Guiné-Bissau: Aparente forte afluência em Portugal no meio do caos
- 23/11/2025
Em Portugal, os 13.764 eleitores recenseados (metade dos existentes na Europa -- 26.420) estão divididos por 41 urnas de voto em todo o país, sendo que, na região da Grande Lisboa, onde está registada a maioria dos eleitores, se pode observar a maior confusão, com os votantes que querem votar nos locais onde já o fizeram no passado a serem informados que, afinal, a mesa de voto está noutro local.
Diante da embaixada guineense em Lisboa, onde ninguém do pessoal diplomático nem da própria Comissão Nacional de Eleições se mostrou disponível para falar à Lusa, apesar da forte afluência que se registou desde as primeiras horas da votação, dezenas de eleitores, presenciou a agência noticiosa portuguesa, foram impedidos de votar, sendo remetidos para outras secções espalhadas pela Grande Lisboa.
Alguns dos eleitores, constatou a Lusa, vieram de Elvas, de Leiria e das Caldas da Rainha, pois tinham-lhes indicado que o local de voto era na missão diplomática guineense em Lisboa, descobriram que, afinal estavam inscritos em Albufeira, no primeiro caso, e em Coimbra no segundo.
Sem que a Lusa pudesse confirmar a veracidade dos factos, Ricardo André Líder, 45 anos, natural de Bissau e empresário da construção civil, em Portugal desde 2015 e mandatário para a Europa da candidatura de Fernando Dias, confirmou as informações recolhidas pela Lusa, acrescentando ter sido informado, só sexta-feira, da alteração dos locais de voto e da transferência dos eleitores para outras mesas.
André Líder disse à Lusa acreditar que a "votação maciça" dos eleitores guineenses vai permitir, apesar dos contratempos, levar a uma mudança no regime liderado pelo Presidente Umero Sissoco Embaló, "sinal claro" que anseiam pela "paz, liberdade de pensamento e de circulação" e que a Guiné-Bissau "precisa de paz".
Questionado pela Lusa sobre se acredita na transparência das eleições, André Líder afirmou ser "ainda cedo" para ter uma opinião.
"Ainda é muito cedo falar de fabricações [dos resultados]. Acreditamos que os guineenses estão a votar em massa e aproveito essa oportunidade de apelar aos guineenses para irem às urnas a votar em massa. A nossa candidatura acredita nos votos dos guineenses. Agora, quem tem planos de fazer fraude, de subtrair os nossos votos contra a vontade do povo", não o vai conseguir, frisou.
No mesmo registo se pronunciou à Lusa Sana Conté, 44 anos, natural de Bissau e em Lisboa desde 2022, que se considera um "refugiado" do regime de Embaló, dizendo que o mandou sequestrar durante um dia na Guiné-Bissau e que o considera "incompetente e corrupto".
"É um regime violento, incompetente, que conseguiu colocar em causa toda a ordem democrática do país, sequestrando todas as instituições democráticas. É um regime corrupto, não foi capaz minimamente de colocar o país na sua real intenção de desenvolvimento ou das necessidades básicas. O povo tem sido constantemente roubado, a onda de violência é de todas as naturezas, afirmou Conté.
Conté admitiu à Lusa que o regime "trabalhou para fabricar os resultados" e é por isso que os guineenses estão a ter essas dificuldades no terreno, "sobretudo em Portugal", devido à "constante mudança de critérios e de regras".
Para Conté, a votação de hoje representa a tentativa para "restaurar a ordem constitucional pela via mais pacífica e democrática possível", pelo que acredita que os guineenses vão dar "um exemplo da sua persistência, da sua resiliência para, de facto, reconstituir" a "unidade nacional", a "dignidade".
Por seu lado, Domingos Cá, técnico de construção civil, em Portugal desde 1988, destacou a importância das eleições para uma "mudança" de poder na Guiné-Bissau, acreditando que a grande maioria dos eleitores guineenses vai optar pela alternância de poder.
Questionado sobre se acredita na transparência nas eleições, Domingos Cá sublinhou que a população acredita que pode fazer a diferença.
Mais de 966 mil eleitores são chamados hoje às urnas para escolher o novo Presidente da Guiné-Bissau e os 102 deputados da Assembleia Nacional Popular.
As eleições são as quartas gerais realizadas no país africano e as primeiras em que o histórico partido PAIGC fica de fora da corrida eleitoral, num processo marcado pela exclusão, por parte do Supremo Tribunal de Justiça, dos principais adversários.
O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, concorre a um segundo mandato e é um dos 12 candidatos às presidenciais, em que o independente Fernando Dias se destacou na campanha eleitoral depois de receber o apoio do PAIGC e do líder Domingos Simões Pereira, também excluído pelo Supremo e até então considerado o principal adversário de Embaló.
A corrida à Presidência da República centralizou a campanha eleitoral, deixando para segundo plano as legislativas que vão ditar a composição do parlamento encerrado há dois anos, desde que o Presidente dissolveu a maioria PAI-Terra Ranka, liderada pelo PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).
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