Lula apela para que jovens não desistam: "Fome não é falta de comida..."
- 24/11/2025
"A fome não é falta de comida, é falta de justiça. É o resultado de decisões políticas equivocadas, de desigualdades históricas, de sistemas económicos que concentram renda e oportunidade", disse o chefe de Estado brasileiro, após receber o título de doutor 'honoris causa', em Maputo.
A distinção, a 43.ª que já recebeu, foi proposta pela Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, unidade da Universidade Pedagógica de Maputo, e entregue diante de uma audiência de milhares de pessoas, entre autoridades governamentais, académicos e sociedade civil dos dois países, nomeadamente o chefe de Estado moçambicano, Daniel Chapo, em reconhecimento ao seu papel na ciência, política, desenvolvimento e cooperação internacional.
Em novembro de 2010, então em final de mandato, Lula da Silva já tinha recebido o mesmo título de doutor 'honoris causa' em Ciências Políticas, neste caso outorgado pela Universidade Eduardo Mondlane, a maior do país. Aquela foi também, então, a última visita de Lula da Silva, como Presidente do Brasil, a Moçambique.
"Quando eu tomei posse da Presidência da República do Brasil em 2003, na minha primeira reunião ministerial, eu (...) determinei que era proibido falar em gasto com educação. Educação é investimento e é o maior investimento que o Governo faz", afirmou.
Lula reiterou que ninguém pode ser privado de estudar pelo lugar que nasceu, pela religião ou pela origem financeira familiar, cabendo ao Estado garantir a todos as mesmas oportunidades: "eu sei quanto vale um trabalhador ir procurar emprego sem profissão, eu sei quanto vale uma menina, uma mulher, ir procurar emprego sem profissão. Eu sei quantos abusos a gente sofre sem ter tido as oportunidades. É por isso que a educação, para mim, é uma obsessão".
Lembrando a sua trajetória de vida, em que também enfrentou dificuldades para continuar com os estudos, o chefe de Estado brasileiro aconselhou aos jovens que "não desistam nunca", mesmo enfrentando situações adversas.
"Eu tenho na minha pele e eu tenho na minha vida o que é uma pessoa formada e uma pessoa não formada. Eu sei o quanto vale alguém que não tem uma formação e sei o quanto vale um trabalhador ir procurar emprego sem profissão, eu sei quanto vale uma menina, uma mulher, ir procurar emprego sem profissão", afirmou.
O Presidente continuou apelando à juventude que não desanime, e, em qualquer que seja a dificuldade enfrentada, "lutar sempre, desistir jamais".
"Meus queridos jovens, quando vocês não estiverem acreditando mais na política, quando vocês acharem que ninguém presta, quando vocês acharem que todo mundo é corrupto, ainda assim, pelo amor de Deus, não desistam, porque o político decente está dentro de vocês e não dentro dos outros", reiterou.
Aos políticos, o dirigente pediu organização, para fazer face aos problemas sociais universais.
"O mundo produz alimento suficiente para dois tantos de gente que tem no mundo comer e qual é a explicação de ter 700 milhões de pessoas passando fome? Isso não é a falta de vergonha na cara de quem governa o mundo? Não podemos aceitar que o povo pobre seja tratado como se fosse indivíduo, nós não somos indivíduos, queremos ser tratados com respeito", defendeu.
Reiterou que os povos querem apenas ter o direito de ter oportunidades de "uma empregada doméstica ter a sua filha na universidade, na mesma universidade da patroa, e um filho de pedreiro pode até ser engenheiro"
"É esse mundo que eu busco e é por esse mundo magnífico, reitor, e meu querido presidente Chapo, é por esse mundo que eu luto. Por isso eu disse para você, eu vou viver até 120 anos, porque enquanto eu viver em nível injusto, eu não vou parar de lutar", explicou, acrescentando que no céu ainda não há lugar para ele, pela sua rebeldia quando se trata de cuidar do povo "pobre, abandonado e deserdado do planeta".
Bernardino Feliciano, diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia, disse que a distinção nasce do reconhecimento da liderança política contemporânea de Lula da Silva, através do seu impacto "académico, ético e civilizacional".
O Presidente do Brasil, Lula da Silva, chegou no domingo ao final da tarde a Maputo, para a sua quarta visita a Moçambique, em três mandatos, a última das quais há precisamente 15 anos, tendo assumido o objetivo de "discutir o aprofundamento" das relações bilaterais com o homólogo moçambicano, Daniel Chapo, e fomentar as relações económicas.
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