Colégio cancela aluguer de auditório para congresso de grupo extremista
- 07/11/2025
O congresso do grupo de extrema-direita Reconquista, que ia acontecer no auditório do Colégio Luso-Francês, no Porto, foi cancelado, um dia depois de ter sido divulgado o local em que o autointitulado III Congresso do grupo iria acontecer.
Até à notícia do Expresso, que avançou a informação, o espaço do congresso só era do conhecimento dos organizadores e dos responsáveis que tinham alugado o espaço.
Segundo conta o semanário, o movimento preencheu um formulário para fazer uso do auditório, descrevendo o congresso como um "evento cultural", porque o espaço não permite a realização de atividades políticas.
Aliás, em junho deste ano, o Livre tinha tentado reservar o espaço e o pedido foi recusado por esta mesma razão.
Na realidade, diz o semanário, o congresso tratava-se de um evento de cariz ideológico, de um grupo que defende a 'remigração' (a expulsão forçada de imigrantes de um país) e acredita na teoria da "grande substituição", na qual imigrantes africanos e do Médio Oriente substituem, pouco a pouco, a população europeia.
Terá sido devido à verdadeira natureza do evento, que Nuno Santos, o responsável pelo auditório, construído há três anos, decidiu voltar atrás na decisão. Em comunicado, afirmou que o evento foi cancelado "por se tratar de um evento político, não respeitando o regulamento em vigor" - o que, aliás, é contra aquilo que "foi contratualizado" com os organizadores quando o contrato foi assinado.
No dia anterior, na quinta-feira, Nuno Santos assegurava ao mesmo jornal que não iria cancelar o evento "devido ao contrato assinado", frisando que tinha "obrigações". Dizia ainda que o congresso seria "à porta fechada" apenas para "quem tem bilhete".
"Não temos qualquer filiação ou ligação com essa organização. Mas estamos num país livre e estamos só a rentabilizar o espaço", disse, admitindo que não reconhecia o nome do movimento que estava a alugar o espaço e que desconhecia os seus ideais. "Só tivemos conhecimento que eram eles há uma semana. E não tivemos tempo de analisar."
No fim, sabe-se agora, acabaram por cancelar o evento.
O congresso, que tinha data marcada para este sábado, dia 8 de novembro, contava com nomes notórios da direita radical dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Irlanda e França.
Entre os oradores portugueses, estava o antigo deputado e subsecretário de Estado da Cultura de Cavaco Silva, António de Sousa Lara. O ex-governante ficou conhecido por vetar a candidatura do livro O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, a um prémio de literatura. Na altura, disse que a obra era um atentado contra a moral cristã.
Já o ano passado, também devido ao congresso do movimento, se tinha gerado alguma polémica. Na altura, o Reconquista alugou a sede da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), o Fórum Lisboa, para realizar o evento. Pouco depois, a AML afirmou que o grupo se tinha feito passar por um coletivo de jovens do Chega, que diziam estar a organizar uma conferência sobre "relação entre modernidade e coletivismo e os seus efeitos na sociedade portuguesa".
O fundador e presidente do grupo, Afonso Gonçalves, negou a acusação, dizendo que a AML tinha entendido, já demasiado tarde, que "tinha sido um erro aprovar a realização do evento" e que, "para se legitimarem" estavam a usar esta razão.
Sobre o movimento, Afonso Gonçalves assume que é "nacionalista, tradicionalista e futurista", recusando "a ideologia neonazi que foi falsamente atribuída ao movimento".
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