Crise e preços das casas estão a mudar bairros periféricos de Lisboa
- 18/10/2025
Hoje, à margem de uma homenagem, no bairro do Zambujal (Amadora), a Odair Moniz, o imigrante de 43 anos morto há um ano às mãos da polícia portuguesa, ativistas do movimento Vida Justa salientam que o ambiente nos bairros sociais tem sido afetado pelo persistente ataque às minorias, imigrantes e moradores nas zonas mais pobres.
"Queremos que as coisas melhorem, mas é difícil", admitiu Ricardo Sequeira, morador em Mem Martins, que hoje participou na homenagem a Odair Moniz, que incluiu um mural evocativo.
Para José Carlos, morador no Zambujal, o bairro tem acolhido novos moradores, vindos de zonas que não eram conotadas com a periferia.
"As rendas estão altíssimas e há pessoas que depois que acabam por ter necessidade de mudar para cá e que não estavam habituadas a ter que vir viver num bairro social", afirmou.
"Acho que essas pessoas depois acabam por ser testemunhas de que realmente o bairro não é nada de anormal e é uma zona perfeitamente normal onde se pode viver tranquilamente e criar uma família sem qualquer tipo de problema", salientou José Carlos.
Ricardo Sequeira admite que o tecido social de alguns bairros está a mudar graças à chegada de pessoas que não conseguem pagar as casas nos centros das cidades.
"Um bairro social é um sítio de mudança constante. Temos uma linha de Sintra ou Cascais, com a sua condição de dormitório, em que as pessoas não criam relação com o território", mas acabam por pressionar também o preço da habitação.
"Essas classes médias saíram dessa posição confortável de classe média, que era uma posição ilusória", porque "bastam algumas leis" para lhes "retirar essa ilusão de segurança", afirmou Ricardo Sequeira.
O "privilégio de classe pode ser retirado muito facilmente e é o que estamos a reparar, hoje em dia, com o aumento dos preços da casas ou com a constante estigmatização de vários tipos de imigrantes", acusou o dirigente.
E "mesmo a questão da nacionalidade é uma questão de legitimidade que é concedida, mas também pode ser retirada, como mostra a nova lei", salientou ainda o ativista.
Por isso, adivinha Ricardo Sequeira, poderá assistir-se a "mais visibilidade dos problemas dos bairros" no futuro, porque "aparecem outras pessoas que aqui não estavam".
"Não são negros, não são imigrantes e começam a viver nos bairros e, aí, pode ser que os políticos liguem" às periferias, acrescentou ainda.
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