HRW critica atuação na investigação após operação nas favelas do Rio
- 01/11/2025
Segundo a HRW, a polícia não preservou o local dos tiroteios para análise, uma medida considerada importante para determinar as circunstâncias das mortes.
Um perito do Rio de Janeiro disse à organização internacional que, pelo que sabe, não houve perícia em nenhuma das mortes.
Já um promotor terá acrescentado que o Ministério Público está a aguardar a confirmação se foi de facto essa a forma de atuar da polícia.
"As famílias das pessoas mortas na operação de 28 de outubro [terça-feira], incluindo as dos polícias, merecem saber as circunstâncias da morte dos seus entes queridos. Estamos muito preocupados porque etapas cruciais da investigação não foram realizadas e provas importantes podem já ter sido perdidas", disse o representante da Human Rights Watch no Brasil, César Muñoz.
Cerca de 2.500 policias militares e civis fortemente armados, apoiados por veículos blindados e helicópteros, entraram em bairros dos complexos do Alemão e da Penha numa operação contra uma das mais poderosas fações criminosas do Brasil.
Seguiram-se tiroteios que duraram horas.
As autoridades informaram nesse dia que 64 pessoas morreram, incluindo quatro policias.
No dia seguinte, os moradores encontraram dezenas de outros corpos numa área de mata.
O secretário da polícia militar disse que a policia empurrou os membros do grupo criminoso em direção à área de mata que eles usavam como rota de fuga.
Ao que tudo indica, a unidade de elite da polícia militar, o BOPE, estabeleceu um "muro", com agentes à espera pelos supostos membros da fação em fuga.
Uma moradora, cujo corpo do filho foi encontrado na mata, disse à imprensa que este lhe enviou a sua localização e disse que se queria entregar, mas tinha medo de que a polícia o matasse.
Já o perito consultado pela HRW acredita que os polícias recuperaram as armas que estavam nas mãos das pessoas mortas no local e foram-se embora.
Na manhã de quarta-feira, moradores foram até à área de mata e recuperaram dezenas de corpos, que foram levados para uma praça no bairro da Penha.
Também jornalistas terão encontrado nessa área provas como manchas de sangue, cápsulas de balas e roupas.
"Reconhecemos as dificuldades inerentes a uma área de mata, mas causa estranheza a ausência de controlo sobre o isolamento do local", disse o procurador-geral do estado do Rio de Janeiro.
O secretário de polícia civil, chefe da força estadual encarregada de investigar crime, disse que abriu uma investigação sobre os moradores que removeram os corpos por possível adulteração de provas, acusando-os de tirar as roupas dos mortos.
Mas para a Human Rights Watch, os moradores só conseguiram chegar aos corpos porque a polícia não protegeu o local do tiroteio.
A organização também questiona o facto de os peritos criminais não terem ido à praça para onde os moradores removeram dezenas de corpos, disse o perito.
"Essa foi uma importante falha adicional da investigação", afirmou a organização, considerando que peritos criminais deveriam ter ido à praça para tirar fotografias e recolher provas, incluindo amostras de resíduos de pólvora.
Coube aos bombeiros recolher os corpos da praça e levá-los para o Instituto de Medicina Legal (IML), onde peritos estão a realizar autopsias, mas há preocupações com a limitação de pessoal e da infraestrutura, além do subinvestimento crónico na perícia do estado.
Algumas organizações da sociedade civil, incluindo a Human Rights Watch, solicitaram ao procurador-geral do Rio de Janeiro que garantisse a presença de um representante das vítimas nas autópsias, mas o pedido não terá sido atendido.
A polícia afirmou ter apreendido 118 armas, tendo-as apresentado à imprensa, aspeto que a HRW também questiona, uma vez que o procedimento habitual passa por manter as armas numa cadeia de custódia rigorosa, em sacos lacrados, e enviadas para a perícia para análise de impressões digitais e balística.
Reportagens de televisão mostram polícias e até jornalistas a mexer nas armas e outros equipamentos apreendidos sem luvas.
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