"Há muito a fazer na investigação sobre Camões. Há fontes inéditas"
- 28/11/2025
"Há muito a fazer na investigação sobre Camões. Há fontes inéditas e há um projeto ambicioso que não podemos deixar de relançar que é a inscrição de Camões no cânone da literatura universal e isso está por fazer", afirmou José Augusto Bernardes, na sessão de abertura do Congresso Internacional "Ensinar Camões no Século XXI", que decorre em Coimbra até sábado.
Promovido pela Faculdade de Letras, Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos (CIEC), Centro de Literatura Portuguesa (CLP) e Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH), o evento de três dias conta com o alto patrocínio da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 500 anos do Nascimento de Camões e da reitoria da UC.
À margem do evento, José Augusto Bernardes explicou à agência Lusa há muitos passos que estão a ser dados, nomeadamente por uma vasta equipa que "está a anotar as obras completas de Camões".
"As últimas obras ou a última iniciativa desse género data dos anos 40 do século passado. Anotar meticulosamente os versos de Camões significa responder com a mente de hoje às perguntas que Camões fez no século XVI: Isso significa atualizar Camões", acrescentou.
O Comissário-Geral para as Comemorações dos 500 Anos do Nascimento de Camões aludiu também ao portal Camões Digital, que a Universidade de Coimbra revelou estar a desenvolver e que vai permitir que um leitor carregue num verso de Camões e possa aceder a todos os comentários que suscitou até hoje.
"Isso facilita muito a vida a quem investiga porque antigamente era preciso folhear todos os comentaristas que se tinham debruçado sobre aquele mesmo verso. Isso vai ficar acessível a qualquer pessoa", evidenciou.
Para além de entender que ainda há muita coisa para fazer no que diz respeito à investigação sobre Camões, José Augusto Bernardes considera que é também preciso que "a investigação sobre Camões depois tenha tradução nos aspetos práticos e passe para o ensino".
"Não que passe diretamente, mas passe de forma filtrada, ajustada, adaptada, porque os jovens que hoje chegam à escola com 14 ou 15 anos têm uma relação com Camões muito diferente daquela que eu tive há 50 anos. Notam uma estranheza muito maior, na língua, há palavras que eles não entendem e nos valores", concretizou.
No seu ponto de vista, o discurso de Camões, à semelhança do discurso do século XVI em geral, "era muito concentrado".
"As pessoas de hoje não têm capacidade de atenção para enfrentarem com êxito um discurso tão denso. Precisam de hospitalidade por parte do professor, acolhimento, tolerância. Porque o contrário disso significa a exclusão, que é tudo o que não queremos", concluiu.
Leia Também: Camões e UE dão 8,5 milhões para "emprego digno" no norte de Moçambique













