Lei laboral, UE e Kyiv. O que une e separa António Filipe e Jorge Pinto?
- 08/12/2025
Os dois candidatos a Presidente da República estiveram hoje frente a frente na RTP, num debate no âmbito das eleições presidenciais de 18 de janeiro.
António Filipe começou por saudar "muito vivamente os trabalhadores que no próximo dia 11 vão participar da greve geral contra o pacote laboral", considerando que "é suficientemente grave para que os trabalhadores lutem contra ele", e acusou o adversário de ser próximo do "consenso neoliberal que tem conduzido o país à situação em que está".
O candidato apoiado pelo PCP admitiu pedir ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva de algumas normas e vetar politicamente outras que considerasse "lesivas dos direitos dos trabalhadores e do país".
Jorge Pinto considerou que "a greve geral dia 11 vai mostrar bem o quanto os portugueses estão contra estas propostas de alteração".
Na opinião do candidato apoiado pelo Livre, o Governo PSD/CDS-PP quer "mais precariedade, quer mais facilidade de despedimento, quer acabar com a contratação coletiva, quer até enfraquecer o próprio direito à greve".
Sobre a distinção da The Economist, que considerou Portugal como a "melhor economia do ano", o deputado do Livre afirmou que "esses indicadores valem o que valem" e defendeu um modelo económico caracterizado por uma aposta "na ciência, na tecnologia, na inovação, pelo alto valor acrescentado, pelos altos salários".
Quanto à lei da Eutanásia, os dois candidatos a Belém concordaram que não precisa de voltar à Assembleia da República.
O comunista considerou que "as inconstitucionalidades são expurgáveis por via de regulamentação", e disse que, apesar de discordar da morte medicamente assistida, respeita a decisão do parlamento.
Se fosse chefe de Estado, António Filipe teria promulgado a lei e perguntado ao Governo quando vai regulamentá-la.
Jorge Pinto defendeu que a lei deve ser regulamentada e não ficar "na gaveta por inação por parte do Governo".
No que toca à União Europeia, o antigo deputado do PCP afirmou-se patriota e não "eurodependente".
"Eu creio que Portugal naturalmente tem que respeitar os compromissos internacionais que tem, mas tem que ter uma voz própria nas organizações internacionais em que participa e não aceitar criticamente tudo aquilo que vem da União Europeia", sustentou.
O deputado do Livre assumiu-se como "um europeísta crítico, não um euroseguidista", e salientou que "ser patriota hoje é querer ter uma voz dentro do projeto europeu, porque é a única maneira de ter uma voz autónoma neste mundo multipolar".
Ucrânia? "O que me surpreende é que não esteja ao meu lado"
A guerra da Ucrânia foi outro dos assuntos que opôs estes dois candidatos à Esquerda.
"O que me surpreende é que não esteja ao meu lado no que diz respeito à Ucrânia, onde também há um invasor e há um invadido com toda a clareza. E eu nunca ouvi da parte do António Filipe a firmeza que tem ao atacar e a criticar os opressores noutros cenários e que não tem em relação a Putin e à Ucrânia", criticou Jorge Pinto.
"Em relação à Ucrânia, a minha posição é nem Putin nem Zelensky", respondeu António Filipe, considerando que a União Europeia "está a encontrar pretextos para tentar continuar a guerra".
Não se pode "condicionar o voto dos eleitores pelo medo"
Uma possível convergência à esquerda foi outro dos temas abordados neste debate, com António Filipe a considerar que, quando António José Seguro avançou, a "ideia de que poderia haver uma candidatura capaz de ganhar à primeira volta tornou-se imaginária" e recusou o voto útil, sustentando que não se pode "condicionar o voto dos eleitores pelo medo".
Jorge Pinto advogou que está a "fazer um enormíssimo favor às esquerdas", pois acredita que vai buscar votos aos indecisos e que iriam acabar por votar em Gouveia e Melo.
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