Não há "atenção suficiente" aos ataques em Moçambique
- 09/12/2025
"Isso também me angustia porque não há suficiente atenção por parte da comunidade internacional sobre a situação em Cabo Delgado (...). Eu creio que se necessita mais atenção a esta situação", disse o cardeal, questionado por jornalistas durante uma conferência de imprensa em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado.
O secretário de Estado do Vaticano espera que a sua "visita especial" àquela província, que decorre desde segunda-feira, possa ajudar a atrair "mais atenção" da comunidade internacional.
"Eu tentarei fazer, como posso, dizer que temos de ajudar Moçambique para sair desta situação e viver a paz, segurança, na região de Cabo Delgado, que merece paz e segurança", disse o cardeal.
O responsável manifestou solidariedade face à crise humanitária vivida na região, reconhecendo o apoio prestado pela Igreja Católica às vítimas nos centros de acolhimento que visitou e onde, segundo Pietro Parolin, ouviu queixas de falta de "muitas coisas", incluindo alimentos e cuidados de saúde.
"Não temos de perder a esperança, apesar de todas as dificuldades que há e que encontramos. É então esta solidariedade (...) e esperança, diria, que são as palavras que resumem o conteúdo desta visita", concluiu o secretário de Estado do Vaticano.
Também o ex-Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, afirmou que a atenção do cardeal, a proximidade da "Santa Sé e o trabalho incasável" da diocese de Cabo Delgado, que vive uma "conjuntura difícil", representa a esperança, compaixão e resistência moral "dum povo de Cristo".
"Podemos afirmar que a Igreja Católica é insubstituível na promoção da paz, da justiça social e da reconciliação entre os moçambicanos e respeita a mais intervenientes nesta empreitada de paz", afirmou Nyusi, numa mensagem hoje na sua página da rede social Facebook, após participar, na segunda-feira, na celebração da eucaristia em Pemba, junto de Pietro Parolin.
Pietro Parolin pediu, na sexta-feira, em Maputo, o fim do terrorismo em Cabo Delgado, apelando à restauração de uma paz que deve basear-se no diálogo.
"A mensagem que partilhamos sempre (...) é do fim do terrorismo e a paz, uma paz que se construa através de encontros e através de diálogo", disse o cardeal Parolin, à margem do encontro com a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, no início da sua visita ao país.
A visita do Cardeal Pietro Parolin realiza-se no âmbito da celebração do 30.º aniversário das relações diplomáticas entre o Estado moçambicano e a Santa Sé, anunciou em finais de novembro a Conferência Episcopal de Moçambique (CEM).
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, rica em gás, é alvo de ataques de extremistas islâmicos há oito anos.
A organização de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês) estima que aquela província moçambicana registou 14 eventos violentos entre 10 e 23 de novembro, envolvendo extremistas do Estado Islâmico e provocando 12 mortos, e alertou para o agravamento da situação em Nampula.
Segundo o mais recente relatório da ACLED, dos 2.270 eventos violentos registados desde outubro de 2017, um total de 2.107 envolveram elementos associados ao Estado Islâmico Moçambique (EIM).
Estes ataques provocaram em pouco mais de oito anos 6.341 mortos, refere no novo balanço, noticiado pela Lusa em 28 de novembro, incluindo as 12 vítimas reportadas nestas duas semanas de novembro.
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