O que se sabe (até agora) sobre o plano de paz para a Ucrânia?
- 25/11/2025
Têm surgido novos detalhes acerca do plano de paz para pôr fim à guerra - que a Ucrânia deverá aceitar. Há, no entanto, alguns pontos que o presidente ucraniano quererá "acertar" com o seu homólogo norte-americano, Donald Trump. Entre redução de militares e detalhes "não intransponíveis", o que se sabe até agora?
Esta terça-feira, a CBS News, que cita uma fonte do governo norte-americano, avançou: "Os ucranianos aceitaram o plano de paz. Ainda há alguns detalhes a acertar, mas eles aceitaram o plano de paz".
Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, também afirmou numa publicação nas redes sociais que as delegações ucranianas e norte-americanas chegaram a um entendimento comum sobre as condições-chave do acordo de paz.
Ainda esta manhã, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, através da rede social X (antigo Twitter), enfatizou que a perspetiva de paz começa a ganhar contornos reais, havendo "resultados sólidos" fruto das negociações em curso, mas destacando que ainda "há muito trabalho pela frente".
This morning, I spoke with Prime Minister of the United Kingdom @Keir_Starmer. It was a good and very productive conversation.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) November 25, 2025
I thanked the Prime Minister for the condolences he expressed to the Ukrainian people. Last night, Russia launched another attack – at a time when… pic.twitter.com/8twO1mYLLr
Forças ucranianas terão de limitar exército?
Segundo o Financial Times, que cita fontes oficiais ucranianas, o plano de paz discutido e aprovado pelas autoridades ucranianas e norte-americanas poderá limitar o exército ucraniano - em tempos de paz - a 800.000 militares.
O mesmo meio explica que, embora reduzido, um exército ucraniano com este número de militares poderá ainda ser a segunda maior força europeia, depois da Rússia, estando ainda próximo do atual número - em guerra -, 900.000 militares.
Casa Branca: "Há detalhes delicados, mas não intransponíveis"
A Casa Branca também já reagiu ao facto de Zelensky querer discutir com Donald Trump alguns detalhes do plano de paz.
"Ao longo da última semana, os Estados Unidos fizeram progressos consideráveis rumo a um acordo de paz, tendo levado tanto a Ucrânia como a Rússia a uma mesa de negociações. Há alguns detalhes delicados, mas não intransponíveis, que precisam de ser resolvidos e exigirão novas conversas entre a Ucrânia, a Rússia e os Estados Unidos", escreveu a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, na rede social X.
Over the past week, the United States has made tremendous progress towards a peace deal by bringing both Ukraine and Russia to the table.
— Karoline Leavitt (@PressSec) November 25, 2025
There are a few delicate, but not insurmountable, details that must be sorted out and will require further talks between Ukraine, Russia,…
De recordar que os presidentes ucraniano e norte-americano poderão encontrar-se ainda esta semana, na Casa Branca, em Washington, para discutir para pôr fim à guerra na Ucrânia.
Quais são os pontos essenciais do plano?
Note-se que o plano norte-americano para a Ucrânia - inicialmente estruturado em 28 pontos e já em processo de revisão para 19 - está a ser discutido em Abu Dhabi por delegações dos EUA e da Rússia.
Arquitetura geral do plano
A proposta em discussão assenta num cessar-fogo imediato condicionado à retirada das forças para posições previamente acordadas, seguido de um acordo vinculativo, supervisionado por um Conselho de Paz presidido pelos Estados Unidos, com sanções previstas em caso de incumprimento.
Esta arquitetura traduz uma lógica de estabilização forçada, mais próxima de uma gestão de conflito do que de uma resolução estrutural, apostando em mecanismos punitivos e de dissuasão em vez de uma reconciliação política profunda entre as partes.
O plano foi concebido com contributos do enviado especial russo Kirill Dmitriev e do enviado norte-americano Steve Witkoff, tendo sido apresentado como uma base formal para a paz.
Questão territorial e redefinição de soberanias
O plano prevê o reconhecimento 'de facto' das zonas ocupadas da Crimeia, Donetsk e Lugansk como territórios russos, bem como a aceitação das atuais linhas de contacto em Kherson e Zaporijia, acompanhadas da criação de zonas tampão desmilitarizadas.
A proposta implica igualmente a retirada das forças ucranianas da parte da região de Donetsk ainda sob seu controlo, que seria transformada numa zona desmilitarizada internacionalmente reconhecida como pertencente à Federação da Rússia.
Esta redefinição territorial constitui o ponto mais sensível do acordo, ao impor à Ucrânia perdas territoriais politicamente difíceis de legitimar internamente e internacionalmente, mesmo com garantias de segurança e compromissos de não agressão.
Neutralidade ucraniana e relação com a NATO
Entre os pontos do plano está a consagração constitucional da não adesão da Ucrânia à NATO, com compromisso recíproco da Aliança em não integrar Kyiv.
