Ditador Franco volta a ser "produto viral" 50 anos após a sua morte

  • 18/11/2025

Segundo uma sondagem de outubro do Centro de Investigações Sociais (CIS), um organismo público que faz estudos de opinião em Espanha, 21% dos espanhóis considera que o período da diatdura foi "bom" ou "muito bom" para o país e que e 17,3% afirma que a democracia atual é pior do que o regime franquista.

 

Noutro estudo do CIS, de maio, 17% dos jovens entre 18 e 24 anos e 17,4% dos que têm entre 25 e 24 disseram que "em algumas circunstâncias", um "governo autoritário é preferível" a um regime democrático. São taxas, segundo o CIS, que aumentaram 10 pontos percentuais desde 2009.

Francisco Franco, o general que liderou o golpe de Estado de 1936 contra a regime republicano que havia sido eleito democraticamente e que governou depois Espanha em ditadura até à morte, em 20 de novembro de 1975, voltou a ser, em 2025, um "produto viral", como era há 50 anos, quando estava presente "em todo o lado": moedas, selos, televisão, estátuas, livros de estudo, calendários... Só que agora, é esse "produto viral" na Internet, sobretudo nas redes sociais, disse à Lusa a investigadora da Universidade Carlos III, de Madrid, Matilde Eiroa San Francisco, professora no departamento de Comunicação desta instituição e catedrática em História.

O Governo espanhol anunciou há um ano um programa de iniciativas com o título "Espanha em Liberdade, 50 anos", e escolheu precisamente os 50 anos da morte do ditador como referência para estas celebrações da democracia.

O objetivo tem sido, insiste o governo, explicar aos jovens a diferença entre viver num regime autoritário e uma democracia ou comparar as condições de vida de Espanha em 1975 e em 2025, com a morte de Franco a ter iniciado o caminho que levou, em 1978, à democracia e à modernização do país.

Um dos eventos agendados para o próximo dia 20 de novembro - em que não haverá qualquer cerimónia oficial ou iniciativa com membros do governo para assinalar a morte do diatador - é a conferência "Franco, 50 anos após a sua morte: o caudilho transformado em produto viral", a cargo de Matilde Eiroa San Francisco, na Universidade de León.

A investigadora disse à Lusa que a figura de Franco começou a ser recuperada na Internet em 2019, quando o corpo do ditador foi exumado da basílica do Vale dos Caídos, nos arredores de Madrid.

Nessa altura, começaram por circular "memes" (imagens) que "ridicularizavam o ditador", mas agora, "desde há dois ou três anos, no máximo, o que circula é de novo uma imagem de um Franco épico, juntamente com as figuras de Hitler e Mussolini", que estão a ser vistos como "ícones da cultura fascista", disse Matilde Eiroa San Francisco.

São conteúdos que "circulam nas redes sociais, não claramente associados a um partido ou grupo", mas que transmitem "muito a ideia de que Franco salvou a pátria, que com Franco se vivia melhor, que era um ditador que soube ver o perigo comunista, etc.", em linha com um "revisionismo histórico" iniciado no princípio deste século em Espanha, acrescentou a investigadora.

Matilde Eiroa San Francisco chamou a atenção para o "enorme perigo" destes conteúdos, partilhados sem contexto, com mensagens simplistas e enganadoras, em espaços "que frequentam os jovens", que têm pouco ou nenhum contacto com meios de comunicação social trandicionais, notícias ou documentários, e num país em que a guerra civil de 1936-1939 e a ditadura raramente foi estudada nas escolas e onde o trabalho de memória histórica se começou a fazer "muito tarde".

"Em Espanha é claríssimo que não se estudou a ditadura nas escolas. Há um enorme desconhecimento histórico por parte dos jovens e da geração dos seus pais, que tem agora 45 a 50 anos", disse a investigadora, que sublinhou que tudo isto coincide com um momento de "frustração com o acesso à habitação, não saber conviver com a imigração, de carências sociais ou dificuldades no mercado de trabalho" e que facilmente os jovens aderem "a propostas muito enganadoras".

A investigadora explicou que entre meados dos anos 1980 e início dos de 1990 Franco esteve "muito fora do debate político" em Espanha. Ressurgiu já no início deste século, quando se fizeram as primeiras exumações de cadáveres de valas comuns de vítimas da guerra civil e com o nascimento do movimento associativo em defesa da memória histórica.

Em paralelo, coincidindo com os governos de José Maria Aznar (Partido Popular, direita), entre 1994 e 2004, "começou a difundir-se um pouco a ideia do revisionismo histórico", sobretudo dos últimos anos da ditadura, que teriam "aberto caminho à democratizaçao e modernizaçao" de Espanha, acrescentou a investigadora.

Começou então "a recuperar-se a figura de Franco", num movimento que depois cresceu em reação à aprovação da primeira lei de memória histórica em Espanha, em 2007, e sobretudo com a aprovação da segunda, em 2022, a que se aliou o surgimento e crescimento de partidos de extrema-direira, tal como aconteceu noutrospaíses europeus, disse Matilde Eiroa San Francisco.

"Tudo isto fez com que a figura de Franco esteja muito no debate publico" e nas redes sociais, onde "se pôs muito na moda" a partir de 2019, acrescentou.

Segundo a investigadora, páginas na Internet de grupos e organismos que fazem a defesa do ditador (como a Fundação Francisco Franco, que o Governo está tentar ilegalizar), que nasceram em reação ao movimento associativo pela memória histórica granharam também protagonismo e dimensão a partir de 2019, depois de inicialmente, e durante anos, terem estado "circunscritas a um ecossistema digital de memória do franquismo".

A investigadora referiu ainda a influência de um processo tardio de memória histórica em Espanha, com os primeiros passos a chegarem só em 2007 e com uma "lei tímida".

Só agora, depois da legislação de 2022, se estão, por exemplo, a tentar tornar em museus espaços ligados à ditadura - como o Vale dos Caídos, onde quase tudo permanece inalterado desde 1975 - e continua a haver centenas de símbolos franquistas em espaços públicos, como placas, nomes de ruas ou brasões.

Franco, que liderou uma guerra e uma ditadura que deixou mais de 110 mil desaparecidos, segundo dados oficiais, foi, por exemplo, presidente da câmara honorário da cidade de Santander até há meses e o título foi retirado por exigência do Ministério Público.

A historiadora realçou o papel dos movimentos sociais e estudantis na passagem da ditadura para a democracia, mas sublinhou que a nova arquitetura política e do Estado resultou de acordos que envolveram as elites franquistas, naquilo que ficou conhecido como "a transição" espanhola.

Foi um processo lento em que, por exemplo, nunca se fez uma renovação total da polícia ou da justiça. "E isso claro que também influencia", afirmou.

Leia Também: Espanha desbloqueia 615 milhões de euros para apoio militar à Ucrânia

FONTE: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/2890081/ditador-franco-volta-a-ser-produto-viral-50-anos-apos-a-sua-morte#utm_source=rss-ultima-hora&utm_medium=rss&utm_campaign=rssfeed


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