Da guerra de números à tensão na AR: Como a greve (quase) parou o país
- 12/12/2025
Portugal mergulhou numa greve geral na quinta-feira, dia 11 de dezembro, a primeira a juntar CGTP e UGT em mais de uma década. O impacto começou a sentir-se desde cedo, com as centrais sindicais a apontarem para uma adesão "massiva", mas pouco depois o Governo veio minimizar os efeitos - e aqui começou uma verdadeira guerra de números de uma paralisação que até foi notícia lá fora.
Contas da CGTP dizem que três milhões fizeram greve
Os primeiros balanços da CGTP, que começaram pelas 5h30, foram revelando que vários estabelecimentos estavam encerrados, desde escolas, passando por autarquias e até unidades de saúde.
Aliás, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, dizia, por volta da hora do almoço, que mais de três milhões de pessoas tinham aderido à paralisação. "A greve geral que hoje [quinta-feira] se está a realizar é uma das maiores de sempre, se não a maior de sempre", afirmou Tiago Oliveira.
Na opinião do sindicalista, tratou-se de uma "força inequívoca pela exigência de mais salários e mais direitos". "Temos uma grande, grande, grande greve", rematou.
Governo tinha outra perspetiva (e desvalorizou a adesão à greve)
Estas declarações surgiram pouco depois de o Governo ter desvalorizado a adesão à greve geral. O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, considerou que o nível de adesão era "inexpressivo", ao contrário do que diziam, então, os sindicatos.
"Esta parece mais uma greve parcial da Função Pública. O país está a trabalhar. A adesão à greve é inexpressiva", disse o ministro da Presidência, numa conferência de imprensa de balanço da greve, em Lisboa. "A esmagadora maioria do país está a trabalhar", rematou.
Pouco depois, veio o primeiro-ministro, Luís Montenegro, prestar declarações seguindo a mesma linha de pensamento: "O país está a trabalhar e há uma parte que está a exercer o seu legítimo direito à greve. A parte que está a exercer o seu legítimo direito à greve é a parte minoritária e a parte largamente maioritária está a trabalhar. Nós estamos também a trabalhar".
Apesar das declarações do Executivo, a verdade é que o Metropolitano de Lisboa esteve encerrado, várias dezenas de voos foram cancelados nos aeroportos nacionais - cerca de 400, segundo o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil -, os restantes transportes funcionaram com constrangimentos e, sobretudo, à boleia dos serviços mínimos.
Patrões alinharam-se com o Governo
Porém, a guerra de números não ficou por aqui. A meio da tarde, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) afirmou, em comunicado enviado às redações, que "não há empresas paradas" e que a "economia real está a funcionar".
"A falta de pessoas ao trabalho oscila na maior parte das empresas entre os 2% e os 3%, atingindo os 5% em casos pontuais, tendo os empresários contactados pela CIP afirmado que a maioria das ausências se deve a dificuldades nos transportes e não a adesões à greve geral", podia ler-se.
Trabalhadores fizeram-se ouvir: "A luta continua, o povo está na rua"
A par da greve geral, foram organizadas manifestações para mostrar o descontentamento dos trabalhadores relativamente à revisão laboral proposta pelo Governo. Por volta das 18h00, milhares de pessoas continuavam em frente ao Parlamento, em Lisboa, a entoar cânticos de protesto e elevando a voz cada vez que alguém se abeirava das janelas da Assembleia da República.
Finda a marcha que saiu da Baixa até ao Largo de São Bento, os manifestantes ouviram o discurso da CGTP e a maioria acabou por ali permanecer. "É o povo que manda no país, não é o Montenegro", podia ouvir-se de um manifestante. "A luta continua, o povo está na rua", gritavam outros.
No Porto, cenário similar: várias centenas de pessoas fizeram-se ouvir, na Avenida dos Aliados.
Dia culminou com momentos de tensão em frente à AR
Conforme as horas foram passando, o protesto junto ao Parlamento foi subindo de tom. Um dos manifestantes subiu as escadarias da Assembleia da República, enquanto outros arremessaram garrafas de vidro e queimaram objetos até por volta da hora do jantar.
Pouco antes das 21h00, os agentes da PSP avançaram, à semelhança do que já tinham feito antes, não só para tentar dispersar os manifestantes que continuavam concentrados em frente ao Parlamento, mas também para facilitar o trabalho dos bombeiros, que procuravam conter um foco de incêndio. Foram detidas seis pessoas.
Manifestantes ficaram em frente à Assembleia da República até ao anoitecer© Getty Images
O que se segue?
O futuro do pacote laboral proposto pelo Governo é incerto. Sabe-se que a UGT está disponível para se sentar à mesa com o Governo já a partir desta sexta-feira.
"Negociar significa podermos chegar a consenso nas várias matérias que temos em cima da mesa", salientou o secretário-geral da UGT, Mário Mourão, em declarações à SIC Notícias, na quinta-feira, lembrando que "se o Governo quer negociar, então, temos de nos aproximar de posições para chegar a bom porto".
Por sua vez, o Executivo também já se mostrou aberto ao diálogo: O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, deixou essa mesma garantia, mostrando-se confiante de que esta é a via que "dá resultados".
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