São proibidas tropas da organização em território ucraniano, estabelecendo uma neutralidade formal.
Este ponto responde diretamente a uma exigência histórica de Moscovo, que vê a expansão da NATO como uma ameaça, e foi reiterado como condição essencial por Vladimir Putin, que o considera essencial para qualquer acordo final.
Garantias de segurança e mecanismos de dissuasão
O plano prevê uma resposta militar coordenada e a reativação de sanções em caso de nova agressão russa, mas introduz igualmente cláusulas punitivas para a Ucrânia se tiver ações militares consideradas provocatórias, criando um quadro jurídico-militar complexo e ambíguo.
O documento estipula ainda que, se a Ucrânia lançar mísseis contra Moscovo ou São Petersburgo sem motivo considerado válido, as garantias de segurança norte-americanas serão automaticamente retiradas.
Dimensão militar e revisões em curso
A proposta original inclui limites à dimensão das Forças Armadas ucranianas e a criação de dispositivos de controlo conjunto, embora estas disposições estejam a ser reavaliadas na versão revista do plano.
Segundo a cadeia televisiva ABC News, entre os pontos já eliminados na transição para o plano de 19 pontos figuram a futura dimensão do exército ucraniano e a amnistia geral anteriormente prevista para as partes em conflito.
Reconstrução e reconfiguração económica
Está previsto um grande pacote de reconstrução da Ucrânia, financiado por ativos russos congelados e reforçado por contribuições financeiras da Europa, orientado para investimentos em infraestruturas, energia, tecnologia, mineração e modernização urbana, com liderança operacional dos Estados Unidos e participação de instituições multilaterais, como o Banco Mundial.
Cem mil milhões de dólares (cerca de 80 mil milhões de euros) em ativos russos seriam aplicados em projetos liderados pelos EUA, com igual montante a ser mobilizado pela Europa, incluindo a criação de um Fundo de Desenvolvimento da Ucrânia e projetos conjuntos em gás, centros de dados e inteligência artificial.
Este eixo económico é apresentado como um incentivo decisivo para Kyiv, funcionando como promessa de relançamento económico e integração progressiva nos mercados ocidentais.
Reintegração da Rússia e incentivos económicos
Em contrapartida, a Rússia beneficiaria da reintegração progressiva na economia global, do levantamento faseado de sanções e do regresso ao G8, acompanhados por acordos de cooperação económica de longo prazo com os Estados Unidos.
O texto prevê ainda a criação de um fundo de investimento conjunto EUA-Rússia, financiado por parte dos ativos congelados, destinado a projetos económicos estratégicos em áreas como energia, infraestruturas e exploração de recursos naturais.
Papel da União Europeia e reposicionamento político
A União Europeia (UE) insiste em querer um papel central no processo, defendendo a soberania ucraniana e o direito de Kiev a escolher o seu destino europeu, incluindo uma futura adesão à UE.
Bruxelas procura evitar ser marginalizada nas decisões finais, assumindo uma postura de apoio crítico que visa equilibrar a influência norte-americana e conter excessos favoráveis a Moscovo.
Líderes europeus consideraram que o plano contém "elementos importantes", mas salientaram que deverá ser sujeito a trabalho adicional, enquanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reiterou que o papel da UE deve ser "plenamente reconhecido" neste processo.
Reações políticas e pressão sobre Kyiv
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, enfrenta forte pressão interna e externa para aceitar ou renegociar o plano, num contexto de desgaste político doméstico e avanço militar russo no terreno, enquanto procura demonstrar abertura ao diálogo sem comprometer integralmente as linhas vermelhas da soberania nacional.
Zelensky já disse que o plano representa um dos momentos mais difíceis da história recente da Ucrânia, admitindo contudo que pretende propor alternativas construtivas e que sente que o Governo do Presidente dos EUA, Donald Trump, está a ouvir as preocupações de Kyiv.
Quais as perspetivas e cenários previsíveis?
As negociações em Abu Dhabi representam uma fase decisiva de afinação do plano, mas as hipóteses de acordo permanecem condicionadas pela aceitação russa das alterações propostas, pela capacidade de Kyiv de negociar sem se isolar dos aliados e pela coesão europeia, num processo onde o avanço diplomático coexiste com o risco permanente de impasse ou regressão militar.
Putin declarou que o plano poderia servir de base para um acordo final, mas advertiu que a Rússia está preparada para continuar a ofensiva militar se as negociações não resultarem, enquanto Washington e Kyiv mantêm um otimismo cauteloso.
O cenário mais provável aponta para um compromisso imperfeito, onde o cessar-fogo poderá ser alcançado, mas com uma paz frágil, dependente de equilíbrios delicados e sujeita a futuras revisões.
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