Faz-se passar por médica e trata mais de 800 doentes em Milão
- 22/12/2025
Sem diploma, registo na Ordem dos Médicos ou sequer um estágio em medicina, Giuliana Pietropaolo, de 45 anos, tratou cerca de 800 pacientes, numa fraude que durou de seis meses, em Milão, Itália.
No verão de 2022, conta o jornal Corriere de la Serra, Giuliana apresentou um currículo recheado a um centro clínico em Milão, que inclua diplomas, certificações e experiências profissionais falsas e fabricadas. O engodo enganou a unidade hospitalar que a contratou - durante um período probatório de seis meses - como endocrinologista.
Ao longo desse período, Giulina atendeu mais de 800 pacientes, diagnosticando doenças sobre as quais não tinha conhecimento, e prescrevendo medicamentos aleatórios com doses que seguiam o mesmo padrão. A negligência levou a que vários utentes tivessem o seu quadro clínico agravado.
Nos documentos oficiais da acusação contra Giuliana há registo de pacientes que tiveram casos de diarreia grave e até problemas de tiroide como resultado dos diagnósticos errados da falsa médica. Os pacientes em questão decidiram não apresentar queixa formal contra a mulher, sendo que todos eles terão depois recorrido a outros profissionais (verdadeiros e capazes de resolver os seus problemas de saúde).
A fraude só foi descoberta quando o centro clínico onde trabalhava investigou algumas incongruências na ficha pessoal de Giuliana. Ao mesmo tempo, um hospital universitário, que tinha celebrado um contrato com a falsa médica, rescindiu o acordo apenas três dias depois de ser assinado. Ambas as unidades hospitalares denunciaram a situação às autoridades.
Giuliana mudou de nome. Era Maria Antonella
O engodo começou de uma forma, aparentemente, fácil: Giuliana substitui os seus dados pelos de um médico verdadeiro, alheio à fraude. Para isso, escolheu a identidade de Giuliana Pietropaolo.
Na realidade, o nome de nascimento da mulher é Maria Antonella. Contudo, decidiu mudar o seu nome em 2012: "A minha mãe queria dar-me este nome, mas o meu nome de batismo foi imposto pela minha avó paterna", disse a mesma disse durante a investigação.
Aliás, até a sua profissão falsa terá sido ideia do seu namorado, que disse ao administrativo na altura para escrever "médica" sob a coluna de profissão. "Ele dizia que só assim é que a minha mãe me ia aceitar", justificou a Maria que se tornou Giuliana.
A mulher viria a contar, então, que sofria de "submissão psicológica" em relação ao namorado, o qual suspeitava que lhe drogava a comida, um suposto historial de bullying, e disse até ter sido perseguida por estranhos que, em 2022, a obrigaram a "levar documentos a uma clínica que a contrataria sem verificar" as suas qualificações. "Se te recusares, vais ter o destino de Maria Chindamo, morta e devorada por porcos", terão dito à falsa médica.
Maria Chindamo, de 42 anos, recorde-se, desapareceu em 2016 depois de se recusar a ceder parte da sua propriedade a um vizinho com ligações à máfia. Anos mais tarde, um antigo membro do crime organizado, que cooperava com as autoridades, revelou o destino da mulher: foi triturada por máquinas agrícolas e os seus restos mortais foram dados de comer a porcos.
Giuliana foi condenada a quatro anos de prissão
A defesa de Giuliana alegou que a cliente sofria de "convicções delirantes" e de uma "perda de contacto com a realidade" num "quadro psicopatológico profundamente alterado" que estaria a interferir "na sua capacidade de compreender" o que se passava à sua volta.
A defesa não convenceu a juíza, que condenou Giuliana a quatro anos de prisão por roubo de identidade, exercício abusivo da profissão de médica, fraude e falsificação material com contrafação de carimbos. Além disso, a falsa médica terá ainda de pagar 10 mil euros à Ordem dos Médicos italiana pelos danos morais causados à honra da profissão e outros 100 mil euros ao centro clínico, vítima da sua fraude.
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