Investigação agita campanha: Explicações e críticas à "campanha suja"
- 29/12/2025
Após a polémica em torno da transparência e da necessidade de Marques Mendes divulgar a lista de clientes da sua empresa, há um novo caso a agitar a pré-campanha presidencial: as alegadas investigações do MP a ajustes diretos feitos na Marinha sob a alçada de Gouveia e Melo. As reações dos candidatos presidenciais convergem na recusa de um julgamento antes do tempo, mas divergem no tom.
Se António José Seguro se recusa a fazer "aproveitamento político" do caso, Marques Mendes exige uma explicação célere do ex-almirante, com que, ainda há uns dias, teve um aceso debate sobre transparência.
O que dizem os candidatos?
O candidato a Presidente da República Luís Marques Mendes manifestou-se surpreendido com a investigação judicial a Gouveia e Melo hoje noticiada, considerando que terá de haver uma explicação pública por parte do seu adversário na corrida presidencial.
"Não comento suspeitas, há é uma investigação judicial que eu não conhecia e acho que o país também não conhecia a Gouveia e Melo, aí a Justiça, obviamente, vai decidir no seu tempo próprio. Mas há uma outra questão, no entretanto, que é uma explicação pública, isso é um dever e uma obrigação de Gouveia e Melo se está a ser investigado, vamos aguardar, ele seguramente vai dar uma explicação", afirmou, em Castelo de Vide, distrito de Portalegre, à margem de uma ação de campanha.
"Eu fiquei [surpreendido] porque não sabia, não sei se alguns dos senhores sabia, se algum português sabia, para mim foi completa novidade, mas eu insisto: eu tenho um padrão, eu não comento suspeitas", acrescentou.
Já António Filipe, quando questionado sobre a investigação do Ministério Público a ajustes diretos na Marinha a envolver Henrique Gouveia e Melo, disse tratar-se da "justiça a funcionar" e que se "há investigações a fazer que se façam".
Sobre a coincidência temporal entre a divulgação destas investigações e os períodos eleitorais, António Filipe defendeu que deve ser a justiça a dar esse tipo de explicações e que era desejável que o fizesse para não ficar a ideia de que quando há campanhas eleitorais "surgem sempre notícias relativamente a investigações".
"É bom que sejam as próprias entidades responsáveis a explicar o que é que está em causa, que investigações são essas e em que ponto é que estão. Eu acho que é a única forma de esclarecer essa questão, para não andarmos todos assim numa nebulosa sem perceber muito bem o que é que está a passar", acrescentou.
Por sua vez, o candidato presidencial João Cotrim Figueiredo pediu hoje um "rápido esclarecimento" do caso dos ajustes diretos aprovados por Gouveia e Melo.
"Espero que não seja mais um daqueles casos da chamada campanha suja que alguns dos órgãos de comunicação social têm feito eco e que não sejam aquelas coincidências de aparecerem todo o tipo de suspeitas e processos que já duravam há tanto tempo e que agora rebentam precisamente no meio da campanha eleitoral e que haja rápido esclarecimento", disse Cotrim Figueiredo aos jornalistas, na Guarda.
À margem da visita ao lar de idosos de São Silvestre, da ADM Estrela, na localidade de Vale de Estrela, a poucos quilómetros da Guarda, o candidato presidencial acrescentou que "sempre que uma destas suspeitas se levanta, o melhor que pode acontecer é que ela seja rapidamente encerrada, de um sentido ou de outro, e é nesse sentido que eu faço votos".
O socialista António José Seguro defendeu que a lei se aplica a todos e recusou usar processos de investigação para "fazer aproveitamento político".
"Quero dizer duas coisas muito claras. Primeiro, a lei aplica-se a todos. Segundo, eu não aproveito processos de investigação para fazer aproveitamento político", respondeu, sinteticamente, Seguro.
Catarina Martins, por seu lado, defendeu que é necessário que "esta campanha não seja sobre casos, mas sobre as crises do país". "Em relação a este caso e a todos os casos, tenho dois pedidos a fazer. O primeiro é que sejam todos investigados até às últimas consequências. O segundo é que esta campanha não seja sobre casos, mas sobre as crises do país", afirmou, em declarações aos jornalistas, em Lisboa.
