"Escravatura dos tempos modernos". GNR e PSP exploravam: Que acontecerá?
- 03/12/2025
A ministra da Administração Interna determinou na terça-feira, 2 de dezembro, à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), a abertura de processos disciplinares aos 11 elementos das forças de segurança detidos por suspeitas de exploração de imigrantes no Alentejo durante a operação Safra Justa.
Os suspeitos, 10 militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) e um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP), foram constituídos arguidos e saíram em liberdade, com termo de identidade e residência (TIR).
O tribunal justificou a saída em liberdade dos elementos das forças de segurança por entender que "não podem ser utilizadas para efeitos de fundamentação das medidas de coação" as escutas telefónicas que não foram transcritas pelo Ministério Público (MP).
De acordo com a agência Lusa, após serem libertados, os militares da Guarda voltaram ao serviço, nos postos onde se encontram colocados, enquanto aguardavam a eventual aplicação de medidas no âmbito dos processos disciplinares, que a IGAI revelou que ia propor à ministra da Administração Interna. Resta saber se agora, com a determinação de Maria Lúcia Amaral, serão suspensos.
Já o agente da PSP também detido (e libertado) está de baixa desde setembro de 2024.
Exploração de imigrantes no Alentejo
Há uma semana, a Polícia Judiciária (PJ) desmantelou uma organização criminosa que controlava cerca de 500 trabalhadores estrangeiros no Alentejo.
Durante a operação, a que a PJ deu o nome de Safra Justa, foram detidas 17 pessoas, 10 dos quais militares da GNR e um agente da PSP, por suspeitas de exploração de imigrantes no Alentejo.
Dos 17 detidos, três, todos civis, ficaram em prisão preventiva, os 10 GNR e um PSP com termo de identidade e residência (TIR) e os outros três civis ficaram obrigados a apresentações periódicas e proibidos de contactar com as vítimas e os coarguidos, bem como de se ausentarem para o estrangeiro.
Quanto aos seis civis, fonte policial precisou que quatro são portugueses e dois são estrangeiros, "todos membros da organização criminosa".
Os dois estrangeiros, do sul da Ásia, "angariavam as vítimas dessa mesma origem e acabavam também por coagi-las e ameaçá-las".
Entre os portugueses, encontra-se, segundo a fonte, "o cabecilha" da rede, sendo os restantes "seus braços direitos".
Sargento da GNR envolvido vive com magistrada do MP
Segundo a SIC Notícias, um dos detidos durante esta operação, um sargento da GNR, vive com uma procuradora do Ministério Público (MP).
O homem, foi detido em casa, em Gondomar, durante a madrugada, onde vive também a procuradora.
A presença da magistrada na habitação obrigou, como manda a lei, a que a diligência fosse acompanhada pessoalmente por um juiz de instrução criminal.
Revela ainda o mesmo canal de televisão que o Tribunal Central de Instrução Criminal tinha receio que houvesse uma fuga de informação sobre a operação de buscas prestes a acontecer.
Determinou, por isso, que os autos em segredo de justiça fossem entregues em mãos ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto pelo órgão de polícia criminal.
O suspeito, companheiro da magistrada, estava colocado em Famalicão, mas chegou mesmo a ser comandante do posto de Beja.
É suspeito de tráfico de seres humanos e exercia, segundo a investigação, forte influência sobre os outros nove militares da GNR também detidos.
Ameaçavam e agrediam os trabalhadores agrícolas estrangeiros em situação de vulnerabilidade, cerca de quinhentos (nem todos são considerados vítimas de tráfico) a troco de compensações financeiras pagas pelo cabecilha da rede.
Para este sargento, que lideraria o chamado serviço de vigilância e coação privada, o MP pediu a mais grave das medidas de coação, a prisão preventiva. Mas também ele acabou por sair em liberdade.
PSP terá sido recrutado pelo filho
Já segundo o jornal Expresso, o MP suspeita que o agente da PSP também detido e libertado foi recrutado pelo filho para a alegada rede de tráfico de imigrantes.
O polícia terá assumido as funções do filho na alegada rede de tráfico de imigrantes depois de este ter sido detido pela PJ, em setembro, por suspeitas de traficar droga. O agente trabalhava no Aeroporto de Beja e estava de baixa desde 2024.
"Repugnante. Uma forma de escravatura dos tempos modernos"
Entretanto, surgiram várias reações à operação Safra Justa, entre as quais a de Alexandra Leitão. Na CNN Portugal, no passado domingo, a socialista descreveu a rede criminosa como "repugnante", "uma forma de escravatura dos tempos modernos".
"Uma escravatura que acontece aos nossos olhos. De nós todos. Em que as pessoas são limitadas nas suas liberdades. São maltratadas. É-lhes ficado com os doumentos. Eram vítimas de maus-tratos. Portanto, isto é escravatura dos tempos modernos [...]. Interrogo-me como vivemos bem quando isto acontece debaixo dos nossos olhos", atirou Alexandra Leitão, acrescentando que o facto de haver elementos das forças de segurança envolvidos no grupo criminoso ainda causa mais repulsa.
Leia Também: Exploração de imigrantes? MAI abre 11 processos disciplinares a GNR e PSP













