Exposição precoce a ecrãs ligada a alterações cerebrais na adolescência
- 31/12/2025
Um estudo que acompanha crianças há mais de uma década indica também que a leitura partilhada entre pais e filhos pode contrariar estes efeitos, de acordo com uma publicação na eBioMedicine citada na terça-feira pela agência Efe.
Investigadores do Instituto para o Desenvolvimento Humano e Potencial (A*STAR IHDP) da Universidade Nacional de Singapura utilizaram a imagiologia cerebral em múltiplos momentos para mapear uma possível via biológica desde a exposição a ecrãs na infância até à saúde mental na adolescência.
Este é o primeiro artigo a incorporar medições que abrangem um período tão longo, "destacando as consequências duradouras do tempo de ecrã na infância", destacou a Universidade de Singapura em comunicado.
A infância é um período de rápido desenvolvimento cerebral e de particular sensibilidade às influências ambientais.
Além disso, a quantidade e o tipo de tempo passado em frente aos ecrãs dependem muito da consciencialização e das práticas dos pais e dos encarregados de educação, o que realça a importância da orientação e intervenção precoces.
Os investigadores acompanharam 168 crianças, realizando exames de imagem cerebral aos 4, 5, 6 e 7,5 anos de idade.
Isto permitiu rastrear o desenvolvimento das redes cerebrais ao longo do tempo, em vez de se basear numa única avaliação.
As crianças com maior tempo de ecrã durante a infância apresentaram uma maturação acelerada das redes cerebrais responsáveis pelo processamento visual e pelo controlo cognitivo, o que pode ser atribuído à intensa estimulação sensorial proporcionada pelos ecrãs.
A equipa observou que o tempo de ecrã medido aos três e quatro anos de idade não apresentou os mesmos efeitos, sublinhando o porquê de a infância ser um período particularmente sensível.
"A maturação acelerada ocorre quando certas redes cerebrais se desenvolvem muito rapidamente, geralmente em resposta a adversidades ou outros estímulos", salientou o investigador Huang Pei, um dos autores do estudo.
Durante o desenvolvimento normal, as redes cerebrais especializam-se gradualmente ao longo do tempo, mas nas crianças com elevada exposição a ecrãs, as redes que controlam a visão e a cognição especializaram-se mais rapidamente, antes de desenvolverem as ligações eficientes necessárias para o pensamento complexo.
Isto pode limitar a flexibilidade e a resiliência, tornando a criança menos capaz de se adaptar mais tarde na vida, acrescentou a universidade.
As crianças com estas redes cerebrais alteradas demoraram mais tempo a tomar decisões durante uma tarefa cognitiva aos 8,5 anos de idade, sugerindo uma redução da eficiência ou flexibilidade cognitiva.
As que demoraram mais tempo a tomar decisões também apresentaram níveis mais elevados de sintomas de ansiedade aos 13 anos.
As descobertas sugerem que a exposição a ecrãs na infância pode ter efeitos que se estendem muito para além da primeira infância, moldando o desenvolvimento cerebral e o comportamento anos mais tarde.
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