"O Clooney ficou a dever-me um almoço e nem reconheci o Louboutin"
- 03/12/2025
É impossível ficar indiferente à Olaria da Maria, uma loja de loiça, em Porto Covo, que já conquistou figuras tão emblemáticas como o ator de Hollywood George Clooney ou o célebre estilista francês Christian Louboutin.
Num passeio pela pacata aldeia da costa vicentina, deparamo-nos com esta loja irresistível, repleta de loiça, tradição e muitas histórias.
Ao entrarmos, conhecemos o dono, José Matos, professor de Matemática e Análise de Dados no ensino secundário e superior em Lisboa durante a semana e vendedor de loiça ao fim de semana (pelo menos na época baixa).
Herdou o negócio do pai, oleiro de profissão, que decidiu abrir a loja há 32 anos "para se entreter" na reforma e, assim, vender a sua arte. Contudo, quis o negócio - e os clientes - que a oferta fosse alargada a outros artistas nacionais.
Todo o país está representado nas prateleiras da Olaria da Maria. Desde Reguengos de Monsaraz, São Pedro do Corval, Redondo, Mafra, Caldas da Rainha, Alcobaça, Aveiro, entre outros. Ao todo são 27 artistas presentes.
Olaria da Maria© Mariline Rodrigues
É uma loja onde vivem memórias. É impossível não ser tomado pela nostalgia ao reconhecer-se loiça que outrora ocupava armários das avós.
O Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com José Matos, que falou sobre dois clientes especiais que já atendeu: Clooney e Louboutin.
"O George Clooney ficou a dever-me um almoço"
A primeira vez que viu George Clooney a entrar pela sua porta foi na companhia de um casal. Não admira. Em 2021, o artista começou a construir uma luxuosa casa em Melides, zona de eleição de milionários.
"Eu reconheci-o logo, mas não disse nada. As outras pessoas compraram, ele não comprou nada e quando ia a sair meteu a cabeça do outro lado e disse-me: 'Do you know who I am?' ['Sabe quem eu sou?', em tradução livre]. E eu respondi que sim, que sabia. Perguntou: 'não queres um autógrafo?', mas a gozar. E eu disse-lhe: 'e tu queres o meu?'. Ele disse 'boa resposta!' Cumprimentou-me e foi-se embora", começa por contar José.
"Depois, veio sozinho e comprou umas coisas. Entretanto, da outra vez veio com uma rapariga mais nova e ela foi-se embora com outra rapariga. Ele ficou cá em Porto Covo. Ele tinha o carro, mas elas levaram-lhe a chave. O carro ficou aqui à porta. Tive de o levar a Santo André", recorda.
Olaria da Maria© Mariline Rodrigues
Os encontros com o ator não ficaram por aqui. "Depois, veio aqui e disse para ir almoçar com ele. Estivemos a comer e ele disse que pagava o almoço… Não tinha a carteira. Depois nunca mais apareceu. Ficou-me a dever o almoço", afirma, não contendo o riso.
Ao almoço, acrescenta, falaram da família e de outros assuntos. "Ele mostra muita solidão. Quer passar despercebido e não consegue em lado nenhum. Comprou casa aqui porque sabia que ninguém o ia reconhecer. Andámos por aqui e ninguém o abordou. As pessoas nem ligam. A maior parte já se habituou a vê-los (aos famosos)", realça.
Christian Louboutin e o 'mistério' dos potes azuis
Outra das celebridades que José Matos conheceu foi o estilista francês Christian Louboutin, contudo, ao contrário do que aconteceu com Clooney, este não o reconheceu.
"Não sabia quem era. Levou dois potes azuis, depois veio o Mercedes e eu coloquei os dois potes no carro, ajeitei aquilo… Pelo que percebi, o segurança deve ter dito que eu tive imenso cuidado a meter no carro", revela.
"Vim a saber quem era, porque da parte da tarde apareceu-me um mar de gente para comprar potes azuis e eu só tinha dois. Até veio uma senhora da Comporta. O que é que ele fez? Tirou fotografias da loja, pediu-me o Instagram, foi ao Instagram dele e falou da minha loja", faz saber, visivelmente orgulhoso.
Olaria da Maria© Mariline Rodrigues
Christian Louboutin apaixonou-se de tal forma por Portugal que decidiu abrir o Vermelho Hotel em Melides.
"As pessoas que vão lá ao hotel começaram a vir aqui. Houve um advogado brasileiro que me perguntou se eu tinha painéis de azulejo e eu disse que sim. 'O Christian tinha razão', disse. E eu a pensar: 'mas o que é que se passa aqui?' No fim da conversa perguntei se já conhecia Porto Covo e eles responderam que só vieram à minha loja. Eles lá fizeram panfletos para mandar para aqui", disse José.
"Sabe o que é que eu acho? Quando vêm cá ricos é 'sacar massa'. O homem faz uma compra qualquer e cobram-lhe três vezes mais e aqui ele não sentiu isso", acredita.
José Matos reconhece uma importante missão na Olaria da Maria: divulgar os artistas locais e nacionais. Se estes pequenos criadores chegarem além-fronteiras, melhor.
Olaria da Maria© Mariline Rodrigues














