis fósseis - e até podem superá-las devido às emissões indiretas associadas ao cultivo e transporte.
É uma das conclusões que consta num relatório divulgado esta quinta-feira (27 de novembro). Este recorda que a UE limitou o uso de biocombustíveis de origem vegetal - privilegiando os de proveniência animal e derivados de óleo de cozinha usado.
A T&E alerta que, atualmente, 60 por cento dos biocombustíveis são importados de países não pertencentes à União Europeia - valor que sobe para 80 por cento no caso do óleo de cozinha usado. A proveniência é, sobretudo, da Ásia. Entende a entidade que a dependência crescente de países terceiros "aumenta ainda mais o risco e o nível de fraude".
Por outro lado, o relatório sugere que "o atual abastecimento de biocombustível na UE está proporciona reduções de dióxido de carbono limitadas a não existentes". Rondam os 20 a 40 por cento por comparação com os combustíveis fósseis. E, diz a Transport & Environment, as possíveis fraudes no óleo usado podem anular as emissões evitadas.
A ONG fala, igualmente, de falta de oferta de biocombustíveis para abranger automóveis, aviões e embarcações. E salientou: "Permitir uma exceção de biocombustíveis na lei automóvel da UE de 2035 acrescentaria 30 por cento à procura de biocombustível para aviação e embarcações e deixaria a procura total da UE duas a nove vezes superior ao que pode ser obtido de forma sustentável".
Segundo considera a T&E, permitir que os biocombustíveis sejam considerados como neutros em dióxido de carbono pode levar a um aumento de até 23 por cento nas emissões em 2050. E salientou que a Europa tem de optar entre "liderar a corrida global dos automóveis elétricos ou ficar para trás ao divergir para falsas soluções".
Sobre novos biocombustíveis mais avançados, a entidade sublinha que há quantidades limitadas, estão afetos à aviação e náutica, e são necessárias tecnologias "não totalmente comercializadas". Para além do mais, não há garantias de sustentabilidade em muitos casos e representam potenciais impactos ambientais negativos.
Em termos de sustentabilidade, os biocombustíveis produzidos a partir de resíduos de esgoto, resíduos industriais ou resíduos sólidos municipais têm um baixo risco. Este é médio no caso de resíduos agrícolas, óleo de cozinha usado e gorduras animais. O maior risco de sustentabilidade está associado a biocombustíveis de origem vegetal.
Biocombustíveis não são o futuro?
A Transport & Environment propõe dois cenários: que a UE rejeite os biocombustíveis como solução para a eliminação das emissões de CO2 a partir de 2035; ou que estabeleça cinco por cento como limite de vendas de automóveis alimentados a combustíveis ecológicos - desde que estes sejam verdadeiramente neutros em carbono.
Por outro lado, a ONG considera que deve ser dada prioridade à aviação e à náutica, uma vez que atualmente nem para estes setores há biocombustíveis disponíveis em quantidades suficientes.
Noutro âmbito, apela-se à permanência dos objetivos de CO2 para 2030 a 2035, ficando o alerta: "Alternativas falsas como biocombustíveis levam a ambiguidade reguladora, minam a confiança da empresa, investidor e cliente, e põem em risco empregos e o ímpeto dos veículos elétricos".














