Learn Safely. Como Portugal e Noruega transformam recomendações de alunos

  • 18/12/2025

O ComParte e a Forandringsfabrikken, no âmbito do projeto europeu Learn Safely (Aprender com segurança, em português), criaram ferramentas a partir de cerca de 260 alunos em Portugal e na Noruega em situações reais de aprendizagem. As recomendações dos mais jovens foram desta forma transformadas em recursos práticos para professores.

 

O Notícias ao Minuto falou com as porta-vozes do ComParte e Forandringsfabrikken, que explicaram o projeto e os seus resultados práticos. 

O Comparte e a Forandringsfabrikken "são parceiros metodológicos há cerca de dez anos", começou por elucidar a gestora de projeto, Ísis Capucha, acresentando que, "na altura da criação daquilo que viria a ser o projeto ComParte", conheceram "a Forandringsfabrikken, que partilhou alguns pressupostos da sua metodologia e que serviram de inspiração ao desenho e consolidação da metodologia ComParte".

"Desde então, ambas as organizações desenvolvem um trabalho semelhante com jovens, usando também metodologias com componentes semelhantes, e têm, ao longo dos anos, mantido contacto, informalmente, no sentido de se atualizarem mutuamente sobre os seus projetos", realçou Ísis Capucha.

"Em 2024, surgiu a oportunidade de uma candidatura a um financiamento europeu em conjunto, em que a Forandringsfabrikken – promotora do projeto – procurava uma organização semelhante como parceira e desafiou o ComParte. O ComParte aceitou o desafio, a candidatura foi aprovada e assim surgiu a primeira parceria formal entre o ComParte e a Forandringsfabrikken".

Tendo como base este projeto, foram recolhidos diversos testemunhos de alunos para compreender de que forma os professores e escolas podem melhorar o bem-estar, a confiança e a segurança dos jovens em diferentes situações de aprendizagem.

Ísis Capucha referiu que, em Portugal, "este projeto foi realizado em cinco Agrupamentos de Escolas de Portugal, nomeadamente nas regiões de Tomar, Bobadela, Poceirão, Alvalade e Amora".

"As experiências dos alunos são diversificadas, e recolhemos testemunhos positivos – sobre coisas e comportamentos que ajudam os alunos a sentir-se seguros, confiantes e a aprender melhor - e negativas em relação a estes temas", continuou, notando que, com este processo, perceberam "que existem já muito boas práticas nas escolas, bem como nas relações entre os jovens e os adultos".

No entanto, ressalvou que "ainda existe muito trabalho a fazer para que os alunos se sintam seguros na escola, na sala de aula e no seu processo de aprendizagem".

Já Karoline Normandbo, advisor da Forandringsfabrikken, deu conta de que "os alunos noruegueses partilharam conselhos muito concretos sobre o que faz com que a aprendizagem seja sentida como segura no quotidiano escolar. Muitos sublinharam a importância de se sentirem seguros com os professores, de serem ouvidos, de trabalharem em colaboração e de não serem expostos perante a turma".

Por exemplo, "os alunos descreveram um professor seguro como alguém que demonstra envolvimento e cuidado, fala de forma gentil, mantém a calma e procura compreender os alunos, em vez de ser excessivamente rígido ou de gritar. Destacaram que sentirem-se vistos e levados a sério pelo professor é essencial para se sentirem suficientemente seguros para participar nas aulas" ou "explicaram que os alunos aprendem de formas diferentes e, por isso, preferem diferentes formas de avaliação, como trabalhos de grupo, conversas com o professor, filmes ou tarefas escritas".

"De forma geral, os testemunhos mostraram que os alunos encaram a segurança como algo fortemente ligado às práticas quotidianas de ensino e ao comportamento dos adultos na sala de aula", destacou Karoline Normandbo.

Quais as diferenças entre Portugal e a Noruega?

Para a portuguesa Ísis Capucha, "as grandes diferenças" entre os dois países "são contextuais e relacionadas com componentes culturais e com o próprio funcionamento do sistema da Educação em cada um dos países".

"Em ambos os países, os alunos falam da importância da confiança e da empatia, de poderem fazer parte das decisões sobre o seu processo de aprendizagem e de avaliação e sobre como é importante sentirem-se ouvidos, valorizados e respeitados por colegas e professores para se sentirem seguros", referiu a gestora do ComParte.

O ComParte apontou ainda que foi recolhido "algum conhecimento muito específico trazido por alunos migrantes, sobre a integração na escola e sobre como isso influencia a segurança com que estão na sala de aula", ao contrário da Noruega, onde não há uma expressão tão grande de alunos que sejam migrantes.

Por seu turno, Karoline Normandbo destacou que "uma das conclusões mais marcantes foi a semelhança dos conselhos dados pelos alunos nos dois países".

"Tanto na Noruega como em Portugal, os alunos sublinharam a importância da colaboração com os alunos na escolha dos métodos de aprendizagem e de avaliação, da existência de boas relações com os professores e com os colegas, e da necessidade de se sentirem seguros para fazer perguntas e não terem receio de errar", disse, à semelhança de Ísis Capucha.

A advisor da Forandringsfabrikken salientou, no entanto, que, por exemplo, "os alunos portugueses falaram mais frequentemente do stress associado aos testes escritos e à língua, sobretudo entre alunos que não dominam o português de forma fluente".

Já "os alunos noruegueses também abordaram a avaliação, mas com maior enfoque na diversidade de métodos de aprendizagem e formatos de avaliação". 

"No geral, as semelhanças foram muito mais significativas do que as diferenças. Os conselhos dos alunos apontam para necessidades comuns de segurança, respeito e inclusão para além das fronteiras nacionais, sugerindo que o que os alunos dizem sobre aprendizagem segura é altamente relevante para além de um único país", sublinhou Karoline.

