Indústria de defesa ucraniana tem "campo de ensaio" para ajudar europeus

  • 14/12/2025

"Se pudermos ajudar os nossos parceiros através destes conhecimentos, temos de o fazer, porque vemos todos os dias como os russos fazem ataques híbridos contra a União Europeia", destaca Ihor Fedirko em entrevista à agência Lusa.

 

O diretor-geral do Conselho da Indústria de Defesa Ucraniana (UCDI, na sigla em inglês) assinou na quarta-feira em Lisboa um memorando com a idD Portugal Defence, que estabelece "uma nova fase" na cooperação estratégica entre os dois países, segundo um comunicado divulgado.

O entendimento prevê o reforço do envolvimento das empresas portuguesas e ucranianas, a partilha de informação e de conhecimento e identificar e desenvolver iniciativas conjuntas, com destaque para a inovação.

"Quisemos obter informação, o que é que Portugal produz exatamente, o que pode propor, o que é que podemos fazer em conjunto", segundo Ihor Fedirko, após um primeiro contacto em Portugal "bastante bom".

Anteriormente, a associação que reúne 280 produtores de equipamento militar ucranianos apenas tinha boas referências de uma empresa portuguesa de drones de reconhecimento, que está na lista de necessidades do seu país, mas o potencial é bastante superior.

"Sabemos que são muito bons no domínio aeroespacial, que os vossos conhecimentos sobre o mar, a costa e o ambiente também são enormes e que podemos partilhar a experiência e os conhecimentos entre as nossas indústrias de defesa", refere, dando pelo seu lado como exemplo da capacidade ucraniana a forma como "destruiu totalmente a frota russa no Mar Negro".

Além disso, o diretor-geral da UCDI salienta o domínio das empresas portuguesas em investigação e desenvolvimento de novos produtos e a instalação de centros de conhecimento de excelência da NATO em Portugal.

"É por isso que temos de estar aqui. Temos de criar estas pontes entre a nossa indústria de defesa e a vossa para ver a lista das nossas melhores partes e onde podemos exatamente comunicar", assinala.

Nesse sentido, perspetiva o desenvolvimento de uma 'joint-venture' de coprodução militar a instalar em Portugal, que combine a experiência ucraniana com a tecnologia portuguesa, para criar novos tipos de armamento que possam defender tanto a Ucrânia como Portugal e os restantes países europeus.

Como antecedente desta cooperação, Ihor Fedirko aponta o projeto SAFE, da União Europeia, e outros instrumentos de contratação pública conjunta de segurança e defesa, em que Bruxelas coloca "pela primeira vez a Ucrânia em pé de igualdade" e abre um caminho "atrativo e interessante" para a indústria do seu país.

"Temos de fazer parte do ecossistema de defesa coletiva da Europa e da NATO", sustenta o líder da organização ucraniana, que espera ver ultrapassadas, ainda este ano ou no início de 2026, limitações internas à exportação de equipamento militar e aprofundar a sua interoperabilidade com a Aliança Atlântica.

A este respeito, o representante observa que desde o começo da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022, as forças ucranianas usam uma vasta gama de equipamentos, referindo o exemplo dos sistemas de artilharia que são essencialmente francês, sueco e polaco. Uma diversidade que permite, destaca, "conhecer todos os pontos fracos e as melhores partes de cada um".

Este "campo de ensaio" acumulado pode ser colocado ao serviço dos aliados europeus, numa fase em que se sucedem ações de provocação nos países próximos do conflito, desde logo os bálticos e a Polónia: "Os russos são muito bons nisso. E temos todos os conhecimentos para nos defendermos, para lutarmos contra elas", frisa.

Desde o começo da guerra, o número de empresas privadas do setor da defesa disparou para mais de 800 (que se somam a outras 100 públicas) e cerca de 200 mil trabalhadores, num "ambiente extremamente perigoso" sob bombardeamentos diários e ataques híbridos e cibernéticos, que todavia não impediram "o crescimento da produção ano após ano".

Em 2025, essa capacidade deverá rondar os 35 mil milhões de dólares (30 mil milhões de euros), segundo o responsável da UCDI, e com uma estimativa no próximo ano de 50 mil milhões de dólares (42 mil milhões de euros).

No entanto, a Ucrânia apenas consegue absorver 40% desta oferta, que resultou do apelo das autoridades de Kiev para que quer o setor público como o privado aumentassem a sua produção, mas que agora precisa de financiamento e de escoar parte dos produtos para exportação, sob o risco de encerramento das empresas devido à falta de contratos e mais compras.

"Estamos a procurar este financiamento em toda a Europa, em todo o mundo", afirma o diretor-geral da indústria ucraniana.

No caso dos drones, que a guerra na Ucrânia evidenciou como um equipamento que mudou o campo de batalha, Fedirko refere que cerca de 270 empresas ucranianas estão dedicadas à produção de mais de 7,5 milhões de unidades FPV (com câmara integrada) por ano, mas esse número poderia aumentar para dez milhões com "financiamento estável e contratos previsíveis".

É neste contexto que surge o recente anúncio feito pelo Governo ucraniano da abertura de escritórios de exportação em Berlim e em Copenhaga, a par da intenção de replicar as principais instalações ucranianas em solo dos parceiros europeus, como é o caso de Portugal.

Na futura cooperação com os aliados, o diretor-geral dos fabricantes privados ucranianos assinala ainda os equipamentos de dupla utilização (civil e militar), que deverão preencher parte do compromisso dos aliados da NATO com uma despesa de 5% dos respetivos Produtos Internos Brutos na próxima década.

Devido à necessidade imediata de resistir à agressão russa, as empresas ucranianas "não estavam muito focadas" nos produtos de dupla utilização, afirma Ihor Fedirko.

"Mas há poucos meses recebemos uma mensagem forte de que temos de pensar nessas tecnologias, por causa da NATO e da União Europeia", indica o líder das empresas ucranianas, e que implica igualmente o objetivo de reduzir a dependência de componentes chineses e a ameaça de serem ultrapassadas por uma oferta mais barata.

Este cenário seria "um desastre" para a indústria ucraniana, reconhece Ihor Fedirko, e é também por isso que, apesar de o seu país permanecer concentrado no estado de guerra, precisa alargar a sua oferta "se quiser fazer parte do ecossistema da Europa e da NATO".

Leia Também: Zelensky confirma presença nas negociações sobre o país em Berlim

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2903910/industria-de-defesa-ucraniana-tem-campo-de-ensaio-para-ajudar-europeus#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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