Malaui vai a eleições gerais num contexto de inflação e crise climática
- 14/09/2025
Cerca de 7,2 milhões de eleitores vão ter um escrutínio presidencial, legislativo e autárquico.
Além do Presidente, entre os 17 candidatos, os malauianos vão também eleger 229 deputados para o parlamento e, a nível autárquico, 509 vereadores, segundo noticiou a BBC.
O chefe da Missão de Observação Eleitoral da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SEOM), Themba N. Masuku, e a respetiva missão vão estar no país e, em 18 de setembro, irão divulgar uma declaração preliminar sobre como correu o escrutínio, segundo um comunicado de imprensa da organização.
Em 22 de agosto, a União Europeia já tinha anunciado, em comunicado, que iria enviar uma missão de observação eleitoral, a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Comissão Eleitoral do Malaui.
A viver num contexto de inflação de 30% e fenómenos climáticos extremos, como a seca e ciclones, causados pelas alterações climáticas, este país vizinho de Moçambique anseia por dias melhores, que parecem distantes aos seus cidadãos.
"As pessoas sentem-se encurraladas. A economia está em crise, os políticos são sempre os mesmos e a maioria das pessoas não acredita que esta eleição vá mudar as suas vidas", afirmou em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP) Michael Jana, professor de ciências políticas malauiano da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul.
Lazarus Chakwera, um pastor evangélico de 70 anos, procura o seu segundo mandato. Chegou ao poder em 2020, depois de, em 2019, ter havido uma anulação dos resultados eleitorais por irregularidades.
Nas eleições de 2020, Chakwera, líder do Partido do Congresso do Malaui (MCP), obteve quase 59% dos votos e privou Peter Mutharika, de 85 anos, do Partido Democrata Progressista - partido mais antigo do país - de um segundo mandato.
O otimismo gerado pela transição obtida há cinco anos há muito que se dissipou devido, principalmente, à inflação galopante e aos escândalos de corrupção que comprometeram figuras do Governo.
Peter Mutharika espera capitalizar o descontentamento para obter uma vitória política, apesar de a estagnação económica, a escassez de bens essenciais e as acusações de nepotismo terem marcado o seu anterior mandato (2014-2020).
Uma sondagem publicada na semana passada dá uma vantagem de dez pontos a Peter Mutharika (41%), antigo professor de direito em Washington, sobre Lazarus Chakwera (31%), licenciado em filosofia e teologia.
"A menos que haja alianças que ultrapassem as profundas divisões territoriais do Malaui, é improvável que haja uma vitória logo na primeira volta", considera o docente Michael Jana.
Também a ex-Presidente Joyce Banda (2012-2014), o atual vice-presidente, Michael Usi e o antigo governador do banco central Dalitso Kabambe são candidatos presidenciais, mas as suas hipóteses são consideradas reduzidas.
No caso particular de Kabambe, está sob alegações de corrupção e branqueamento de capitais durante o seu mandato à frente do banco central.
Para o professor de ciências políticas na Universidade do Malaui, Boniface Dulani, o que está em causa neste escrutínio resume-se a uma palavra: economia.
"A inflação, a escassez de combustíveis e a corrupção minaram a confiança do grande público em Chakwera, cuja popularidade caiu para metade desde 2020", acrescentou.
O seu mandato foi afetado pela pandemia da covid-19, pela passagem do ciclone Freddy em 2023, que custou a vida a 1.200 pessoas no Maláui, por uma série de secas e escândalos de corrupção ligados ao executivo.
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