Lula submeterá pedido para se adiar assinatura do acordo UE/Mercosul
- 18/12/2025
A primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, "pediu-me que, se pudéssemos esperar uma semana, dez dias, um mês, então a Itália apoiaria o acordo", disse Luiz Inácio 'Lula' da Silva, citado pela agência notícias France-Presse (AFP), relatando uma conversa telefónica com a chefe do Governo italiano.
"Ela disse-me que não se opunha; só precisa de resolver alguns problemas políticos com os agricultores italianos, mas está confiante de que conseguirá convencê-los a aceitar o acordo", acrescentou o chefe de Estado do Brasil, a maior economia da América do Sul, concluindo que iria submeter o seu pedido aos outros países do Mercosul para que "decidissem o que fazer".
Na quarta-feira, a primeira-ministra italiana considerou que seria "prematuro" assinar o acordo "nos próximos dias", e já hoje o Presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou em Bruxelas: "Não estamos prontos, não há condições para assinar este acordo"
Na quarta-feira, Lula lançou uma espécie de ultimato, afirmando que, se o acordo não fosse assinado agora, não seria assinado durante a sua presidência, que termina no final de 2026.
Já hoje, após a sua conversa telefónica com Meloni, suavizou um pouco as suas palavras, dizendo, segundo a AFP: "Se não for possível assiná-lo agora porque eles não estão prontos, não posso fazer nada; vamos esperar até amanhã [sexta-feira], a esperança dá-nos vida".
As declarações de Lula da Silva surgem no dia em que os líderes europeus estão reunidos sobre este tema e num contexto de avisos por parte do bloco sul-americano, segundo os quais dará prioridade a outras geografias nas relações comerciais se o acordo não for assinado.
"Se [o acordo] não for concluído, não há mais nada a negociar e vamos direcionar a nossa atenção e energia para outros parceiros importantes que estão na fila", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Mauro Vieira, alertando que passarão a dar prioridade às negociações comerciais com aqueles que demonstraram um "grande interesse" em estreitar laços com o Mercosul.
O chefe da diplomacia brasileira espera que os países mais céticos em relação ao acordo de livre comércio com os sul-americanos reconsiderem a sua posição e deem luz verde para que seja assinado ainda este ano.
O ministro precisa de receber hoje o apoio do Conselho da UE, mas a forte oposição de França e as recentes dúvidas da Itália deixaram em aberto a assinatura do tratado.
Mauro Vieira atribuiu a rejeição de França e Itália às pressões dos setores agrícolas, que temem perder mercado e competitividade face aos produtos do Mercosul, integrado pela Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, com a Bolívia em processo de adesão.
Segundo o ministro, o acordo, que criaria uma zona de comércio livre com cerca de 720 milhões de habitantes, assume especial relevância num momento de desequilíbrio nas relações internacionais devido aos "ataques ao multilateralismo".
"O acordo criará uma rede de proteção para a UE e o Mercosul, e fortalecerá as nossas relações. Vai proteger-nos muito mais", insistiu.
Entre os possíveis parceiros, Vieira mencionou o Canadá, Reino Unido, Japão, Malásia, Indonésia e Vietname, bem como outros que desejam atualizar os acordos com o bloco sul-americano, como a Índia.
O acordo, cujas negociações começaram há mais de duas décadas, permitiria à UE exportar mais veículos, máquinas, vinhos e bebidas espirituosas para a América Latina, facilitando simultaneamente a entrada na Europa de carne bovina, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos, o que preocupa os setores em causa.
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