Greve domina debate e só Ucrânia separa Catarina Martins e António Filipe
- 10/12/2025
No debate transmitido pela RTP, poucas foram as divergências entre a ex-líder do Bloco de Esquerda e o candidato apoiado pelo PCP, com ambos a concordarem sobre a importância da greve geral de quinta-feira na luta contra o pacote laboral proposto pelo executivo liderado por Luís Montenegro.
"Espero que o Governo olhe para a greve geral, retire as suas conclusões e retire esta lei", afirmou António Filipe, considerando que "nenhum Governo responsável pode ficar indiferente a uma manifestação desta dimensão".
"Estamos a falar de um ataque a todas as gerações, a todos os trabalhadores, à nossa economia", enumerou a candidata apoiada pelo BE, para quem a greve geral é "um sinal de que o Governo tem de ter outra proposta na mesa para ser negociada".
A greve geral contra o anteprojeto do Governo de reforma da legislação laboral será a primeira paralisação a juntar as duas centrais sindicais, CGTP e UGT, desde junho de 2013, altura em que Portugal estava sob intervenção da 'troika'.
Já sobre as declarações de Luís Montenegro, que no sábado disse querer que o salário mínimo chegasse aos 1.600 euros, Catarina Martins defendeu que "o primeiro-ministro está a gozar com as pessoas e é feio", uma ideia também preconizada por António Filipe, para quem o facto de as confederações empresariais não protestarem é sinal de que ninguém acredita nestas afirmações.
Num frente a frente em que nenhum dos concorrentes a Belém se afirmou como o verdadeiro representante da Esquerda, e em que António Filipe até admitiu que a eurodeputada é uma candidata de Esquerda sem 'mas', os dois preferiram não traçar cenários sobre quem poderão apoiar numa eventual segunda volta.
A convergência entre ambos passou também pela interpretação da Constituição, com os dois a criticarem a opção de Marcelo Rebelo de Sousa de dissolver o Parlamento, quando o Governo era liderado por António Costa.
"Precisamos mesmo de uma Presidente da República que fale menos dos jogos políticos e fale mais das necessidades do país. [...] Temos tido um Presidente da República que tem sido muito presente, digamos assim, no debate da estratégia partidária", evidenciou Catarina Martins.
Os dois candidatos concordaram ainda que a prioridade na relação de Portugal com a Venezuela deve ser "proteger os interesses da comunidade portuguesa", como descreveu o candidato apoiado pelo PCP, e criticaram a atribuição do Nobel da Paz à líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, que, segundo Catarina Martins, sugeriu a invasão do próprio país.
Se a manifestação de solidariedade com os músicos e intérpretes, que anunciaram hoje a recusa em representar Portugal no Festival Eurovisão 2026, caso vençam o Festival da Canção da RTP, em protesto contra a participação de Israel, uniu os dois candidatos, a perspetiva quanto à guerra na Ucrânia 'separou-os'.
António Filipe considerou que entre "Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky venha o diabo e escolha", mostrando-se contra o reforço do apoio à Ucrânia, defendendo que "a Europa devia ter-se empenhado numa solução de paz".
Já a ex-líder do BE evocou a "tradição da Esquerda que acredita na autodeterminação dos povos", admitindo ser "normal que se apoie a Ucrânia numa invasão pela Rússia".
Contudo, disse-se chocada pelo facto de estar a ser elaborado "um acordo de paz em que a Ucrânia nem se senta à mesa de negociação", lamentando que a União Europeia seja "um capacho dos Estados Unidos, que estão aliados à Rússia". "É um erro brutal", concluiu.
As eleições presidenciais estão agendadas para 18 de janeiro de 2026.
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