Coreia do Norte quer ambições nucleares do Japão impedidas "a todo o custo"
- 21/12/2025
O comentário de Pyongyang, veiculado pela agência noticiosa oficial KCNA, foi suscitado por declarações do elemento da equipa da primeira-ministra do Japão, a nacionalista Sanae Takaichi, que contradizem a doutrina oficial de renúncia às armas nucleares.
"Penso que deveríamos possuir armas nucleares", afirmou o membro do gabinete de Takaichi em declarações divulgadas na quinta-feira pela agência japonesa Kyodo, que não o identificou, mas disse estar envolvido na definição da política de segurança.
"No final, só podemos contar com nós próprios", acrescentou o elemento do governo do Japão, um aliado dos Estados Unidos.
As declarações divulgadas pela Kyodo foram criticadas pela Coreia do Norte, que considerou que revelam a ambição do Japão de possuir armas nucleares.
Tal ambição "deve ser impedida a todo o custo, pois provocará uma grande catástrofe para a humanidade", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte num comunicado citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
"Não se trata de um lapso nem de uma afirmação temerária, mas reflete claramente a ambição de longa data do Japão de uma nuclearização", considerou.
Para Pyongyang, caso o Japão se dotasse de armas nucleares, "os países asiáticos sofreriam uma horrível catástrofe nuclear e a humanidade enfrentaria uma grande catástrofe".
O comunicado não menciona o próprio programa nuclear da Coreia do Norte, que realizou vários ensaios de bombas atómicas em violação das resoluções da ONU.
Pyongyang afirma que o seu arsenal nuclear é uma dissuasão necessária face ao que considera ser a ameaça militar dos Estados Unidos e aliados, como o Japão.
O Japão é o único país que sofreu ataques nucleares, quando os Estados Unidos lançaram duas bombas em Hiroshima e Nagasaki em 1945.
Embora o membro do gabinete da primeira-ministra japonesa tivesse referido que estava a expressar uma opinião pessoal e que não discutira a questão com Takaichi, os comentários foram criticadas pela oposição.
O Partido Democrático Constitucional (PDC), a maior força da oposição, exigiu na sexta-feira a sua demissão.
"É extremamente grave que alguém com tais opiniões seja próximo da primeira-ministra", afirmou o líder do PDC, Yoshihiko Noda, citado pela agência de notícias espanhola EFE.
Perante a polémica, o Governo japonês reafirmou que a postura antinuclear do país não se tinha alterado.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Toshimitsu Motegi, afirmou na sexta-feira que a missão de Tóquio era "liderar os esforços da comunidade internacional para alcançar um mundo livre de armas nucleares".
O porta-voz governamental, Minoru Kihara, também garantiu que o Japão mantém os conhecidos "três princípios não nucleares", que consistem em não produzir, não possuir e não permitir armas nucleares no país.
Estes princípios foram declarados em 1967 pelo então primeiro-ministro Eisaku Sato e posteriormente ratificados pelo parlamento, segundo a EFE.
No entanto, Kihara tinha admitido em novembro que o Partido Liberal Democrático (PLD), no poder, pretendia debater em 2026 uma possível revisão dos princípios sobre o nuclear, devido a uma mudança acelerada no ambiente de segurança.
O Japão perceciona, há vários anos, um ambiente de segurança mais complexo que considera ter-se agravado com a aproximação entre a Rússia e a Coreia do Norte, a principal ameaça regional.
Takaichi comprometeu-se recentemente a antecipar o objetivo do país de aumentar o gasto em defesa até 2% do Produto Interno Bruto (PIB).
A polémica coincide ainda com a deterioração das relações entre Tóquio e Pequim, depois de Takaichi ter afirmado, em novembro, que um eventual ataque chinês contra Taiwan poderia justificar uma intervenção das Forças de Autodefesa do Japão.
Leia Também: Coreia do Sul lamenta agravamento da crise com a Coreia do Norte













