Herói de Bondi diz que faria tudo de novo: "Salvei a vida de inocentes"
- 29/12/2025
Ahmed al-Ahmed, o homem que foi considerado um herói no tiroteio que aconteceu na praia de Bondi, na Austrália, no dia 14 de dezembro, afirmou que, quando agiu para desarmar um dos terroristas, só pensou nas vidas das pessoas inocentes que poderia salvar.
O comerciante sírio deu a sua primeira entrevista após ter saído do hospital, onde esteve a recuperar depois de também ter ficado ferido durante o ataque terrorista.
Ahmed al-Ahmed ganhou notoriedade internacional pelo seu gesto e atitude de coragem quando abordou um dos atiradores e o conseguiu desarmar, sendo considerado por muitos um herói.
"Eu não conseguia suportar estar a ouvir crianças, mulheres, idosos e homens a gritar e a pedir ajuda", referiu, em entrevista à CBS News, acrescentando que, quando decidiu agir, não tinha visto ninguém a tentar evitar o que estava a acontecer.
E continuou: "A minha alma e tudo que há em mim pediram para ir, para defender e salvar vidas inocentes. Não pensei duas vezes".
Ahmed al-Ahmed contou ainda que estava escondido atrás de um carro enquanto assistia a um dos terroristas a disparar indiscriminadamente, atingindo qualquer pessoa que via.
"Imediatamente, saltei para as costas dele e bati-lhe", afirmou, dizendo também que gritou para que o atirador para largasse a arma e "parar com o que estava a fazer".
"Não quero ver pessoas mortas à minha frente. Não quero ver sangue. Não quero ouvir o som dos tiros, não quero ver pessoas a gritar e a implorar por ajuda. Foi por isso que a minha alma me pediu para que o fizesse", revelou.
Depois de agir, o sírio teve uma breve luta com o atirador, tendo conseguido tirar-lhe a arma: "Tudo no meu coração, no meu cérebro funcionou para conseguir salvar vidas".
Já questionado sobre se conseguiu alvejar o terrorista depois de lhe ter tirado a espingarda, Ahmed al-Ahmed referiu que não lhe passou tal coisa pela cabeça.
"Não me passou pela cabeça atirar. Não quero sujar as minhas mãos com sangue. Não acho que seja capaz de tirar a vida de outras pessoas", notou.
Sobre o facto de haver um segundo atirador e que, naquele momento, estava numa posição privilegiada, Ahmed confessou que não se preocupou com mais nada. "O meu único objetivo era tirar a arma dele [do atirador] e impedi-lhe de matar um ser humano", apontou.
Depois do seu ato heróico, o comerciante sírio foi baleado cinco vezes, explicando que sentiu apenas dores num braço. No entanto, quando chegou ao hospital, disseram-lhe que tinha sido alvejado três vezes no peito, uma no ombro e duas vezes no braço.
Ahmed al-Ahmed já teve alta hospitalar após cerca de duas semanas internado. Os médicos disseram-lhe que poderá nunca recuperar totalmente dos ferimentos. O herói de Bondi tem ainda duas balas alojadas no ombro e sofreu danos nos nervos da mão esquerda, que poderão ser permanentes.
Apesar de tudo, Ahmed destacou que está feliz por ter conseguido salvar vidas, mas que ainda sente "muito pelas perdas", não se arrependendo da decisão que tomou.
"Tenho orgulho de o ter feito. Salvei a vida de pessoas inocentes. Se eu não tivesse corrido e tirado a arma do terrorista, teria sido um desastre e haveria mais vítimas", disse.
Já sobre os elogios que foi recebendo, inclusive dos líderes da Austrália, Estados Unidos e Israel, por ter arriscado a sua vida em prol de estranhos, salientou que "não existem estranhos", explicando que arriscou a vida por "seres humanos inocentes".
"Não posso chamá-los de estranhos porque são seres humanos, como eu", sublinhou.
"O que eu quero dizer ao mundo, não só aos australianos, é: por favor, acabem com o terrorismo e acabem com o ódio. Sintam amor pela humanidade, seja qual for a religião. Somos todos seres humanos", referiu.
Apelidado por muitos como um herói, Ahmed parece ainda não ter noção da repercussão da sua atitude, notando que se sente como se estivesse "num sonho". Disse ainda que não tem apenas orgulho de si próprio, mas também do país que o acolheu.
"Sinto-me acolhido pelo meu país, aqui na Austrália, com todas as nacionalidades e com toda o multiculturalismo. É a minha vida aqui. A Austrália é o meu país e tenho o prazer de dar o meu sangue pela Austrália, de defendê-la e de salvar vidas", afirmou.
Quando questionado se voltaria a fazer tudo de novo, não hesitou e respondeu "claro", acrescentando, no entanto, que espera que não seja necessário, tanto na Austrália como em qualquer parte do mundo.
Nos últimos dias, Ahmed recebeu a visita dos familiares vindos de várias zonas do mundo, desde a Alemanha, da Rússia e dos Emirados Árabes Unidos. Tem ainda uma irmã que vive na Síria e que está a tentar obter um visto de turista para o poder visitar.
O advogado do comerciante adiantou ainda que os irmãos de Ahmed irão receber vistos temporários e que os pedidos estão a ser processados com urgência pelo governo australiano.
Por seu turno, o ministro do Interior, Tony Burke, saudou a decisão de conceder estes vistos à família para que possam estar junto de Ahmed.
Sabe-se ainda que antes do ataque terrorista, o comerciante queria vender a sua loja situada em Sutherland, na Síria. A venda já foi concretizada enquanto o sírio estava no hospital. Para já, não sabe qual será o seu próximo emprego até porque ainda tem uma longa recuperação pela frente.
De notar ainda que, na semana passada, Ahmed recebeu uma quantia de 2,5 milhões de dólares (cerca de 2,12 milhões de euros) depois de ter sido feita uma campanha de arrecadação de fundos no GoFundMe e que recebeu 43 mil doações de todo o mundo.
Quando recebeu o cheque, Ahmed questionou: "Eu mereço isto?". Zachery Dereniowski, que foi quem entregou o cheque, respondeu: "Cada cêntimo".
Recorde-se ainda que também o rei Carlos III, durante o seu discurso de Natal, elogiou a coragem de Ahmed.
O tiroteio que ocorreu na praia de Bondi, na Austrália, foi considerado pelas autoridades um ataque terrorista, que resultou na morte de pelo menos 15 pessoas e abalou o país, onde a violência armada é rara, levando o governo a decidir reforçar o controlo de armas.
O ataque aconteceu na madrugada de domingo e foi perpetrado por dois homens, um pai e um filho, constituindo o mais recente dos episódios antissemitas na Austrália.
Este é o episódio de violência armada mais letal da Austrália desde o massacre de Port Arthur e o pior atentado terrorista da história do país.
Quem são as vítimas do tiroteio?
Os funerais das vítimas começaram na quarta-feira passada, 17 de dezembro. Entre os mortos encontravam-se dois rabinos (incluindo um dos organizadores do evento que foi alvo do ataque), um sobrevivente do Holocausto e uma menina de apenas 10 anos.














