Hong Kong suspende exposição de fotojornalismo com material sensível
- 24/11/2025
A exposição da Hong Kong Press Photographers Association (HKPPA), inaugurada na terça-feira, 18 de novembro, e que deveria decorrer até 08 de dezembro no Koo Ming Kown Hall, foi interrompida na sexta-feira, apenas quatro dias após a abertura, quando os organizadores foram notificados de que o local tinha sido encerrado para trabalhos técnicos sem data de reabertura.
Num comunicado, citado hoje pelo portal de notícias Hong Kong Free Press, a associação lamentou "fatores imprevisíveis" e a impossibilidade de transferir uma exposição que estava a ser preparada há nove meses.
Intitulada "Presença", a seleção reúne imagens e séries gráficas de marcos históricos da cidade desde o final da década de 1980, incluindo os protestos pró-democracia de 2014 e 2019.
"Privar o público do acesso à memória visual do fotojornalismo de Hong Kong é um dano irreparável para a profissão", afirmou a associação, que disse que alguns dos conteúdos estarão disponíveis digitalmente e reiterou que os membros do grupo "continuarão a documentar para a sociedade".
O incidente segue-se a outros cancelamentos abruptos de atividades de grupos independentes, organizações não-governamentais e partidos da oposição de Hong Kong, quase sempre justificados com "reparações urgentes" ou sem explicação.
O Hong Kong Free Press mantém uma cronologia atualizada destes casos, incluindo a impossibilidade de o Partido Democrático - a última grande formação política pró-democracia em risco de dissolução - realizar jantares de angariação de fundos em 2023.
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee Ka-chiu, classificou o assunto como uma "questão privada".
O facto de ser a Universidade Batista de Hong Kong - um centro tradicionalmente associado à defesa da liberdade académica - a encerrar as atividades aumenta as suspeitas de autocensura ou de pressão externa sobre a profissão docente para evitar questões politicamente sensíveis, segundo escreveu a agência de notícias Efe.
Esta não é a primeira vez que acontece, já que em 2021 a universidade cancelou a exposição da World Press Photo por "razões de segurança".
De acordo com a Efe, analistas locais associam as decisões ao quadro repressivo criado pela lei de segurança nacional, imposta por Pequim em 2020, e legislação complementar.
Organizações internacionais, como o Instituto Internacional de Imprensa (IPI) e Repórteres Sem Fronteiras, têm alertado repetidamente para a deterioração acelerada da liberdade de imprensa no território, cuja classificação no índice mundial tem vindo a cair desde 2019.
O encerramento desta exposição reforça a perceção de que o espaço público para evocar grandes mobilizações pró-democracia está a diminuir progressivamente sob a crescente influência de Pequim sobre a antiga colónia britânica, escreveu ainda a Efe.
À semelhança de Hong Kong, também a exposição World Press Photo deixou de ser organizada em Macau. Em 2020, último ano em que aconteceu, a mostra fotográfica, inaugurada a 25 de setembro e que deveria decorrer até 18 de outubro, fechou as portas antes disso sem aviso prévio.
A presidente da Casa de Portugal, a associação que organizava há anos a exposição em Macau, limitou-se a dizer que "questões de gestão interna não são para discutir em público".
A Fundação Macau, através da qual o Governo patrocinou a exposição, afirmou, numa resposta à Lusa, que teve conhecimento do fecho antecipado da exposição "por causa de um problema de gestão interna da Casa de Portugal".
Uma outra exposição em Macau sobre o chamado "massacre de Tiananmen" - quando o exército chinês pôs fim à revolta iniciada por estudantes, em junho de 1989 - que foi organizada ao longo de mais de três décadas, está proibida desde 2020.
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