Moçambique prevê cheias que podem afetar 1,2 milhões de pessoas
- 14/10/2025
"Da parte que temos disponível, em termos de capacidade para lidar com isto, estamos a falar de cerca de seis mil milhões de meticais [81,4 milhões de euros], que é uma parte daquilo que foi computado como necessário para este ano, está disponível em meios, em equipamentos e algum dinheiro", disse o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa.
A época das chuvas em Moçambique começou este mês e prolonga-se até abril, tendo aquele órgão aprovado hoje o plano de contingência, que admite três cenários, podendo afetar de menos de um milhão a quatro milhões de moçambicanos. Contudo, o Governo trabalha como cenário mais realista consequências para cerca de 1,2 milhões de pessoas, na previsão intermédia.
"Feita a análise das previsões climáticas sazonais e a interpretação para a hidrologia, agricultura e saúde, conjugadas com a análise da vulnerabilidade e dos fatores de contenção, o Governo adota um plano de contingência que responda a um cenário de ocorrência de ventos fortes, inundações urbanas, seca, cheias e ciclones", explicou.
O plano, reconheceu Impissa, em declarações aos jornalistas no final da reunião semanal daquele órgão, tem "um défice de oito mil milhões de medicais [108,6 milhões de euros], que se espera ser reduzido através de outras fontes de financiamento, como sejam o seguro paramétrico, implementação de ações antecipadas à seca, cheias e ciclones, e doações em espécie ou em numerário".
Insistiu que "boa parte da resposta" no âmbito dos desastres naturais "tem estado no comportamento" da população, juntamente com a atual "boa capacidade" do país para fazer previsões, "resultado dos investimentos na área da meteorologia".
"E a política alterou. Para nós agora é investir na recuperação e não propriamente nos desastres. Nos desastres, o que vamos fazer é conseguir gerir o risco, mas queremos investir mais no restabelecimento das pessoas e no restabelecimento das condições para as pessoas poderem ser mais resistentes e resilientes às questões de risco", concluiu Impissa.
Em 12 de setembro, as autoridades moçambicanas alertaram para cheias de "grande magnitude" no país e inundações em pelo menos quatro milhões de hectares agrícolas durante a próxima época das chuvas, que se iniciou em outubro, em Moçambique.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre anualmente entre outubro e abril.
Só entre dezembro e março passados, na última época das chuvas, Moçambique foi atingido por três ciclones, incluindo o Chido, o primeiro e mais grave, no final de 2024, com registo de quase 200 mortos.
O número de ciclones que atingem o país "vem aumentando na última década", assim como a intensidade dos ventos, alerta-se no relatório do Estado do Clima em Moçambique 2024, do Instituto de Meteorologia de Moçambique, divulgado em março.
Os fenómenos meteorológicos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique, entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
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