Drogou centenas de mulheres durante entrevistas num ministério em França

  • 01/12/2025

Centenas de mulheres acusam o antigo diretor do departamento de Recursos Humanos do Ministério da Cultura de França de as drogar durante entrevistas de emprego. Os crimes terão sido perpetuados ao longo de um período de nove anos.

 

"Era o meu sonho trabalhar no Ministério da Cultura", contou Sylvie Delezenne, hoje de 45 anos, ao The Guardian.

Em 2015, a mulher de Lille, no norte francês, disse ter ficado entusiasmada quando o diretor de Recursos Humanos do ministério a contactou pelo LinkedIn, convidando-a a ir até Paris para uma entrevista de emprego.

Sylvie depressa aceitou e rumou à capital francesa, onde se encontrou com Christian Nègre, o homem que a tinha contactado. Juntos, foram até uma sala de reuniões, onde Nègre lhe ofereceu um café: "Numa situação de entrevista, eu nunca diria que não", explicou Delezenne, na altura com 35 anos.

A máquina do café situava-se num corredor de passagem, com várias pessoas, e foi a própria Sylvie que clicou no botão para um café com pouco açúcar - mas foi Nègre que agarrou no copo e o retirou na máquina. De seguida, virou-se para cumprimentar um colega e atravessou o corredor, e só depois entregou o café a Delezenne. Enquanto o fazia, comentou: "O tempo está maravilhoso; vamos dar um passeio?".

O local onde se encontravam era perto dos jardins das Tulherias (um parque na margem do Rio Sena, onde se encontram variadíssimas estátuas) e foi aí que Nègre conduziu Sylvie, levando a cabo uma entrevista que acabou por durar diversas horas.

A mulher, na altura desempregada, não levantou objeções: tinha deixado o antigo trabalho devido a questões de saúde e as suas poupanças não iam aguentar muito mais tempo.

"Mas comecei a sentir uma necessidade cada vez maior de ir à casa de banho", confessou. "As minhas mãos começaram a tremer, o meu coração a bater depressa, gotas de suor estavam a descer pela minha testa e eu sentia-me a ficar vermelha. Eu disse-lhe: 'Acho que vou precisar de uma pausa técnica'. Mas ele continuou a andar."

Sylvie aguentou e aguentou, até que não conseguiu aguentar mais. "Eu não estava bem. Pensei: 'O que é que eu posso fazer?"

Eventualmente, teve de se agachar, perto de um túnel que dava a uma ponte pedestre para atravessar o Sena. 

"Ele aproximou-se, tirou o casaco e disse: 'Eu tapo-te'. Achei estranho", confessou a mulher, que ficou devastada com o que estava a acontecer, pensando vez após vez que tinha arruinado a entrevista.

A caminho de casa, Sylvie notou que estava com uma sede anormal, acabando por beber vários litros de água. E ainda: "Os meus pés estavam tão inchados que estavam a sangrar da fricção com os meus sapatos".

Durante anos depois da entrevista, Delezenne culpou-se a si própria pelo que tinha acontecido, passando a evitar Paris e até mesmo a candidatar-se a empregos. "Tinha pesadelos, explosões de raiva. Não procurava por trabalho, porque achava que era uma inútil", revelou.

Sylvie não foi a única. Nègre drogou, pelo menos, 240 mulheres

Quatro anos depois, a polícia contactou-a. Os seus dados tinham sido descobertos numa lista, assim como fotografias das suas pernas. O que tinha acontecido em 2015, afinal, não tinha sido culpa de Sylvie, mas de Nègre, que, ao longo de nove anos, repetiu o processo com, pelo menos, outras 240 mulheres.

O modus operandi era sempre o mesmo: as mulheres eram convidadas para uma entrevista de emprego onde, rapidamente, o diretor de Recursos Humanos lhes oferecia café ou chá - que quase todas as entrevistadas aceitavam. A bebida, a certa altura, era misturada com um diurético forte e ilegal, que Nègre sabia de antemão que ia obrigar as mulheres a sentir uma necessidade avassaladora de urinar.

O homem sugeria, por isso, continuar as entrevistas em espaços exteriores, com passeios longos e longe de qualquer casa de banho. Muitas, em desespero (e à semelhança de Sylvie), aliviavam a necessidade em público, ou, se não chegassem a tempo a uma casa de banho, acabavam por sujar as roupas.

Os factos vieram a público em 2018, quando uma colega de Nègre denunciou o homem por tentar fotografar as pernas de uma mulher no escritório. O caso despoletou uma investigação policial, que acabou por encontrar uma lista intitulada "Experiências" no computador de Nègre. Lá, detalhava as datas em que tinha drogado mulheres e as reações das mesmas, incluindo, por vezes, fotos delas.

Em 2019, Nègre foi retirado do ministério e impedido de ter cargos públicos, sendo formalmente constituído arguidos por vários crimes, nomeadamente de drogar para agredir sexualmente. Durante os seis anos que passaram, o homem continuou a trabalhar no setor privado.

"Sob o pretexto de fantasia sexual, isto é sobre poder e domínio sob os corpos das mulheres… através da humilhação e do controlo", explicou Louise Beriot, a advogada de várias das mulheres alegadamente drogadas. 

O caso insere-se no tipo de "submissão química" visto também no caso de Gisèle Pelicot onde, recorde-se, a mulher foi drogada durante anos pelo próprio marido (de quem se divorciou entretanto), que depois convidava homens estranhos para a violar enquanto estava inconsciente.

Leia Também: Manon Garcia expõe banalidade do mal nas violações sem remorso do caso Pelicot

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2897517/drogou-centenas-de-mulheres-durante-entrevistas-num-ministerio-em-franca#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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