Morre Peter Arnett, Pullitzer que cobriu guerras do Vietname e do Golfo
- 18/12/2025
Arnett, natural da Nova Zelândia e vencedor do Prémio Pulitzer de 1966, pela cobertura da Guerra do Vietname para a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), morreu na quarta-feira em Newport Beach, rodeado por amigos e familiares, de acordo com o filho Andrew Arnett. O jornalista sofria de cancro da próstata.
"Foi um dos maiores correspondentes de guerra da sua geração --- intrépido, destemido e um excelente escritor e contador de histórias. As suas reportagens impressas e filmadas permanecem como um legado para os aspirantes a jornalistas e historiadores das próximas gerações", reagiu Edith Lederer, correspondente de guerra da AP no Vietname em 1972-73 e agora correspondente-chefe da mesma agência junto das Nações Unidas.
Como correspondente da AP, Arnett era conhecido principalmente pelos colegas pelo trabalho desempenhado no Vietname, de 1962 até o fim da guerra, em 1975. No entanto, tornou-se um nome mais conhecido do público em 1991, depois de transmitir ao vivo para a CNN notícias atualizadas do Iraque durante a primeira Guerra do Golfo.
Quando quase todos os repórteres ocidentais fugiram de Bagdade nos dias que antecederam o ataque liderado pelos EUA, Arnett permaneceu no local, escreve agora a AP. Os mísseis começaram a chover sobre a cidade, continua a agência de notícias, o repórter transmitiu uma reportagem ao vivo por telemóvel a partir do quarto de hotel.
"Houve uma explosão bem perto de mim, vocês devem ter ouvido", disse com uma voz calma e sotaque neozelandês, momentos depois de se ouvir o estrondo de um ataque com mísseis.
No Vietname, em janeiro de 1966, Arnett juntou-se a um batalhão de soldados norte-americanos que procuravam derrotar atiradores do Vietname do Norte e estava ao lado do comandante do batalhão quando um oficial parou para olhar um mapa. "Ouvi quatro tiros altos enquanto as balas rasgaram o mapa e atingiram o peito [do oficial], a poucos centímetros do meu rosto", lembrou Arnett durante uma palestra para a American Library Association em 2013. "Ele caiu no chão aos meus pés", concretizou.
Arnett chegou ao Vietname apenas um ano depois de se juntar à AP como correspondente na Indonésia. Um trabalho que teve vida curta já que, segundo contou, a economia indonésia estava a desmoronar-se, tendo sido expulso pela liderança do país.
No escritório da AP em Ho Chi Minh (então conhecida como Saigão), em 1962, Arnett viu-se rodeado por vários jornalistas conhecidos, incluindo o chefe da delegação, Malcolm Browne, e o editor de fotografia Horst Faas.
Arnett permaneceu no Vietname até a capital cair nas mãos dos vietnamitas do norte. Nos tempos que antecederam esses últimos dias, recebeu ordens da sede da AP em Nova Iorque para começar a destruir os documentos da agência, uma vez que a cobertura da guerra estava a chegar ao fim.
Em vez disso, enviou-os para a casa onde vivia em Nova Iorque, acreditando que um dia teriam valor histórico. Encontram-se hoje nos arquivos da agência.
Arnett permaneceu na AP até 1981, ano em que se juntou à recém-formada CNN, demitindo-se em 1999, meses depois de a emissora ter retirado do ar uma reportagem de investigação - não feita por Arnett mas narrada pelo próprio -, alegando que gás sarin letal tinha sido usado contra soldados norte-americanos que desertaram no Laos em 1970.
O jornalista encontrava-se a cobrir a segunda Guerra do Golfo para a NBC e a National Geographic em 2003, quando voltou a ser demitido por conceder uma entrevista à televisão estatal iraquiana, na qual criticou a estratégia de guerra do exército norte-americano.
Em 2007, Arnett aceitou um emprego como professor de jornalismo na Universidade de Shantou, na província chinesa de Guangdong. Depois de se reformar, em 2014, mudou-se com a mulher, Nina Nguyen, para os subúrbios de Fountain Valley, no sul da Califórnia.
Nascido em 13 de novembro de 1934, em Riverton, Nova Zelândia, Peter Arnett teve o primeiro contato com o jornalismo num jornal local, o Southland Times.
Tinha a ambição de trabalhar numa publicação maior em Londres, mas a caminho do Reino Unido, fez uma paragem na Tailândia e apaixonou-se pelo país. Aí trabalhou no jornal em língua inglesa Bangkok World e, mais tarde, num outro no Laos. Foi aí que estabeleceu contactos que o levaram à AP e a uma vida entre guerras.













