Eurodeputado denuncia "preconceito bafiento" com mulheres da sua equipa
- 31/12/2025
O eurodeputado do Partido Socialista (PS) Bruno Gonçalves denunciou, na terça-feira, ter sido confrontado com um "preconceito bafiento" face às mulheres que integram a sua equipa, na sequência de uma notícia publicada pela revista Sábado, que dava conta de que o parlamentar era o "eurodeputado português com mais assessores a trabalhar para si".
Além de ter desmentido ser "recordista" no número de colaboradores, Bruno Gonçalves frisou que "a forma como muitos reagiram [...] só demonstra como as mulheres, também na política, continuam a ser alvo de um escrutínio e julgamento injusto e desproporcional".
"Sendo a maioria mulheres, até podemos considerar que tem um pequeno harém." "Continua em alta o negócio das carnes… Já vi talhos com a mesma qualidade de menos rendimento…" "Foram todas recrutadas pelo seu mérito." Foram estes alguns dos comentários – todos escritos por homens – destacados por Bruno Gonçalves, que salientou que não tolerará "quem quer diminuir uma trabalhadora ou uma representante por ser mulher", razão pela qual optou por abordar o rescaldo da notícia divulgada pela Sábado.
"Caso o dano fosse sobre mim, como em tantos outros casos, não escreveria estas linhas. Mas, desta vez, decidiram atacar a minha equipa e, em particular, tentar caricaturar as mulheres que integram a minha equipa. Resta, por isso, esclarecer", escreveu.
São 5 assessores (não 9) pelo quais não há gasto acrescido
Depois de ter recordado que "todos os deputados dispõe do mesmo envelope financeiro para contratarem as suas equipas", o socialista expôs que a sua "é constituída por três assessores em Bruxelas e dois em Portugal (cinco, não nove, como [explicou] à Sábado, que preferiu insistir na capa sensacionalista desmentida pelo texto que escrevem)".
"Não sou ‘recordista’ - embora pudesse sê-lo sem qualquer pudor, face ao número acrescido de comissões e delegações parlamentares que acompanhamos. A minha equipa é composta por três homens (incluindo eu) e três mulheres. Todos com currículos dentro e fora da política. Nenhum é dirigente do partido em que milito com orgulho. Todos, sem exceção, prestam um serviço público sério, competente e digno, que honra e renova o serviço público - como sempre defendi", complementou.
E sublinhou: "A forma como muitos reagiram a esta notícia só demonstra como as mulheres, também na política, continuam a ser alvo de um escrutínio e julgamento injusto e desproporcional. A maioria dos comentários sobre as mulheres da minha equipa - que só revelam o carácter dos seus autores - revelam o longo caminho que temos por fazer. E é, sobretudo por elas e por todas as outras que sofrem com isto diariamente, que escrevo esta mensagem durante a interrupção parlamentar. Não tolerarei, nesta ou noutra rede, quem quer diminuir uma trabalhadora ou uma representante por ser mulher. Não compactuarei com jornalismo que utiliza essa alavanca para gerar indignação e conteúdo que alimenta o círculo vicioso do ódio e do machismo. Acredito que a política tem, mais do que a capacidade, o dever de tornar o mundo menos injusto e mais igual."
Bruno Gonçalves apontou ainda que, "se o objetivo é gerar ódio para que [alterem] a forma de fazer política - transparente e em equipa -, então podem ficar descansados, porque a [sua] resistência é do tamanho do sentido de missão que [têm]". O parlamentar exaltou, por isso, que a sua equipa não faz "tudo igual à política convencional", por considerarem "que a integridade e a seriedade da política não precisam de se traduzir em aborrecimento ou distância".
"Por isso decidi escrever. Porque sei que juntos somos capazes de quebrar esse silêncio cúmplice perante a 'nova onda cool', que não é mais do que um odor antigo e bacoco dos que acreditam que liberdade é opressão. Escrevo porque o silêncio também é cumplicidade. E porque sei que juntos somos capazes de quebrar esta normalização cobarde de uma ‘nova onda cool’ que, na verdade, não passa de um preconceito bafiento de quem confunde liberdade com opressão. Nós? Vamos continuar com mais força ainda", garantiu.
Cada eurodeputado tem 30.769 euros mensais para a sua equipa
Note-se que, de acordo com o Parlamento Europeu (PE), os deputados "são livres de escolher os seus próprios assistentes dentro de um orçamento fixado" por aquela instituição europeia. Este ano, o montante máximo disponibilizado para as despesas relacionadas com o pessoal foi de 30.769 euros mensais.
"Os deputados não recebem este montante; está meramente à sua disposição para cobrir todas as despesas relacionadas com o pessoal, mediante autorização do serviço competente do Parlamento. Este montante é utilizado, designadamente, para cobrir os vencimentos, os honorários e as contribuições para a segurança social dos assistentes parlamentares e prestadores de serviços que os deputados empregam ou a quem recorrem", lê-se.
O mesmo órgão esclareceu ainda que os deputados "podem contratar até quatro assistentes acreditados", que trabalham "em Bruxelas, no Luxemburgo ou em Estrasburgo, [e] dependem diretamente da administração do Parlamento".
"Os assistentes locais assistem os deputados no Estado-membro em que estes foram eleitos. Os contratos destes assistentes, celebrados diretamente com o deputado, são geridos por terceiros pagadores que garantem o cumprimento da legislação nacional e da UE pertinente. Os contratos dos assistentes locais podem ser contratos de trabalho ou contratos de prestação de serviços", acrescentou.
Além disso, os deputados podem "recorrer a pessoas singulares ou coletivas (por exemplo, empresas) que lhes prestem serviços especializados e claramente identificados", e "podem oferecer estágios remunerados nos locais de trabalho do Parlamento ou no Estado-membro em que foram eleitos".
"Temos uma geração de políticos mais bem preparados, temos de aproveitar"
O socialista Bruno Gonçalves é o convidado do Vozes ao Minuto desta quinta-feira.
Inês Frade Freire | 11:25 - 09/05/2024
