E-mails mostram Epstein a aconselhar bilionário acusado de abuso sexual
- 16/12/2025
E-mails divulgados pelo Congresso lançam nova luz sobre o papel de Jeffrey Epstein numa tentativa de ajudar o bilionário Leon Black a abafar uma acusação de conduta sexual imprópria.
Jeffrey Epstein aconselhou o bilionário Leon Black a contratar antigos agentes para abordar uma mulher com quem teve um caso - e com quem estava a trabalhar num acordo de confidencialidade, após esta o ter acusado de abuso sexual.
A informação surge em e-mails trocados entre os dois magnatas em 2015, quando Epstein lhe escreveu, a 21 de setembro: "Escolha o método de entrega da mensagem, [seria a] minha escolha", começou por escrever, exemplificando, sem nomear, ex-agentes relacionados com a imigração ou com a Scotland Yard. "[Agentes] que podem bater à porta dela e apresentar [o caso]", completou.
Segundo explica a CBS News, os e-mails fazem parte da série de documentos divulgados pelo House Obersight Committee [Comité de Supervisão da Câmara, na tradução livre], organismo responsável pela mais recente divulgação de fotografias de Epstein com alguns bilionários - e outros documentos.
Segundo explica a publicação, Leon Black, fundador e ex-CEO da Apollo Global Management, soube então que Guzel Ganieva, uma modelo russa com quem tinha tido um caso extraconjugal durante seis anos, estava a preparar-se para viajar de Londres, no Reino Unido, até Nova Iorque, nos Estados Unidos, para o confrontar.
"Tem o mesmo tipo de indivíduos [disponíveis] em Nova Iorque se ela decidir voltar como parece. Eu preferiria antigos antes do FBI ou imigração. Um homem e uma mulher", escreveu ainda Epstein, de acordo com as informações agora reveladas.
Ganieva não foi mencionada por Epstein em nenhum dos e-mails, mas, segundo o que é explicado pela CBS News, detalhes na comunicação tornam claro que ele se estava a referir a esta mulher. Um porta-voz de Leon Black não contestou esta conclusão, enquanto um advogados de Ganieva recusou comentar à publicação.
Minutos depois do e-mail acima citado, Epstein terá enviado outro, no qual dá instruções adicionais à assistente e ao advogado de Black. Segundo é detalhado, Epstein escreveu que a assistente de Black "deveria criar uma conta de e-mail separada para esta correspondência", dado que esta servia "atualmente um servidor Apollo".
Nenhum outro e-mail no conjunto de documentos divulgado pelo Congresso aparenta abordar a disputa entre Black e Ganieva.
Que disputa é esta? E como acabou?
Leon Black e Guzel Ganieva conheceram-se numa festa em Nova Iorque em 2008, de acordo com documentos judiciais. Os dois terão mantido uma relação extraconjugal durante seis anos e meio tendo, depois a relação acabado com Ganieva a acusar Black de abuso sexual, alegações que o investidor, hoje com 74 anos, sempre negou. Os e-mails terão sido trocados enquanto os advogados de Black preparavam um acordo de confidencialidade.
O acordo foi assinado em 2015, com o bilionário a concordar a pagar-lhe 100 mil dólares por mês durante 15 anos, a perdoar uma dívida no valor de um milhão de dólares e a dar-lhe dois milhões de libras esterlinas para que ela legalizasse a sua situação no Reino Unido.
Anos depois, em 2021, Ganieva alegou que foi forçada a assinar o acordo e confidencialidade em causa, dizendo ainda que foi vítima de difamação depois de Black ter dito que lhe tela lhe tentou extorquir dinheiro ao ameaçar que ia tornar a sua relação pública.
Os advogados de Black afirmaram que o processo de Ganieva era "uma obra de ficção" e que ele fez pagamentos apenas para garantir o silêncio dela sobre o relacionamento.
Ainda em 2015, dois meses depois de o acordo ser assinado, Epstein voltou a enviar um e-mail a Black, procurando pagamentos adicionais pela consultoria financeira, segundo a CBS News. "Como sabes, há poucas coisas que eu não faria por ti, ou pelo menos tentaria fazer como amigo. E muita coisa que eu já fiz (tanto coisas conhecidas quanto algumas que precisarão permanecer desconhecidas)", escreveu Epstein.
A relação entre Epstein e Black foi escrutinada, incluindo pela Apollo, empresa que numa investigação interna concluiu, segundo a advogado de Black explicou à CBS News, que após revistos mais de 60 mil documentos, concluiu-se que "Black pagou a Epstein por assessoria tributária, nada mais, nada menos".
Black saiu da empresa dois meses depois de investigação interna ser concluída, em março de 2021. Alegou que o seu afastamento estava relacionado com questões de saúde.
À CBS News, o senador Ron Wyden, que há quatro anos investiga a relação económica entre Black e Epstein, disse: "Nunca achei os relatos de Black credíveis e cada nova revelação neste caso são levantadas questões ainda mais perturbadoras sobre o que realmente motivou os seus pagamentos a Epstein e se as investigações anteriores sobre o assunto esconderam a verdade."
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