Hamas saúda saída da "desumana" Fundação Humanitária de Gaza
- 24/11/2025
A controversa organização sem fins lucrativos, única responsável pela distribuição de alimentos na Faixa de Gaza desde maio até ao cessar-fogo de outubro, anunciou hoje o fim das suas operações no enclave palestiniano.
"Num momento crítico, a missão de ajuda de emergência liderada pelos Estados Unidos ajudou a lançar as bases para um cessar-fogo e para o futuro de Gaza", afirmou a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) num comunicado.
Noutro comunicado, o Hamas classificou a organização como "grupo desumano" que, desde que entrou em Gaza, em maio deste ano, "fez parte [do] sistema de segurança da ocupação (Israel), que adotou mecanismos de distribuição" de alimentos "totalmente afastados" dos princípios humanitários.
As suas condições de distribuição foram "perigosas e degradantes para a dignidade do povo palestiniano esfomeado", acrescentou o Hamas, lamentando os "milhares de pessoas deliberadamente mortas e feridas" nos postos de distribuição de víveres montados pela organização.
O grupo islamita, desde 2007 no Governo em Gaza, disse que o povo vê a organização como um "modelo do fracasso da ocupação" israelita.
"Qualquer projeto que colabore com a ocupação e ponha em prática as suas políticas fascistas será necessariamente um fracasso, porque assenta na injustiça, na tirania e na desumanização", sublinhou o Hamas.
Concluiu apelando às instâncias jurídicas internacionais para que responsabilizem a fundação e os seus membros pelos "crimes cometidos contra o povo de Gaza, para que a tragédia não se repita" e para "proteger a humanidade do terrorismo internacional organizado".
A entrada da GHF em Gaza, como única entidade distribuidora de ajuda humanitária e com apenas alguns postos de distribuição de alimentos, em quantidade insuficiente e que rapidamente se esgotavam, originou mais fome e mais mortes por fome no enclave palestiniano, após quase dois meses de cerco, sem entrada de qualquer ajuda.
A fundação, que tinha ao seu serviço ex-militares norte-americanos, empresas privadas de segurança e mercenários, não só controlava essa entrada a conta-gotas de mantimentos no território como, com o Exército israelita, regularmente abria fogo sobre os civis famintos, tendo feito milhares de vítimas.
Tal levou as Nações Unidas a alertar, há vários meses, que a GHF não trabalhava segundo os princípios do Direito Internacional Humanitário.
Havia muito que a ONU declarara o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça, e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.
Está desde 10 de outubro em vigor em Gaza um cessar-fogo, a primeira fase de um plano de paz proposto pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, para pôr fim a dois anos de guerra, desencadeada pelo ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas a Israel, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 sequestradas.
A retaliação de Israel fez mais de 69.500 mortos - entre os quais mais de 20.000 crianças - e quase 171.000 feridos, na maioria civis, segundo números atualizados (com as vítimas das quebras do cessar-fogo por Israel) pelas autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
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