Luso-canadiano lança livro sobre percurso no basebol e saúde mental
- 30/11/2025
Filho de pais naturais das Caldas da Rainha, que emigraram há mais de 50 anos, Marques nasceu e cresceu em Oshawa, a cerca de 60 quilómetros a leste de Toronto, onde estudou informática no Durham College antes de trabalhar na área das tecnologias.
"Sempre gostei de desporto, mas cresci a ouvir que para ser agente era preciso ser advogado e achava que não era inteligente o suficiente para isso", afirmou, em declarações à Lusa.
O primeiro contacto com atletas profissionais surgiu entre 2010 e 2016, através de um podcast em que entrevistava jogadores de várias modalidades.
"Falava com atletas da NHL sobre futebol e com jogadores dos Blue Jays sobre hóquei. Foi assim que comecei a criar a minha rede no desporto profissional", disse o luso-canadiano, de 45 anos, enaltecendo que "essa experiência acabaria por abrir portas ao basebol".
Em 2016, um agente norte-americano convidou-o a integrar uma agência em Chicago.
O luso-canadiano descobriu então que não era obrigatório ser advogado para representar jogadores.
"Foi como descobrir que o meu sonho afinal era possível. Fiz o exame do sindicato e fiquei certificado em três meses", recordou.
A colaboração terminou quando percebeu que o agente enfrentava problemas judiciais nos Estados Unidos.
"Foi aí que percebi que tinha de seguir sozinho", afirmou.
Em maio de 2018 fundou a sua empresa, a Lake Ridge Sports Management.
Representa atualmente cerca de 30 atletas, incluindo jogadores universitários e um atleta na Liga Norte Americana de Beisebol (MLB), Dane Myers, dos Miami Marlins.
O livro "Not the Only One", lançado recentemente, resulta de dois anos de trabalho.
A obra descreve a forma como convive desde jovem com depressão, ansiedade e perturbação de personalidade obsessivo-compulsiva (OCPD).
"Sou extremamente organizado e funciono por padrões. Em vez de ver isso como um obstáculo, usei-o a meu favor para gerir dezenas de jogadores ao mesmo tempo", explicou.
Mas reconhece que há um lado difícil: "Quando perco um jogador ou algo corre mal, a depressão e a ansiedade fazem tudo parecer pior".
O autor recorda também a infância numa casa portuguesa em que o basebol não fazia parte do quotidiano.
"Basebol nunca foi mencionado em casa. O meu pai levava-me a jogos do Benfica e do Sporting quando íamos a Portugal, e a minha primeira memória é ver Maradona ganhar o Mundial", contou.
"Crescer numa casa europeia nos anos 80 e 90 era muito diferente. A saúde mental não se discutia e eu nem sabia que aquilo que sentia tinha nome", referiu.
Marques considera que o estigma em torno da saúde mental persiste, incluindo na comunidade portuguesa.
"As pessoas ainda não entendem verdadeiramente o que certas doenças significam. Dois diagnósticos iguais podem manifestar-se de formas completamente diferentes", sublinhou.
No livro, o agente procura mostrar os bastidores da profissão e desfazer mitos.
"Quando digo que sou agente, perguntam-me se sou como o Jerry Maguire. A realidade é muito mais dura, manter jogadores, lidar com pressões e tentar entrar no circuito canadiano é extremamente difícil", resumiu.
Derek Marques afirmou que a motivação central da obra é encorajar quem se sente bloqueado por dificuldades pessoais ou profissionais.
"Quero que as pessoas percebam que não estão sozinhas. Podemos realizar um sonho aos 20, 30, 40 ou 50 anos. E uma doença mental não tem de ser a razão para desistir", concluiu.
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