Dezenas de ataques na Índia contra cristãos no Natal
- 26/12/2025
A.C. Michael, coordenador da organização não-governamental (ONG) no país, disse à agência espanhola EFE que durante as festas de Natal foram relatados ataques contra igrejas, escolas cristãs, grupos de canto natalício e vendedores de artigos de Natal, bem como atos de vandalismo em centros comerciais, incluindo a queima de árvores de Natal e outras decorações festivas.
Com perto de 30 ataques registados entre 21 e 25 de dezembro, o total de incidentes este ano pode situar-se entre os 730 e os 740, um número que tem crescido continuamente, segundo o responsável da UCF.
"Até mesmo celebrar o Natal usando um gorro de Pai Natal está a tornar-se difícil para os cristãos na Índia" e a situação "está a tornar-se um grande desafio para os cristãos viverem em paz ou praticarem a sua fé", acrescentou.
As organizações internacionais de direitos humanos associam a intensificação destes ataques à ascensão do nacionalismo hindu, apoiado pelo atual Governo.
Antes do Natal, foram registados 706 ataques contra a comunidade cristã, segundo a UCF, uma ONG que disponibiliza uma linha de apoio para pessoas que enfrentam ameaças de violência na Índia.
Os cristãos representam menos de 3% da população indiana, a maior do mundo com mais de 1,4 mil milhões de pessoas.
Os estados de Chhattisgarh e Uttar Pradesh registaram o maior número de incidentes, com 157 e 184 casos, respetivamente, até novembro.
O receio é menos acentuado em grandes cidades como Nova Deli, Bombaim, Bangalore, Chennai e Calcutá.
Uma parte significativa dos cristãos na Índia pertence às castas Dalit e grupos tribais, que, segundo relatos de organizações internacionais, estão entre mais expostos a acusações de conversão forçada e violência coletiva.
Os incidentes foram reportados em vários pontos do país e em alguns casos resultaram em detenções e pedidos de reforço da segurança por parte de organizações cristãs.
Segundo o Relatório Mundial sobre a Liberdade Religiosa de 2025, a Índia tornou-se um exemplo primordial de "perseguição híbrida", na qual a repressão legal imposta pelo Governo se combina com ataques e ações de multidões ligadas ao nacionalismo hindu contra minorias religiosas, especialmente cristãos e muçulmanos.
A UCF alertou que muitos ataques contra cristãos não são denunciados ou são simplesmente ignorados pela polícia.
"A polícia não se preocupa connosco. Protegem sempre os autores da violência, e esse é o problema", disse o coordenador nacional da UCF.
"São, na sua maioria, hindus, frequentemente ligados a organizações próximas do partido no poder", acrescentou o representante à EFE.
Desde que o Partido Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi, chegou ao poder em 2014, foram aprovadas ou reforçadas leis anticonversão em pelo menos 12 estados --- um desenvolvimento que os relatórios internacionais associam à relação da formação nacionalista com o grupo paramilitar de extrema-direita Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS).
Em resposta a esta situação, a UCF enviou hoje uma carta ao primeiro-ministro, relatando todos os casos e solicitando a sua intervenção imediata para proteger os direitos e a dignidade da comunidade cristã na Índia.
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