A bloquista frisou, ainda, que "todos os casos devem ser investigados e devem ser investigados num calendário que não deve ter a ver com as eleições, mas sim com o funcionamento do Estado e da justiça".
O candidato presidencial André Ventura exigiu hoje que Gouveia e Melo dê explicações quanto à investigação, afirmando que os políticos têm "mais deveres" que os cidadãos porque se candidatam a cargos públicos. "Todos os políticos têm os mesmos direitos que os outros cidadãos, mas têm mais deveres quando se candidatam a cargos públicos. É o meu caso, é o caso do Gouveia e Melo também [e] é o caso do doutor Marques Mendes", disse.
Em causa, estão ajustes diretos aprovados pelo ex-almirante
A revista Sábado noticiou hoje que o Ministério Público (MP) de Almada está a investigar vários ajustes diretos aprovados por Henrique Gouveia e Melo enquanto comandante Naval da Marinha, entre 2017 e 2020, e a informação caiu que nem uma bomba no ambiente de campanha que se vive por estes dias. É que Gouveia e Melo tem sido dos principais críticos de Marques Mendes, apontando o dedo ao adversário em diversas ocasiões: tanto nessa questão da necessidade de transparência como, mais recentemente, com a questão do Conselho de Estado.
Na reação a esta investigação, o candidato presidencial visado manifestou-se tranquilo, afirmando que "quem não deve não teme", e declarou-se disponível para responder se for notificado.
"Eu sou totalmente transparente. Quem não deve, não teme. Se for notificado, vou responder. Nós não escondemos nada", afirmou, em resposta a jornalistas em Angra do Heroísmo, nos Açores, à margem de uma visita à incubadora de empresas Start Up Angra.
Confrontado com a notícia, Gouveia e Melo disse que nunca foi notificado, nem ouvido em nenhuma das qualidades, acrescentando que nem conhecia a existência do processo no DCIAP de Almada, tendo descoberto apenas pela Sábado.
"Se quiserem tirar dúvidas, por favor, chamem-me que eu vou tirar as dúvidas que forem necessárias sobre os meus procedimentos, sobre a forma como decidi, porque é que decidi de uma determinada maneira. Eu estou completamente tranquilo", disse.
"Uma coincidência muito estranha"
Gouveia e Melo disse que não teve "nenhum empresário" que lhe pagasse ou com quem estivesse associado, frisando que foi sempre íntegro e que tentou "decidir em todos os momentos sempre a favor do Estado".
"Alguém já me acusou disso? Se alguém me acusar disso que me acuse na cara, porque só ganhei o meu ordenado, nunca tive contactos com fornecedores. Venham-me acusar na cara e com provas de que eu tive ganhos diretos, não venham é insinuar", vincou.
O candidato presidencial questionou a altura em que a notícia foi divulgada: "Como é que a 15 dias do processo eleitoral aparece uma coisa de 2017 ou 2018. Não há uma coincidência? Acho essa coincidência muito estranha".
Gouveia e Melo disse ter sido "o chefe da Marinha que mais contribuiu para melhorar os procedimentos administrativo-financeiros", por ter identificado "muitas fragilidades no Estado que podiam ser aproveitadas".
"Fiz despachos específicos para criar núcleos altamente profissionalizados, que evitassem um conjunto de situações que pudessem dar origem a processos de alguma forma que comprometessem a Marinha", assegurou.
No entanto, alegou que quando chegou ao cargo existia "uma estrutura administrativo-financeira que tratava das aquisições", que "não tinha poder para mudar".
"Apesar de eu ser o líder desse setor, que era o setor das operações, tínhamos uma estrutura por baixo que tratava desses processos. Nunca lidei diretamente com fornecedores, nunca conversei com fornecedores, não conheço os fornecedores", assegurou.
Reiterando que não conhece o que está a ser verificado na investigação, o candidato revelou que existiam níveis administrativos que chegavam a si para autorizar pagamentos, mas "todo o processo administrativo era preparado por uma entidade que era profissional".
"Se me quiserem acusar de qualquer coisa, que me acusem na cara, para eu poder defender-me no foro certo, agora insinuações à última da hora de que eu estou ligado a processos que nem sei quais são sequer. Eu não sei a que processos se estão a referir. Digam-me claramente o que é para eu me poder defender e explicar porque tomei determinadas decisões na altura", sublinhou.














