"Esperei 30 anos". Queixa ignorada pelo FBI surge nos ficheiros Epstein
- 21/12/2025
Entre ficheiros desaparecidos e a divulgação incompleta dos documentos que dizem respeito a Jeffrey Epstein, há pelo menos uma informação que salta à vista e que, poderia ter "poupado mais de mil vítimas e poupado 30 anos de traumas".
Em causa está uma queixa feita por Maria Farmer diretamente ao FBI, em 1996, cerca de uma década antes de as autoridades começarem a escrutinar a vida do magnata norte-americano. Segundo o New York Times, a queixa foi feita com base no interesse dele por "pornografia infantil". Maria Farmer, que viu a sua irmã ser vítima tanto de Epstein como de Ghislaine Maxwell, disse às autoridades no verão desse ano que o empresário tinha "roubado" fotografias onde as suas irmãs, então com 12 e 16 anos anos, apareciam nuas.
"Epstein roubou as fotos e os negativos e acredita-se que tenha vendido as imagens a potenciais compradores", lê-se no relatório policial do FBI escrito à mão. De acordo com a queixa, o empresário pediu a Farmer para tirar fotografias de jovens em piscinas e ameaçou que "incendiava a sua casa" caso ela dissesse alguma coisa sobre este pedido.
A queixa não foi tida em conta pelo FBI e Maria só foi contactada pelas autoridades em 2008, na altura em que Epstein e a justiça fizeram um acordo, depois de ele ser acusado de exploração sexual de menores de idade entre 2002 e 2005.
"Esperei 30 anos", disse Maria Farmer contactada pela publicação norte-americana. "Não podem chamar-me mais de mentirosa", acrescentou, dando conta de que estava feliz pelo resultado, mas de coração partido pelo FBI não ter levado a sua queixa avante: "Deviam ter vergonha. Fizeram mal a todas estas meninas. Essa parte deixa-me devastada."
Jennifer Freeman, a advogada que representa Maria Farmer, também emitiu um comunicado em seu nome, citado pelo Guardian. "O que temos de novo hoje é o relatório do FBI sobre Maria Farmer. E isso é um triunfo e uma tragédia para Maria e tantas sobreviventes", começou por referir.
“Maria Farmer denunciou os crimes de Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell em 1996. Se o governo tivesse feito seu trabalho e investigado adequadamente a denúncia de Maria, mais de mil vítimas poderiam ter sido poupadas e 30 anos de trauma evitados", apontou, notando que durante anos foram solicitados os registos do FBI e que finalmente, o governo dos EUA "divulgou, pelo menos alguns".
A irmã Annie e como foi parar à rede de Epstein
Maria trabalhava para Epstein na década de 90, fazendo alguns trabalhos como pintora e, de acordo com o Guardian, a irmã, Annie, conheceu o empresário em Nova Iorque. Maria disse que o magnata estava "potencialmente interessado" em ajudá-la com a sua educação. Não só ofereceu uma viagem a Maria, como à irmã, Annie.
"Pareceu muito simpático e terra-a-terra. Estava vestido de forma casual", contou Annie quando testemunhou, em 2021, durante o julgamento de Maxwell. Numa primeira vez, as irmãs foram ao teatro as duas e, num segundo plano, Epstein foi com elas ao cinema.
Segundo Annie recordou, ele sentou-se entre elas e acariciou-lhe a mão, e não só: "Começou a tocar-me no sapato e depois meu pé, e na minha perna. Eu estava muito nervosa".
Annie acabou a ser convidada para ir à casa de Epstein, no Novo México, tendo a mãe sentido segurança para permitir porque Ghislaine, então namorada de Epstein, também ia. Depois de várias viagens, "foi decidido que eu ia aprender como dar uma massagem aos pés de Epstein e Ghislaine mostrou-me".
"Vi o que ela estava a fazer. E fiz o que ela me mandou. Senti-me desconfortável e queria parar", contou, acrescentando que Ghislaine lhe perguntou depois se ela já tinha recebido alguma massagem alguma vez, oferecendo-se para o fazer.
Ela concordou, e depois de estar deitada: "Puxou o lençol para baixo expôs os meus seios, e começou a esfregar meu peito e a parte superior. Eu só queria muito sair da mesa".
Conta Annie que no dia seguinte Epstein entrou no seu quarto e disse-lhe que queria um abraço, depois de "se meter na cama". Ela escapou, dizendo que precisava de ir à casa de banho.
Epstein foi preso em 2019, com os promotores a alegarem que ele "explorou e abusou sexualmente de dezenas de meninas menores de idade" de 2002 a 2005 em suas casas em Manhattan e Palm Beach, na Florida.
O acordo judicial de 2008 que permitiu a Epstein declarar-se culpado de acusações de prostituição em nível estadual na Florida ocorreu durante uma investigação federal que envolveu pelo menos 40 adolescentes.














