Gaza? Conflito não pode ser resolvido com "ocupação contínua e terror"
- 17/09/2025
Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, Annalena Baerbock fez uma antecipação da Semana de Alto Nível da 80.ª Assembleia-Geral da ONU (UNGA80, na sigla em inglês), durante a qual está agendada a Conferência para a Solução de Dois Estados, onde vários países deverão reconhecer o Estado palestiniano.
"Realizaremos a conferência internacional de alto nível para a solução pacífica da questão da Palestina e a implementação das soluções de dois Estados. Esta é uma oportunidade para abordar a realidade: que o conflito israelo-palestiniano não pode ser resolvido com guerras intermináveis, ocupação contínua e terror", disse a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha.
Segundo Baerbock, a única forma de garantir que israelitas e palestinianos possam viver em paz, segurança e dignidade duradouras é através da solução de dois Estados - Israel e Palestina.
Na conferência, agendada para a próxima segunda-feira, países como França, Reino Unido, Canadá, Bélgica e Austrália deverão formalizar o reconhecimento do Estado palestiniano.
Questionada sobre se tem alguma esperança de que progressos sejam alcançados em relação às guerras em Gaza e na Ucrânia durante a UNGA80, Baerbock afirmou que a única coisa "tóxica para a esperança é desistir".
"Este é realmente o momento em que destacamos que não só não desistimos, como estamos mais empenhados do que nunca em cumprir a tarefa mais importante das Nações Unidas: garantir a paz e a segurança", afirmou.
Sobre a guerra em Gaza, a diplomata alemã recordou que a esmagadora maioria dos Estados-membros da ONU votou em resoluções que consideravam as ações israelitas "inaceitáveis, a "situação humanitária catastrófica" e defenderam "um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente", além de uma entrega rápida e sem obstáculos de ajuda humanitária aos palestinianos e da libertação incondicional de todos os reféns israelitas.
Num momento em que celebra 80 anos, a ONU enfrenta uma grave crise multidimensional, com a sua influência desacreditada e o seu pleno funcionamento em risco devido aos cortes de financiamento de nações como os Estados Unidos, país que acolhe a sede da instituição, em Nova Iorque, e o seu maior doador.
Face a esse cenário, Annalena Baerbock desafiou os cerca de 150 líderes que viajarão na próxima semana para Nova Iorque a refletirem sobre o contributo dos seus respetivos países para o funcionamento da ONU e sobre o que as Nações Unidas deram de volta.
"Sem a ONU, todos os países seriam mais fracos", frisou a diplomata, convidando os chefes de Estado e de Governo a abraçar o lema que escolheu para guiar o seu mandato: "Melhor Juntos".
Annalena Baerbock assumiu funções na semana passada, tornando-se na quinta mulher a ocupar o cargo de presidente da Assembleia-Geral da ONU, em comparação com os 75 homens que o ocuparam ao longo dos 80 anos de história das Nações Unidas.
A alemã recebeu do presidente cessante, Philémon Yang, dos Camarões, o martelo usado para declarar o início e o fim de cada sessão da Assembleia-Geral, órgão no qual os 193 Estados-membros se sentam em pé de igualdade, mas que tem uma função exclusivamente representativa, uma vez que o verdadeiro poder é exercido pelo Conselho de Segurança (com capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo).
A política alemã de 44 anos será responsável por organizar a próxima Semana de Alto Nível da Assembleia, que decorrerá de 22 a 30 de setembro em Nova Iorque e que é o principal evento da diplomacia global.
A posse de Baerbock como presidente ocorre num momento de intenso debate sobre a necessidade de uma mulher assumir pela primeira vez o cargo de secretária-geral da ONU quando António Guterres concluir o seu mandato, no final de 2026.
No entanto, nenhum nome obteve ainda o consenso necessário entre os países.
[Notícia atualizada às 21h00]
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