Investigação transforma jacintos-de-água em fertilizantes por compostagem
- 12/12/2025
O projeto, denominado BioComp 3.0, reuniu um consórcio de 13 entidades -- entre empresas, instituições de ensino superior, centros de investigação, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e a comunidade intermunicipal da Região de Coimbra -- ao longo de dois anos e meio, para estudar o que fazer com a biomassa resultante da retirada daquele infestante de rios e lagoas.
Em declarações à agência Lusa, Manuel Rodrigues, especialista em agronomia do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e coordenador do BioComp 3.0, notou que o projeto não se focou em resolver a proliferação daquelas plantas invasoras - definindo-a como "uma guerra entre a capacidade ecológica do jacinto e a capacidade do ser humano de o remover -- mas antes o que fazer à biomassa que é gerada com a sua retirada dos cursos de água.
"O foco do projeto é o de que, enquanto este problema persistir, e as perspetivas [de resolução] não são animadoras, gera muita biomassa. E, neste momento, não está claro qual o destino dessa biomassa", argumentou.
Assim, o BioComp 3.0 avaliou "imensas variantes e linhas de trabalho", reunindo mais de uma dezena de entidades, "cada uma agregando as suas ferramentas ao consórcio", tendo explorado a via da compostagem como solução para a biomassa dos jacintos-de-água.
O especialista observou, no entanto, que esta não pode ser utilizada por si só "porque não resulta num composto de qualidade", tendo de ser combinada com outros resíduos orgânicos.
"Fez-se um grande levantamento de todos os resíduos orgânicos da região [de Coimbra], desde estrumes pecuários, a materiais agroindustriais ou estilha de floresta, e encontraram-se alguns que achamos, à partida, que são bons parceiros para compostar com o jacinto", indicou.
As duas soluções mais promissoras, vincou, passaram por criar dois compostos diferentes, um combinando a biomassa da planta invasora com estilha florestal, "que é muito abundante aqui na região", e outro que junta àqueles dois resíduos uma percentagem de estrume de cavalo.
Posteriormente, estes dois compostos foram experimentados numa diversidade de culturas agrícolas para testar o seu comportamento agronómico.
O investigador notou que para a compostagem ser viável e os produtos daí resultantes serem comercializados e utilizados pelos agricultores, é necessário existir uma matéria-prima disponível ao longo do ano, sem que perca as suas características funcionais, o que sucede com a estilha florestal.
No entanto, face às características muito próprias da biomassa de jacintos-de-água, - cujo manuseamento tem de ser realizado sob cuidados e procedimentos especiais, nomeadamente das suas sementes, que caindo em cursos de água levam à proliferação descontrolada da planta - o passo seguinte a esta investigação passa por existir um conjunto de autorizações e certificações da responsabilidade das autoridades do ambiente, com vista a uma eventual futura comercialização.
"A compostagem e valorização agronómica já está mais ou menos vista. A questão que agora tem de ser discutida é a legalidade disto tudo. Eu agora não posso agarrar num trator disto [da biomassa dos jacintos-de-água] e ir compostar, é ilegal, é proibido. Sendo uma invasora perigosa, e havendo o risco de se propagar ainda mais, não se pode mexer nisto sem as autorizações legais estarem desbloqueadas", avisou Manuel Rodrigues.
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