Crianças têm elevada literacia económica, revela estudo
- 12/12/2025
Intitulado "Vivências familiares durante a crise do custo de vida -- Olhares das crianças sobre os impactos no bem-estar", a investigação é estruturada nos desafios económicos vividos desde 2020 e marcados por um aumento do custo de energia e alimentos e pressões inflacionárias, agravadas pela invasão à Ucrânia.
Numa amostra de 236 crianças, com um média de idade de cerca de 15 anos, de dez escolas de cinco concelhos do distrito de Coimbra, 83% ouviram falar da crise, segundo o coordenador do estudo, Manuel Menezes.
"Isto vai contrariar discursos onde dizem que as crianças encontram-se alheadas, que tem uma parca literacia financeira e económica. O que o nosso estudo demonstrou claramente é que eles têm uma elevada consciencialização, uma elevada literacia económica", afirmou.
A maioria das crianças que participou no estudo, que é promovido pela EAPN-Portugal (Rede Europeia Anti-Pobreza), é portuguesa, mas há também crianças de outras nacionalidades, como brasileiras ou francesas.
Segundo o coordenador, o grupo é "relativamente privilegiado em termos de capital educativo, de capital social e de património", mas estas características "não impedem, no entanto, a identificação a espaços de alguns sinais de vulnerabilidade que persistem em segmentos específicos".
Manuel Menezes apontou que a "maioria não reporta redução de despesas", mas há algumas sinalizações: 10,3% de dificuldades no pagamento da energia e 20,8% em atrasos em rendas ou prestações.
"Esta menor representatividade dos impactos materiais não nos pode levar a concluir que os impactos não foram significativos. Também pode ser interpretada como capacidade de resiliência das famílias", afirmou.
A amostra sinaliza ainda uma "ansiedade geracional", com as crianças a terem uma "preocupação significativa" com o seu futuro. "Mais de 50% das nossas crianças evidenciaram esta ansiedade, receios com questões económicas, financeiras, e receios com a doença e a morte", explicou o coordenador, para quem o apoio psicossocial é uma questão que deve ser tomada em consideração.
A investigação indica que as crianças "aspiram uma estabilidade financeira", mas 18% priorizavam a saúde própria e familiar. Entre as crianças, 13% preocupam-se com problemas globais, o que evidencia, segundo o docente, "uma maturidade emocional e cívica".
Para Manuel Menezes, o estudo deixa a mensagem que escutar as crianças "é um imperativo ético" e uma "ferramenta essencial que enriquece a compreensão dos diferentes fenómenos sociais".
"O modo como elas percecionam o seu bem-estar e das suas famílias é o barómetro da saúde e da coesão das nossas sociedades. Não podemos minorar este facto", apontou.
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