Como é que as ferramentas práticas desenvolvidas podem ser aplicadas?

Neste momento, já existe o site do projeto e qualquer pessoa "pode ter acesso aos recursos e ferramentas resultantes do Learn Safely". Podem ser usadas por todos, ainda assim, há um "especial foco nos professores"- de todo o país e Europa.

"Esperamos que estas ferramentas possam ajudar a transformar práticas do dia a dia em sala de aula e também que, a longo prazo e ambicionando um uso mais generalizado das mesmas, possa fazer a diferença na vida das escolas e dos alunos. Quem sabe, no futuro, algumas destas ferramentas possam eventualmente vir a tornar-se recomendações de instâncias políticas para as escolas, como algo concreto que podem implementar para transformar a educação", disse Ísis Capucha.

Estas ferramentas, note-se, "foram concebidas para serem utilizadas em conjunto com os alunos, diretamente na sala de aula". 

"As ferramentas estão organizadas em torno de quatro temas: sentir-se seguro na sala de aula, colaboração com os alunos, trabalho em grupo e interrupção do barulho de forma segura. Os professores podem utilizar estas ferramentas e conselhos para conversar com os alunos sobre a forma como querem trabalhar em conjunto, por exemplo no planeamento de trabalhos de grupo, apresentações, métodos de avaliação ou atividades para se conhecerem melhor na turma", explicou Karoline.

Mas o que é que significa na prática? "Significa que os professores utilizam as ferramentas como atividades concretas, exercícios curtos ou conversas em contexto de sala de aula. O objetivo não é introduzir um programa rígido, mas apoiar mudanças práticas no ensino do dia a dia que façam com que os alunos se sintam mais seguros, incluídos e capazes de participar".

Karoline Normandbo salientou ainda que, "uma vez que as ferramentas se baseiam diretamente nos conselhos dos próprios alunos, ajudam os professores a compreender o que é sentido como seguro do ponto de vista dos alunos e a utilizar esse conhecimento, em conjunto com a turma, para chegar a soluções que funcionem para aquele grupo específico".

Os desafios

Sobre quais poderão ser os maiores desafios para que estas ferramentas possam ser aplicadas em Portugal, Ísis Capucha salientou que "já existem muito boas práticas nas escolas e que existe um grande esforço da parte dos professores para serem cada vez mais cuidadosos e criativos nas suas aulas".

Ainda assim, não descartou que possam, de facto, surgir "desafios na aplicação" destas ferramentas, desde logo, "tempo e organização curricular", tendo em conta que "algumas ferramentas requerem tempos de aula que nem sempre estão disponíveis, devido à carga programática das disciplinas".

E que mais? "Tempo para que o professor possa aprofundar-se em todas as ferramentas do projeto e integrá-las estrategicamente nas suas aulas" ou até uma "cultura escolar menos flexível", visto que "algumas das ferramentas incluem dinâmicas mais informais e em jogos, que podem não ser tão bem recebido em escolas com uma cultura mais tradicional ou por professores com menos disponibilidade para a implementação de ações que vão para lá das disciplinas e conteúdos programáticos".

Por fim, o "desafio de disseminação" porque "sem um apoio a nível de políticas públicas e sem uma aplicação transversal, ampla e continuada destas ferramentas na rede escolar, as ferramentas resultantes do Learn Safely podem ficar menos sistematizadas e ser encaradas como algo “extra” e que é usado apenas pontualmente e por poucas pessoas".

Já para Karoline Normandbo, "um dos principais desafios é o facto de os professores já terem uma carga de trabalho elevada e tempo limitado" e, por isso, "novas ferramentas podem ser encaradas como exigentes se forem percecionadas como algo adicional às responsabilidades existentes".

Assim, "o recurso online foi concebido para ser prático, flexível e fácil de integrar no ensino quotidiano. As ferramentas não exigem preparação adicional nem formação especializada e podem ser utilizadas em sessões curtas, em conjunto com os alunos, no contexto das aulas regulares".

Na ótica da advisor da Forandringsfabrikken, "o impacto potencial é muito significativo". 

"Quando os professores passam a compreender melhor a forma como os alunos vivenciam a segurança e a inclusão, isso pode conduzir a salas de aula mais calmas, a relações mais fortes entre professores e alunos e a uma redução do número de alunos que se sentem excluídos. A médio e longo prazo, isto pode melhorar as condições de aprendizagem e contribuir para a redução das dificuldades de aprendizagem, do absentismo escolar e do abandono escolar precoce", fez sobressair.

Quais as conclusões?

A porta-voz do ComParte apontou que a "grande conclusão depois do processo de auscultação das cinco escolas" é que "os próprios alunos são as melhores pessoas para identificar o que é 'sentir-se seguro', sabem identificar o que faz a diferença e têm conhecimento que pode ser transformado em práticas, ferramentas ou até políticas públicas".

"Em geral, a maioria das partilhas dos alunos sobre o que significa 'sentir-se seguro' estão ligadas a experiências de confiança, inclusão, oportunidades de participação e relações de qualidade com professores e colegas", frisou.

"Sentir-se seguro em sala de aula pode significar algo tão simples como: Fazer perguntas sem medo de parecer 'estúpido', ter professores que olham a pessoa que é cada aluno, poder ser quem somos e poder escolher como gostamos de ser avaliados", entre outras.

Leia Também: Um em cada dez jovens europeus deixou ensino ou formação pelo menos 1 vez

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/pais/2906058/bem-estar-e-seguranca-o-que-pode-mudar-dentro-de-uma-sala-de-aula#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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